1. Introdução
Esse
trabalho resulta de uma análise de um caso observado no estágio, numa visita de
acção social no distrito de Manhiça. Onde foi nos apresentado uma situação em
que uma adolescente foi entregue pelos próprios pais à um senhor idoso como a legítima
esposa. O trabalho surge no âmbito da cadeira de Perspectivas Africanas dos
Fenómenos Psicológicos, com objectivo de interpretar o fenómeno apresentado
numa visão africana.
A África é
o continente com mais civilizações antigas, com as culturas mais diversas,
repleta da enorme diversidade que a caracteriza, tudo isto naturalmente se
reflecte nas tradições que dizem respeito ao casamento. Embora muitas das
tradições possam não ser aceites na nossa sociedade, existem algumas ou até
mesmo o seu simbolismo que podem sempre ser incorporadas no vosso casamento.
Em muitos
casamentos africanos não tem certidões passado e em alguns países nem cerimónia
religiosa. Nesses casamentos não há certidões, assinaturas e nem rituais
religiosos para consagrar o casamento. O homem presenteia os pais da mulher com
base em um rol de pedidos, elaborado para confirmar seu interesse em fazer
parte da família. Tradicionalmente, quando essas condições são aceitas, a
mulher passa a ser tratada pela sociedade como esposa, mesmo que, do ponto de
vista formal, não haja casamento. Essa espécie de aprovação familiar é levada a
sério em muitos países africanos.
2. Apresentação
do Caso
F é uma
adolescente de mais ou menos 12 anos de idade que foi entregue pelos pais à um
senhor de cerca de 60 anos de idade. O facto ocorre devido uma dívida contraído
pelos pais e que já não conseguiam efectuar o devido pagamento. Cansados de
promessas falsas, os pais resolveram oferecer o credor a sua filha como forma
de estancar a dívida. A adolescente refere que não está com o senhor não pelo
amor, ela é vítima de negócios dos pais. A adolescente se encontra num estado
de gravidez do sue suposto marido. A celebração do casamento desses dois se deu
após o consentimento do credor e dos pais, sem ter consultado a adolescente. A
adolescente alega que obedece cegamente os desejos dos pais e do marido que lhe
foi atribuído. O caso é do conhecimento do régulo e de outras estruturas
locais, estando assim reconhecido à nível da comunidade como sendo marido e
mulher.
3. Análise
do Caso
O africano é dotado de uma
personalidade típica que o diferencia de outros povos. É oportuno afirmar que
muitos intelectuais africanos promovem a consciência dos africanos sobre a importância
de preservar as tradições culturais como valores nobres que devem ser
transmitidos de geração em geração (Modelli, 2009).
A maioria das regiões africanas que
celebram o casamento tem por base uma premissa: a família. Um casamento
africano é isso mesmo: a celebração do conceito da família através da união de
duas pessoas; a junção de duas famílias e por vezes até de duas tribos. África
é o continente da diversidade apresenta muitas religiões e muitas crenças.
Tal como no restante do mundo, o
casamento em África é um acontecimento que envolve a família e a junção de duas
pessoas. Existem muitas tradições relativas ao casamento em África e nenhuma é
igual a outra. Em muitos locais de África, as mulheres são ensinadas desde
crianças a obedecerem seus maridos e seus pais, principalmente o pai. Em algumas
tribos é comum pessoas mais velhas podem casar com adolescentes, desde que haja
consentimento entre o homem e a família da referida adolescente.
Deste cenário, a situação vivida por
F encontra enquadramento nessa abordagem, estando a cumprir um desejo dos pais
e obedecendo cegamente ao marido e vítima de uma negociação. Sem amor, ela foi
obrigada a casar com alguém mais velho.
O facto curioso, é que a própria
comunidade aprovou esse casamento, mostrando que trata – se de um fenómeno
comum naquela comunidade.
Na visão de Modelli (2009), muitos
casamentos são negociados pelas duas famílias, faz – se acordos entre eles
relativamente ao destino das suas crianças. Usualmente uma criança está
destinada a casar com alguém à escolha dos pais. Sendo assim, no casamento as
mulheres são casadas com homens que não conhecem, usualmente muito mais velhos
que elas, situação que F vive.
Nas tradições africanas, o casamento
não tem nada a ver com amor. O marido da mulher depende dos pais, e quando
casada, uma mulher está sob a jurisdição do seu marido, dependendo do tipo de
contrato celebrado. O propósito do casamento, em geral, é garantir a sucessão
familiar, para que os espíritos dos mortos sejam honrados.
Neste sentido, é importante que o
foco tradicional na análise dos fenómenos sociais seja substituído por uma aproximação mais dinâmica
na qual o foco é abordado rumo à análise das tradições culturais (Holdstock, 2000).
Os africanos são geridos por hábitos
e costumes, a razão para o casamento não é amor, mas a procriação. Um homem
geralmente mais velho, cabia ele ensinar essa adolescente a viver na nova casa,
cobrando – a obediência.
A adolescente não tem qualquer
possibilidade de escolha pessoal. Ela estava sempre sob a supervisão do seu
suposto marido.
Segundo InfoEscola (2008), no mundo
africano tradicional, as mulheres e crianças não têm qualquer poder, uma mulher
raramente acompanhava seu marido e filhos às refeições. E só podia comer quando
acabasse a conversa à mesa. Desse modo, em muitas tradições africanas, a ideia
de igualdade no lar simplesmente não existe, é o que se verifica na vida da
adolescente em análise.
A maioria
das regiões africanas que celebram o casamento tem por base uma premissa, a
família, a celebração do conceito da família através da união de duas pessoas;
a junção de duas famílias e por vezes até de duas tribos ou de negociações que
a adolescente não participa.
Como
a cultura africana tem valores comunitários muitos fortes, ter muitas esposas
garante uma família grande, que e considerada o meio para aumentar a felicidade
e o senso de realização na vida. Se alguém tiver muitas filhas, sua riqueza
aumentará significativamente com o pagamento de lobolo, quando elas casarem.
A submissão da referida adolescente
se enquadra na visão de que marido e mulher são seres diferentes. A submissão
feminina, entendida como o reconhecimento das diferenças de género. Homem e
mulher são diferentes, logo têm papéis diferentes, que devem ser valorizados.
A submissão feminina quer dizer que
uma família precisa de uma liderança. Nenhum organismo social vive sem uma
liderança. Nem mesmo uma família, que precisa de uma liderança para o planeamento
do futuro e para a tomada de decisões.
o Homem africano procurou, como todo outro homem de outras culturas, na sua
comunidade e tribo, dar significado à fenómenos através das suas crenças e
valores, sendo assim, perpetuam as suas tradições e transmitindo – as de
geração em geração.
InfoEscola (2008), problematiza a
importância da cultura no desenvolvimento humano, e defende a consideração da
cultura na explicação dos fenómenos. As metodologias de pesquisa precisam ser
contextualizadas, as ferramentas de avaliação têm que ser sensíveis à cultura.
A visão que o mundo tem de África
reforça a noção expressa em psicologia cultural que o indivíduo não pode ser
estudado isoladamente do seu contexto histórico, social, e geográfico. O
desafio para a psicologia africana não é apenas ajudar os indivíduos
problemáticos a resolver as suas dificuldades quotidianas, mas também procurar
investigar a estrutura e a natureza da sociedade onde o indivíduo está
inserido.
5. Referências Bibliográficas
Holdstock, T. L. (2000). Re-examining
Psychology – Critical perspectives and African insights. USA/Canada: Routledge.
InfoEscola (2008). Holismo. Disponível a 06 de Agosto de
2012 em http://www.infoescola.com/filosofia/holismo-holistico/
Modelli, N. (2009). Os tipos
psicológicos de Carl Jung. Disponível a 06 de Agosto de 2012 em
http://nairamodelli.wordpress.com/2009/06/15/os-tipos-psicologicos-de-carl-jung/
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