ELIAS RICARDO SANDE

ELIAS RICARDO SANDE
PSICOLOGO SOCIAL E DAS ORGANIZACOES

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Analise de Fenomenos na Perspectiva Africana: Estudo de caso



1. Introdução
Esse trabalho resulta de uma análise de um caso observado no estágio, numa visita de acção social no distrito de Manhiça. Onde foi nos apresentado uma situação em que uma adolescente foi entregue pelos próprios pais à um senhor idoso como a legítima esposa. O trabalho surge no âmbito da cadeira de Perspectivas Africanas dos Fenómenos Psicológicos, com objectivo de interpretar o fenómeno apresentado numa visão africana.
A África é o continente com mais civilizações antigas, com as culturas mais diversas, repleta da enorme diversidade que a caracteriza, tudo isto naturalmente se reflecte nas tradições que dizem respeito ao casamento. Embora muitas das tradições possam não ser aceites na nossa sociedade, existem algumas ou até mesmo o seu simbolismo que podem sempre ser incorporadas no vosso casamento.
Em muitos casamentos africanos não tem certidões passado e em alguns países nem cerimónia religiosa. Nesses casamentos não há certidões, assinaturas e nem rituais religiosos para consagrar o casamento. O homem presenteia os pais da mulher com base em um rol de pedidos, elaborado para confirmar seu interesse em fazer parte da família. Tradicionalmente, quando essas condições são aceitas, a mulher passa a ser tratada pela sociedade como esposa, mesmo que, do ponto de vista formal, não haja casamento. Essa espécie de aprovação familiar é levada a sério em muitos países africanos.
2. Apresentação do Caso
F é uma adolescente de mais ou menos 12 anos de idade que foi entregue pelos pais à um senhor de cerca de 60 anos de idade. O facto ocorre devido uma dívida contraído pelos pais e que já não conseguiam efectuar o devido pagamento. Cansados de promessas falsas, os pais resolveram oferecer o credor a sua filha como forma de estancar a dívida. A adolescente refere que não está com o senhor não pelo amor, ela é vítima de negócios dos pais. A adolescente se encontra num estado de gravidez do sue suposto marido. A celebração do casamento desses dois se deu após o consentimento do credor e dos pais, sem ter consultado a adolescente. A adolescente alega que obedece cegamente os desejos dos pais e do marido que lhe foi atribuído. O caso é do conhecimento do régulo e de outras estruturas locais, estando assim reconhecido à nível da comunidade como sendo marido e mulher.
3. Análise do Caso
O africano é dotado de uma personalidade típica que o diferencia de outros povos. É oportuno afirmar que muitos intelectuais africanos promovem a consciência dos africanos sobre a importância de preservar as tradições culturais como valores nobres que devem ser transmitidos de geração em geração (Modelli, 2009).
A maioria das regiões africanas que celebram o casamento tem por base uma premissa: a família. Um casamento africano é isso mesmo: a celebração do conceito da família através da união de duas pessoas; a junção de duas famílias e por vezes até de duas tribos. África é o continente da diversidade apresenta muitas religiões e muitas crenças.
Tal como no restante do mundo, o casamento em África é um acontecimento que envolve a família e a junção de duas pessoas. Existem muitas tradições relativas ao casamento em África e nenhuma é igual a outra. Em muitos locais de África, as mulheres são ensinadas desde crianças a obedecerem seus maridos e seus pais, principalmente o pai. Em algumas tribos é comum pessoas mais velhas podem casar com adolescentes, desde que haja consentimento entre o homem e a família da referida adolescente.
Deste cenário, a situação vivida por F encontra enquadramento nessa abordagem, estando a cumprir um desejo dos pais e obedecendo cegamente ao marido e vítima de uma negociação. Sem amor, ela foi obrigada a casar com alguém mais velho.
O facto curioso, é que a própria comunidade aprovou esse casamento, mostrando que trata – se de um fenómeno comum naquela comunidade.
Na visão de Modelli (2009), muitos casamentos são negociados pelas duas famílias, faz – se acordos entre eles relativamente ao destino das suas crianças. Usualmente uma criança está destinada a casar com alguém à escolha dos pais. Sendo assim, no casamento as mulheres são casadas com homens que não conhecem, usualmente muito mais velhos que elas, situação que F vive.
Nas tradições africanas, o casamento não tem nada a ver com amor. O marido da mulher depende dos pais, e quando casada, uma mulher está sob a jurisdição do seu marido, dependendo do tipo de contrato celebrado. O propósito do casamento, em geral, é garantir a sucessão familiar, para que os espíritos dos mortos sejam honrados.
Neste sentido, é importante que o foco tradicional na análise dos fenómenos sociais seja  substituído por uma aproximação mais dinâmica na qual o foco é abordado rumo à análise das tradições culturais (Holdstock, 2000).
Os africanos são geridos por hábitos e costumes, a razão para o casamento não é amor, mas a procriação. Um homem geralmente mais velho, cabia ele ensinar essa adolescente a viver na nova casa, cobrando – a obediência.
A adolescente não tem qualquer possibilidade de escolha pessoal. Ela estava sempre sob a supervisão do seu suposto marido.
Segundo InfoEscola (2008), no mundo africano tradicional, as mulheres e crianças não têm qualquer poder, uma mulher raramente acompanhava seu marido e filhos às refeições. E só podia comer quando acabasse a conversa à mesa. Desse modo, em muitas tradições africanas, a ideia de igualdade no lar simplesmente não existe, é o que se verifica na vida da adolescente em análise.
A maioria das regiões africanas que celebram o casamento tem por base uma premissa, a família, a celebração do conceito da família através da união de duas pessoas; a junção de duas famílias e por vezes até de duas tribos ou de negociações que a adolescente não participa.
Como a cultura africana tem valores comunitários muitos fortes, ter muitas esposas garante uma família grande, que e considerada o meio para aumentar a felicidade e o senso de realização na vida. Se alguém tiver muitas filhas, sua riqueza aumentará significativamente com o pagamento de lobolo, quando elas casarem.
A submissão da referida adolescente se enquadra na visão de que marido e mulher são seres diferentes. A submissão feminina, entendida como o reconhecimento das diferenças de género. Homem e mulher são diferentes, logo têm papéis diferentes, que devem ser valorizados.
A submissão feminina quer dizer que uma família precisa de uma liderança. Nenhum organismo social vive sem uma liderança. Nem mesmo uma família, que precisa de uma liderança para o planeamento do futuro e para a tomada de decisões.
  
4.Conclusão
o Homem africano procurou, como todo outro homem de outras culturas, na sua comunidade e tribo, dar significado à fenómenos através das suas crenças e valores, sendo assim, perpetuam as suas tradições e transmitindo – as de geração em geração.
InfoEscola (2008), problematiza a importância da cultura no desenvolvimento humano, e defende a consideração da cultura na explicação dos fenómenos. As metodologias de pesquisa precisam ser contextualizadas, as ferramentas de avaliação têm que ser sensíveis à cultura.
A visão que o mundo tem de África reforça a noção expressa em psicologia cultural que o indivíduo não pode ser estudado isoladamente do seu contexto histórico, social, e geográfico. O desafio para a psicologia africana não é apenas ajudar os indivíduos problemáticos a resolver as suas dificuldades quotidianas, mas também procurar investigar a estrutura e a natureza da sociedade onde o indivíduo está inserido.  












5. Referências Bibliográficas
Holdstock, T. L. (2000). Re-examining Psychology – Critical perspectives and African insights. USA/Canada: Routledge.
InfoEscola (2008). Holismo. Disponível a 06 de Agosto de 2012 em http://www.infoescola.com/filosofia/holismo-holistico/
Modelli, N. (2009). Os tipos psicológicos de Carl Jung. Disponível a 06 de Agosto de 2012 em http://nairamodelli.wordpress.com/2009/06/15/os-tipos-psicologicos-de-carl-jung/



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