- Introdução
Este
trabalho tem como objectivo dar a conhecer os conceitos de negociação e gestão de conflitos e as tácticas e estratégias da
negociação em contextos africanos. Também se pretende reconhecer a intervenção
das terceiras partes e alguns erros mais comuns sobre a negociação.
Em
relação à gestão de conflitos pretende-se definir o que são conflitos, a
análise de uma situação conflitual e quais as situações que geram conflito.
Far-se-à também uma abordagem das estratégias fundamentais de gestão de conflitos
sem esquecer os efeitos positivos e negativos de um conflito.
O
presente trabalho surge no âmbito da cadeira de Perspectiva Africana dos
Fenómenos Psicológicos, com isso, a análise vai se enquadrar na realidade
africana. É uma breve pesquisa que permitirá uma reflexão em relação a
interpretação e percepção dos fenómenos em África e, para a realização desse
trabalho recorreu-se à revisão bibliográfica.
2.
Revisão
de Literatura
2.1.Negociação
A
negociação ocorre nos mais diversos planos da vida de um indivíduo, a nível
pessoal, económica, social e organizacional. Trata-se do processo através do
qual as partes que se encontram em disputa tentam alcançar uma decisão conjunta
nos assuntos em questão. A negociação faz parte do nosso dia-a-dia: O comprador
negoceia com o vendedor, os trabalhadores e a administração de uma empresa
negoceiam as condições de prestação de serviços, um jovem negoceia a sua hora
de regresso a casa (Vasconselos, 1996).
A
necessidade de negociar está presente no nosso dia-a-dia podendo surgir a
qualquer momento. Apesar das negociações se realizarem diariamente não é fácil
fazê-las bem, onde as estratégias conhecidas de negociação podem deixar as
pessoas insatisfeitas, exaustas ou indiferentes. Perante este dilema existe duas
formas gerais de negociar (flexíveis ou
inflexíveis).
O
negociador
flexível tenta evitar o conflito pessoal o que por vezes o pode fazer
sentir explorado. O negociador inflexível encara qualquer situação como um
confronto de vontades, no qual assume uma posição de querer ganhar, o que pode
dar origem a uma resposta igualmente agressiva afectando assim a sua relação
com a parte contrária.
Muitas vezes a negociação nas sociedades africanas se descreve
como um momento de interacção e, não só envolve as relações sociais, como
também se subscreve nas tradições e valores culturais e até aos espíritos de
quem negoceia. Um exemplo prático de negociação foi o apartheid na África do Sul. Portanto, a
transição da África do Sul tem uma particularidade exemplar na negociação, é o
facto dela ter sido no seu geral pacífica, demonstrada nas eleições gerais de
1994 são muitas vezes referidas como o símbolo mais poderoso da negociação
pacífica na África do Sul. Aliás, em África, as primeiras eleições dos países
africanos são demonstração clara de negociação, pois, geralmente, chega-se à
essa fase após uma fase de conflitos intensos.
Moçambique, sendo um país africano não foge à regra, as primeiras
eleições multipartidárias de 1994, também constitui fruto de um longo processo
de negociação entre a Frelimo e a Renamo.
Resta
também referir que a negociação é um processo complexo que ocorrer no
quotidiano de todos, consoante as origens culturais africanas em que cada
pessoa está inserida. De referir que sem comunicação não há negociação, é um
processo de comunicação recíproco com o intuito de alcançar uma decisão comum.
Não é fácil comunicar, mesmo entre as pessoas com valores e experiências
comuns.
2.2.Conceitos-chave da
Negociação
Segundo
Robbins (2007), para se conduzir uma negociação com efeitos positivos que vão
de encontro ao que pretendemos inicialmente, temos de ter uma ideia dos
conceitos chaves da negociação.
Melhor
alternativa para um acordo negociado:
Este conceito resume a alternativa mais favorável que os negociadores dispõem
caso não alcancem um acordo. Por norma define os limites de resistência aos
quais estamos dispostos a chegar.
Ponto
de resistência: Basicamente o ponto de
resistência representa o limite que os negociadores não estão dispostos a
ultrapassar, por exemplo, é o salário abaixo do qual o candidato a um emprego
prefere não aceitar. Por norma o ponto de resistência é ocultado por ambas as
parte mas pode ocorrer a sua divulgação durante a negociação
Nível de aspiração: é o resultado que o negociador deseja realmente atingir. O nível de aspiração deve ser realista para não induzir o negociador a apresentar ofertas irrealistas. O nível de aspiração é determinado por vários factores, nomeadamente a percepção dos negociadores, a personalidade de ambos, etc.
Oferta
inicial: pois ela constitui um elemento crucial
em qualquer negociação. Por norma a oferta inicial tem uma grande influência
decisiva nos termos finais do acordo. Muitas vezes associado a oferta inicial
fica associado um efeito designado por ancoragem, porque quando a incerteza se
instala na negociação de um acordo, a oferta inicial funciona como uma âncora.
Posteriormente o processo negocial é desenvolvido em torno dessa proposta.
2.3.Pregação de uma
Negociação
Caetano
(2007), o acto negocial pode
ser visto em três etapas fundamentais:
Preparação: ela
envolve três áreas principais: as características do conflito, o negociador e a
contra parte. A negligência de um negociador devido a escassez de tempo ou o
excesso de confiança pode sofrer graves consequências de perda.
Negociação:
o contexto da negociação integra o componente social e o componente físico em
que ela ocorre. Para estudar o componente físico temos de identificar variáveis
como: o local da negociação e sua organização e os limites de tempo que a
condicionam.
Efectivação do Acordo:
ocorrer quando ambas partes encontram-se em acordo e termina as negociações.
Nesta etapa podemos concluir que o processo de comunicação ocorrer de maneira
clara e precisa pois sem isso não se conseguiria chegar a uma conclusão comum.
2.4.Estratégias
e Tácticas Negociais
De
acordo com Neves & Fernando (1992), as estratégias são as intenções mais
gerias das tácticas negociais. As tácticas por sua vez são mais específicas, de
mais curto prazo, que ambas as partes executam para evidenciar as estratégias.
As principais quatro estratégias são:
- Obter um acordo final próximo do ponto de resistência do oponente;
- Aumentar a amplitude positiva da negociação induzindo o opositor a baixar o seu ponto de resistência;
- Transformar a amplitude negativa em positiva, impedindo o opositor a baixar o seu ponto de resistência;
- Aliciar o oponente, levando-o a acreditar que um determinado resultado é o melhor que ele pode alcançar.
Estas
quatro estratégias vão implicar uma actuação sobre as percepções da parte
opositora, para que fundamentalmente, seja feita uma recolha e gestão da
informação. Quando os dois negociadores actuam de modo igual, a comunicação
torna-se complexa e podem surgir situações conflituosas.
2.4.Intervenção
de Terceiras Partes
Por
vezes os processos negociais entre as partes intervenientes fracassam. Nestas
situações pode ocorrer a intervenção de terceiras partes para a resolução desse
fracasso podendo-se chegar a um acordo. Normalmente a intervenção de terceiros
tem de ser aceite por ambas partes e não só uma delas. Existem vários tipos de
intervenção que podem ocorrer, nomeadamente um papel inquisitorial, onde
ocorrer a filtragem de posições onde se tenta obter uma solução satisfatória
para ambas as partes.
Outro
tipo de intervenção em um papel impulsionador, onde é diagnosticado rapidamente
a fonte do conflito que impede a negociação. Neste caso se não for acordado
nenhuma solução a terceira parte que tem o papel impulsionador impõe uma
solução.
A
intervenção arbitral também ocorre muito frequentemente quando ambas as partes
não chegam a um acordo. A arbitragem em questão vai ter controlo sobre a
decisão final depois de ouvir ambas as partes envolvidas e também se envolve no
próprio processo da negociação.
Resta
então salientar a intervenção por mediação. O mediador vai ter a função de
facilitar a interacção, apoiar ambas as partes no processo comunicacional e
remover barreiras entre eles. Este tipo de papel exige uma grande
imparcialidade dos terceiros intervenientes, seno muitas vezes denominado como
uma “negociação assistida (Pina et al., 2004).
Em
África, geralmente os objectivos gerais da negociação se subscrevem na
contenção da violência física, especialmente através de acordos de paz
nacionais, além de criar confiança e consolidação da fé e reforço da tolerância
política e social. A reconciliação, a estimulação do desenvolvimento como um
meio a longo prazo para prevenir conflitos, também é uma outra face de
objectivos da negociação. A negociação em África manifesta por eleições visam remover
algumas das principais causas do conflito.
3.
Gestão de Conflitos
Conflitos
são situações que se caracterizam por uma escassez de recursos onde se associa
um sentimento de hostilidade. Também podemos definir o conflito como sendo o
processo que se inicia quando uma parte percepciona que a outra o tem afectado
negativamente ou está com intenções de o fazer em algo importante. Ele faz
parte da nossa vida pessoal, social, empresarial.
O
conflito é sustentado pelas acções e reacções de ambas as partes, ou seja pela
interacção entre ambas. Pelo menos uma das partes percepciona que a
situação se caracteriza pela incompatibilidade de objectivos, metas,
valores, e que tal pode dificultar ou inviabilizar o que pretende (Pina
at al, 2004).
3.1.Situações
ou Fontes de Conflitos
Para
se fazer uma boa gestão de conflitos e também os prevenis é necessário conhecer
as situações que têm tendência a gerar conflitos. A interdependência de funções
são das situações chave que dão origem a conflito, pois se o trabalho de uma
pessoa esta dependente do trabalho de outra é bastante provável que surjam
conflitos (Robbins, 2007).
Outra
situação que se deve referir é a indefinição das “regras do jogo”. Quando se instala
a ambiguidade quer seja em relações profissionais como pessoais, dá origem a interpretações
às quais as partes intervenientes podem não estar de acordo.
Igualmente
geradora de conflitos está a situação de interdependência de recursos. Em todas
as situações em que os recursos são escassos em relação ao desejado vai ocorrer
uma discordância em como reparti-los. O conflito esta presente em situações
onde existe um sistema de recompensas competitivas pois basicamente se verifica
que para um indivíduo ganhar e ser premiado o outro não o será.
Possivelmente
a situação mais geradora de conflitos será a mudança. O ser humanos é um animal
de hábitos e nem sempre encara a mudança como algo positivo ou desejável, pois
a mudança provoca ansiedade. Ansiedade essa que depois se vai traduzir em falta
de segurança e num esforço adicional para se adaptar à nova realidade. Podem igualmente
surgir situações de conflito quando a mudança é imposta ao indivíduo. Basicamente
o receio da mudança é devido a incerteza do futuro, perda de privilégios adquiridos
e que ela constitua uma crítica.
A
gestão de conflitos na África é conduzida através duma combinação da abordagem
estrutural que assume que as causas de conflito são estruturais e profundas.
Uma paz duradoura, portanto, exige mudanças estruturais nas sociedades.
Exemplos de tais características estruturais são: o sistema eleitoral (Pina at
al, 2004). A abordagem psicológica: um elemento crítico da gestão de conflitos
é a mudança de atitudes. No início da maior parte dos processos de negociação,
prevê-se uma fase Track II, a fim de ultrapassar os estereótipos negativos e
humanizar os adversários. Mais tarde no processo, o mesmo é dirigido para a
criação de confiança e consolidação da fé, e em última instância, centrasse na
reconciliação.
3.2.Estratégias
Fundamentais na Gestão de Conflitos
Robbins
(2007), neste estudo sobre a gestão de conflitos podemos referir as cinco
principais estratégias de gestão de conflitos, salientando as vantagens e
desvantagens de cada uma. Uma das cinco estratégias é o evitamento, onde um
indivíduo opta por não entrar na divergência e evita a todo o custo a
confrontação. A principal vantagem deste tipo de estratégia e o ganho de tempo
para resolver o divergência. A desvantagem é que se trata de uma solução
provisória que não ataca o problema directamente.
Quando
o problema é trivial e impossível de concretizar os interesses de ambas as
partes é uma estratégia a ter em consideração. A acomodação também é uma
estratégia de gestão de conflito com a vantagem de encorajamento de cooperação
futura mas a desvantagem de poder ocorrer o fracasso em lidar com o problema
subjacente. Não se aconselha este tipo de atitude quando os problemas são complexos e difíceis. Um
exemplo em que este tipo de estratégia e
apropriada é quando existe o receio de a outra parte não ter uma acção
ética. Uma estratégia muito conhecida na gestão de conflitos é a
competição/dominação, onde o próprio nome da estratégia define o tipo de
comportamento.
A
vantagem deste tipo de atitude é que pode estimular a criatividade, a rapidez e
energizar as pessoas. A grande desvantagem é que cria ressentimentos da outra
parte interveniente, o que pode dificultar negociações futuras. Este tipo de
estratégia não é aconselhável em ambientes abertos e participativos e quando o assunto é
complexo. No entanto é adequado quando uma decisão que não agrada ambas as
partes tem de ser tomada e o prazo limite de tempo está a expirar.
O
compromisso permite soluções rápidas não gerando perdedores em ambas as partes.
Por norma, com este tipo de estratégia, nenhuma das partes fica satisfeita
ocorrendo o abafamento de ideias criativas para os problemas. O compromisso
torna-se apropriado quando ambas as partes intervenientes detêm poderes
equilibrados e quando é necessário uma solução temporária para um problema complexo.
É desaconselhável quando a questão a ser resolvida necessita de uma abordagem
colaborativa. Resta então referir a quinta estratégia de gestão de conflitos
que será a colaboração. Neste tipo de situação, vai acontecer ambas as partes
lidarem com os problemas e não com os sintomas. Vão lidar com interesses e não
posições, o que é uma vantagem da
colaboração.
O único inconveniente a salientar é o tempo excessivo que é necessário neste
tipo de situações. Quando se tem de tomar uma decisão a longo prazo e os
assuntos são complicados é uma estratégia adequada, mas se o tempo é escasso e
a outra parte actua de um modo competitivo é uma estratégia a não ter em
consideração.
3.3.Efeitos
Positivos e Negativos do Conflito
Robbins
(2007), actualmente a abordagem ao Conflito é positiva, pois é encarado como um
factor de mudança e um estimulador a criatividade e à inovação. A abordagem
tradicional ao conflito é exactamente o oposto. É algo negativo, assustador e a
evitar. Tanto uma abordagem como a outra são aceitáveis e referem aspectos
positivos e negativos do conflito.
Aspectos positivos do
conflito
- Gera motivação e energia para executar melhor as tarefas;
- Facilita a inovação, a mudança e a adaptação;
- Torna o clima organizacional mais entusiasmante;
- Reduz a preguiça social;
- As pessoas aprendem através do confronto de ideias, o que pode melhorar a qualidade das decisões;
- Permite libertar tensões.
Aspectos negativos do
conflito
- Induz cada adversário a fazer atribuições hostis ao outro;
- Provoca impasses e atrasos no processo decisório;
- Provoca decréscimo nos níveis de satisfação;
- Reduz o empenhamento organizacional;
- Destrói a moral dos grupos e organizações;
- Suscita comportamentos retaliatórios e irresponsáveis
4.
Conclusão
A vantagem de
negociar em território próprio é que o negociador pode interpretar um papel
dominante, enquanto que um negociador na situação de convidado, vai ter um
estatuto subordinado o que pode induzir a um comportamento menos afirmativo.
Muitas vezes ambas as partes em negociação optam por um território No estudo da
componente social, as variáveis identificadas são: a presença de audiência, a
existência de uma terceira parte e o papel que ela desempenha e o número de
partes envolvidas na negociação.
Tanto
em África como em qualquer parte do mundo, a questão principal em relação às
audiências durante o processo negocial é o seu impacto nas estratégias que os
negociadores utilizam e a sua influência no desfecho do processo. A existência
de uma terceira parte, independente de ambas as partes, na estrutura social da
negociação vai influenciar o decorrer da negociação e até mesmo a efectivação
do acordo.
O
número de partes envolvidas na negociação também tem um papel na negociação. O aumento
do número de partes envolvidas no processo pode ser um factor impeditivo para
se chegar a um acordo. A dificuldade de identificar os indivíduos em grupos grandes
e mesmo quando são identificados, é necessário recorrer a estratégias de cooperação
e competição para se conseguir manter uma identidade social comum. Neutro, o
que vai suprimir o estatuto de dominador e de dominado.
As
tácticas integrativas ocorrem quando o problema é em torno de um bolo de
recursos não expansível, que é necessário dividir. Vai ocorrer por ambas as
partes uma comunicação franca e aberta sobre as suas preferências e opções.
Ocorrer também a troca de ideias em relação a soluções viáveis e possíveis. A
predisposição de ambas as partes para aceitar soluções mutuamente satisfatórias
é a condição para que a negociação integrativa ocorra.
Por
norma primeiro ocorre a identificação do problema, seguidamente da definição do
mesmo. Ao decorrer o processo negocial os negociadores vão descortinando as
suas verdadeiras necessidades e interesses. Por fim após terem acordado uma
definição do problema e compreendido os interesses e objectivos mútuos criam
soluções alternativas para a satisfaçam de todos, avaliando assim soluções
apropriadas para ambos chegando a um acordo.
5.
Referências
Bibliográficas
Pina,
I. e tal. (2004). Manual de Comportamento Organizacional, editora RH, 3ª
Impressão
Neves
A. & Fernando, O (1992). Comportamentos de Sucesso – Psicologia aplicada
à Gestão, editora Macgraw-Hill de Portugal
Caetano,
A. (2007). Gestão de Recursos Humanos – Contextos, processos, técnicas, 3ªedição
RH editores 2007, ISBN:
Robbins.,
S. P. (2007). Fundamentos do Comportamento Organizacional, 7ª edição
2007, ISBN
Vasconselos,
J. (1996), Negociação, Difusão Cultural 1996, ISBN.
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