1. INTRODUÇÃO
O estudo do conflito organizacional ou laboral tem ganho
nas últimas décadas um novo dinamismo. Com o resultado das mudanças estruturais
que acontecem nas organizações, o trabalho torna-se cada vez mais
participativo, complexo, competitivo e interdependente.
A realidade desses conflitos mostram que o salário, o incumprimento da Lei do
Trabalho, a violação dos direitos dos trabalhadores, as diferenças individuais,
falta de diálogo, são tidos como grandes factores que geram conflitos nas organizações
(Chiavenato, 2009).
O presente trabalho surge no âmbito da
cadeira de Workshop, e é um produto de uma palestra apresentada no decurso da
referida cadeira. É importante frisar, que o tema aqui apresentado versa sobre
os conflitos
laborais, que constituem uma serie de divergências dos membros de uma
organização em contextos de trabalho.
Como tal, procura - se definir o conceito de conflito
através da opinião de vários intelectuais, caracterizar os diversos tipos de conflitos,
em especial o conflito laboral, bem como apresentar as suas possíveis causas e desenvolvimentos
de estratégias de gestão.
De referir que a Gestão de Conflitos Laborais
é uma técnica de produção de normas, e constituí método para a sua superação de
quaisquer tipos de conflitos. Desse modo, num processo saudável de negociação
de conflitos laborais, entre a entidade empregadora e os seus colaboradores, ambas
partes têm vantagens.
1.1. Contextualização
Cientes da problemática dos conflitos laborais, os
teóricos organizacionais começaram a estudar, ao longo dos anos, com maior
enfoque o conflito no seio das organizações. Quando se pensa em conflito é
comum associá-lo a algo indesejável e a evitar. Não obstante, o conflito pode
ter aspectos positivos no contexto organizacional, podendo contribuir para o
desenvolvimento e crescimento da organização (Buono, 2000).
Os conflitos organizacionais fazem parte das interacções
humanas, o valor e a centralidade que tem sido atribuído ao conflito, no seio
das organizações tem sofrido modificações ao longo dos anos. Segundo Robbins citado
por Buono (2000), existem sobretudo três
grandes abordagens de investigação: a abordagem clássica ou tradicional, a
abordagem das relações humanas e a abordagem interacionista.
A primeira, na década de 30 e 40 do século XX, encarava o
conflito de forma negativa; deveria ser evitado, pois era uma perturbação ao
bom funcionamento da organização e ao aumento da produtividade. Na segunda, da
década de 40 à década de 70 do mesmo século, o conflito continua a ser encarado
de forma negativa mas não se pode prevenir o seu aparecimento, pois é uma
consequência natural e inevitável. A terceira, a partir da década de 70, começa
a estimular o conflito no ambiente de trabalho, baseando-se no facto de que um
grupo harmonioso e cooperativo pode tornar-se apático e não responder às
necessidades de mudança e inovação, entrando em entropia (Buono, 2000).
II. DISCUSSÃO DOS TEMAS ABORDADOS
2.1. Justificativa
As relações laborais desenrolam-se de acordo com
determinados princípios. Elas nascem em certos momentos, desenrolam-se
produzindo um conjunto de efeitos e extinguem-se. Nestas relações nem todos
interesses das partes coincidem em harmonia mútua, pois quando estas não
alcançam o previsto no acto de sua constituição ou nascimento, ou quando a sua
extinção não obedece e nem se efectua segundo modos previamente determinados,
produz-se uma situação anormal ou de alteração na sua existência, originando um
conflito de trabalho.
Constituindo o conflito de trabalho uma
disputa de interesses, ele assume-se como meio através do qual se lhe deve
procurar soluções adequadas ou encontrar formas de concertar a anormalidade que
lhe deu origem.
Existe conflito colectivo de trabalho quando se manifesta uma
divergência de interesses por parte de uma categoria organizada de
trabalhadores, de um lado, e uma categoria também organizada de empregadores,
de outro lado, em torno de regulamentação existente ou das futuras relações de
trabalho que interessam às partes.
A escolha do tema centra no facto de que o conflito constitui um
fenómeno presente ao desenvolvimento das organizações, visto estas ser
constituídas por pessoas, sujeitas a relações interpessoais. Deste modo, não
relação sem conflito, dai a importância de analisar e caracterizar as várias
facetas apresentadas pelos conflitos laborais.
Para além do tema em análise, foram
ministrados vários temas em forma de palestras, que em seguida se apresentam:
- Paradigmas, métodos e técnicas de investigação e avaliação em psicologia;
- Desenvolvimento pessoal;
- Atendimento a criança com síndrome de Dawn;
- O psicólogo nas organizações;
- Sistemas de Gestão de Desempenho na administração pública;
- Diagnostico i intervenção multidisciplinar na síndrome de Anzekman;
- Qualidade de vida de famílias de crianças portadoras de síndrome de Dawn;
- Perspectivas das mães;
- Avaliação de Desempenho.
III. CONFLITOS LABORAIS
3.1. Conceitualização de Conflito
Caetano & Vala (2007), definem o conflito como um
processo no qual um esforço é propositadamente desenvolvido por A no sentido de
eliminar os esforços de B para alcançaram determinado objectivo, através de
alguma forma de bloqueio que resulta na frustração de B.
Robbins também o define como um processo que começa
quando uma parte percebe que uma outra parte a afectou ou a pretende afectar
negativamente, algo pelo qual a primeira parte se interessa. Caetano & Vala
(2007), referem que o conflito é uma luta entre indivíduos por um resultado
favorável individual, que sendo atingido impossibilita os restantes de terem êxito,
originando hostilidades.
Tedeschi, Schlenker & Bonoma (1973) citados por Caetano
& Vala (2007), definem o conflito laboral como um processo interactivo em
contextos organizacionais, no qual os objectivos de um actor são, em certo
grau, incompatíveis com os comportamentos e objectivos de outro ou outros
actores. Os autores salientam que o conflito requer interdependência, percepção
de oposição e de incompatibilidade de objectivos e alguma forma de interacção
entre as partes.
O conflito laboral existe sempre que surgem actividades
incompatíveis. Duas acções são incompatíveis quando a presença de uma acção
inibe, obstruí, interfere ou de algum modo torna a outra acção menos eficaz. Caetano
& Vala (2007), consideram que o conflito laboral é uma divergência de interesses
percebida entre colaboradores ou entre colaboradores e a empregadora, ou uma
crença de que as aspirações actuais das partes não podem ser alcançadas em
simultâneo.
3.1.
Teorias
3.1.1
Abordagem Clássica
Para Frederick Winslow Taylor (1855-1932) citado por
Chalvin & Eyssette (1989), o conflito não era priorizado enquanto fenómeno
que deva ser estudado. Aabordagem tradicional preocupava-se sobretudo com a
produtividade, priorizando o desenvolvimento de métodos adequados para a
execução de cada tarefa. Os operários desempenhavam as suas funções de acordo
com as normas previamente estabelecidas, respeitando o que lhes era imposto.
O conflito era sinónimo de disfuncionalidade,
irracionalidade, violência e destruição. Reduzia a qualidade das relações organizacionais,
a satisfação no trabalho e os níveis de produtividade. Através de regras
específicas, da criação de hierarquias e de cadeias de comando definidas se
eliminaria o conflito. A eficácia organizacional seria alcançada através da
harmonia, da cooperação e da ausência de conflito (Chalvin & Eyssette,
1989).
3.1.2.
Abordagem das Relações Humanas
Segundo Chalvin, & Eyssette (1989), no final dos anos
40 do século XX devido às consequências geradas pela Revolução Industrial, que
se manifestou no crescimento acelerado das organizações e na necessidade de aumentar
a eficiência e competência das organizações surgiu uma nova ideia de conflito.
A emergência de conflitos é natural e inevitável. No entanto, a sua presença
continua a não ser desejada e a sua ausência prova que a organização está a ser
bem gerida.
Investigadores da Escola das Relações Humanas, como Elton
Mayo (1880-1949), procuravam as condições necessárias para a eliminação do
conflito e consequentemente para a sua regulação de forma pacífica e consensual,
tendo em vista o aumento da eficácia organizacional (Chiavenato, 2009).
3.1.3.
Abordagem Interacionista
A última metade do século XX foi marcada por um interesse
crescente do estudo dos conflitos, motivado, em grande parte, pela maior
visibilidade que este fenómeno adquiriu no contexto organizacional. As
organizações hierárquicas e burocráticas deram progressivamente lugar a
estruturas mais descentralizadas, caracterizadas pela interdependência e autonomia
dos seus trabalhadores (Chiavenato, 2009).
Para Chalvin & Eyssette (1989), as equipas de
trabalho tornaram-se um dos principais sistemas de organização, aumentando a
necessidade de interacção, de cooperação e de colaboração entre os indivíduos,
com vista à execução das tarefas. Estas transformações estruturais associadas a
uma maior diversidade da força de trabalho contribuíram para a emergência de
mais conflitos nas organizações. A existência de conflitos nas empresas pode
ser positiva para o desenvolvimento organizacional. Em qualquer organização a
existência do conflito com baixos níveis deixa a organização vulnerável à
estagnação
.
3.2.
Tipos de Conflitos Laborais
Segundo Chiavenato (2009), dentro de uma organização os
conflitos podem ser interpessoais, grupais, organizacionais e funcionais-disfuncionais.
3.2.1.
Conflito Interpessoal
O conflito interpessoal ocorre quando existem
divergências entre duas ou mais pessoas. Pode surgir, por exemplo, entre um
superior e um subordinado. Podem ocorrer devido a diferenças individuais,
limitação de recursos e diferenciação de papéis. As diferenças de personalidade,
presentes nos valores, crenças, atitudes, idades e experiências podem causar situações
inevitáveis de conflito.
3.2.2.
Conflito Grupal
Conflito Grupal envolve situações de tensão que ocorrem
entre os membros de um determinado grupo, ou entre grupos distintos, causadas
por diferenças entre sistemas de valores e atitudes ou por divergências de
opinião relativamente a objectos, tarefas ou procedimentos. Ocorre quando as
opiniões entre os grupos da organização são diferentes. Por exemplo, divergências
entre a equipa de marketing e a equipa de comunicação. Este tipo de conflito surge
devido à competição por recursos e pelos diferentes tipos administrativos necessários
para a eficácia de cada departamento.
3.2.3.
Conflito Organizacional
Conflito Organizacional ocorre entre duas ou mais
organizações, devido a problemas de concorrência ou rivalidade. Segundo a
economia de mercado cada empresa procura produzir com o objectivo de alcançar o
lucro. Existe uma competição entre as organizações que gera o conflito.
Quando as pessoas trabalham na mesma organização
diariamente é comum que surjam diferentes pontos de vista sobre diversas
questões laborais. É comuns as pessoas discordarem sobre as políticas da empresa,
os seus procedimentos e a atribuição de tarefas.
3.2.4.
Conflito Funcional e Disfuncional
A visão interacionista não propõe que todos os conflitos
sejam positivos. Aliás, existem conflitos positivos e negativos. Os conflitos
positivos são denominados de funcionais e os negativos de disfuncionais. Os
conflitos funcionais actuam de forma construtiva, apoiando-se nos objectivos do
grupo e melhorando o seu desempenho. Já os disfuncionais atrapalham o
desempenho do grupo, podendo até destruir a organização.
3.3.
Caracterização de Conflitos Laborais
Segundo Thanlat & Jean (1996), as fontes de conflitos
podem estar centralizadas na existência de dependência mútua na realização nas
tarefas. Quando duas unidades ou indivíduos dependem uns dos outros para o desempenho
das suas tarefas. A interdependência assimétrica pode levar ao conflito, visto
que uma parte possui mais condições que a outra para conseguir os mesmos
resultados.
Por seu turno, segundo Dunha (2000), quando os
trabalhadores não se sentem satisfeitos com os superiores pode gerar conflito. O
início do processo conflitual pode ter inúmeros e infinitos antecedentes.
Alguns intelectuais debruçaram-se no estudo dos antecedentes de conflitos
organizacionais. O ser humano possui quatro necessidades psicológicas básicas
que, quando violadas, geram automaticamente um conflito:
- Necessidade de ser valorizado e tratado como um indivíduo: todos desejam que os outros reconheçam o seu valor e as suas contribuições. Assim, o reconhecimento torna-se o maior incentivador das pessoas. Mas, quando as pessoas sentem-se desvalorizadas, a sua necessidade de ser valorizada é violada, estimulando a sua resposta de raiva;
- Necessidade de estar no controlo: as pessoas excessivamente controladoras tendem a ser muito inseguras. O sentimento de segurança diminui a necessidade de controlar os outros;
- Necessidade de ter auto-estima: a auto-estima é uma base para lidar adequadamente com todos os tipos de situação, é a chave para a capacidade de responder, em vez de reagir;
- Necessidade de ser coerente: quando existe um problema as pessoas têm dificuldade em admitir o erro. A necessidade de coerência contribui para que a preservação da aparência seja um factor relevante na maioria dos conflitos.
3.4.
Aspectos Positivos e Negativos do Conflito
De acordo com Dunha (2000), identificar as vantagens e as
desvantagens de um determinado conflito pode contribuir para o desenvolvimento
organizacional ou para a destruição da organização. São efeitos positivos dos
conflitos:
- Fortalece as relações e solidifica sentimentos de coesão e de identidade dentro do grupo;
- As pessoas aprendem através do confronto de ideias, o que pode melhorar a qualidade das decisões;
- Desenvolve a criatividade e aumenta a motivação, a energia e a produtividade na execução das tarefas;
- O conflito pode servir como mecanismo de correcção dos problemas existentes e evitar problemas mais graves;
- Facilita a inovação, a mudança e a adaptação, evitando a entropia; Permite libertar tensões.
São efeitos negativos de conflitos:
·
Cria
ambientes de trabalho desagradáveis. O conflito fora de controlo, destrutivo,
pode criar um ambiente de trabalho muito hostil, prejudicando os desempenhos
das pessoas;
·
Reduz
o desempenho e a produtividade organizacional. Ao se gastar muito tempo a lidar
com o conflito o trabalho passa para segundo plano;
·
Enfraquece
os relacionamentos e afecta a cooperação entre pessoas e grupos. A cooperação
entre as pessoas passa a ser substituída por comportamentos de tensão que
acabam por prejudicar o bom funcionamento da organização e influenciar
negativamente a natureza dos relacionamentos existentes entre pessoas e grupos;
·
Os
conflitos podem provocar stress, desgaste emocional, sentimentos de dor,
antagonismo, hostilidade e insatisfação no trabalho.
IV. CONSIDERAÇÕES FINAIS
3.1. Conclusão
Martinelli at al. (1998), definem o conflito laboral como
uma série de episódios em que cada um deles inclui uma fase de latência
(factores antecedentes), sentimentos (ao nível afectivo), percepção (ao nível
perceptivo), manifestações (ao nível comportamental) e consequências (que têm
impacto nas relações entre os vários departamentos organizacionais e entre a
organização e o seu meio envolvente. Neste sentido, pode o conflito laboral
pode ser considerado como sendo uma luta baseada em valores e pretensões aos escassos
poder e recursos, onde o objectivo do oponente é neutralizar, magoar ou
eliminar os seus rivais.
As estratégias de gestão de conflitos incluem dois conceitos
distintos, a gestão/administração. A gestão de conflitos pode ser entendida como
a sua redução ou eliminação. Por outro lado, a gestão de conflitos envolve o desenvolvimento
de estratégias para os minimizar ou maximizar. A eliminação de conflitos era
sobretudo aplicado nas abordagens tradicionais e de relações humanas, onde o fenómeno
tinha um carácter prejudicial e destrutivo e a sua resolução era essencial para
a estabilidade organizacional. Com a perspectiva interacionista a resolução dos
conflitos dá origem a uma gestão de conflitos (Martinelli at al., 1998).
As estratégias de gestão de conflitos têm como objectivo
manter níveis razoáveis de conflito, de forma a estimular os processos
organizacionais como a criatividade e a aprendizagem organizacional. Traduz-se
no reconhecimento da existência de aspectos construtivos e de aspectos
destrutivos e na capacidade de ganhar os primeiros reduzindo os segundos. No
entanto, não existe um tipo definido que seja amplamente eficaz, pois numa situação
uma estratégia pode ser eficaz e na outra pouco apropriada .
Apesar de existirem várias teorias sobre a aceitação do
conflito como inerente à dinâmica da organização, há que ter em conta que este
pode ter efeitos positivos ou negativos. O conflito em excesso pode ser
prejudicial para a organização mas em níveis razoáveis pode ser importante,
dotando-a de uma maior capacidade de resposta aos desafios organizacionais.
Cabe ao gestor saber administrar os conflitos, reconhecendo os seus aspectos
funcionais e disfuncionais.
A suspensão do conflito leva à negociação e gestão do
conflito, consideravam que o conflito podia acontecer em três níveis de
intensidade: percebido, experienciado ou manifestado. O conflito percebido
ocorre quando as partes percebem e entendem que há conflito, pois sentem que os
seus objectivos são diferentes dos objectivos dos outros e que existem
oportunidades para interferência. O conflito experienciado verifica-se quando o
conflito provoca sentimentos de hostilidade e medo entre uma parte e outra. O
conflito manifesto pode surgir quando o conflito é expressado pelo
comportamento.
V. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Buono, A. F. (2000). Fundamentos
de Comportamento Organizacional, LTC Editora
Caetano, A. & Vala, J. (2007). Gestão de recursos humanos: contextos, processose técnicas, Lisboa:
RH Editora
Chalvin, D. & Eyssette, F. (1989). Como resolver pequenos conflitos no trabalho.
São Paulo: Nobel
Chiavenato, I. (2009). Comportamento organizacional: a dinâmica do sucesso dasorganizações,
Editora Campus
Dunha, M. P. (2000). Comportamento
Organizacional eGestão de Empresas, Dom Quixote
Martinelli, D. at al. (1998). Negociação e solução de conflitos, São Paulo: Atlas.
Thanlat &, Jean, F. (1996). O indivíduo na organização: dimensões esquecidas. São Paulo: Atlas
3 comentários:
good job.
Bom trabalho. O que Exmos. Senhores sugerem que deve ser feito, quando o gestor/Administrador/Director é omisso na existência de conflitos laborais na área que dirige??
parabens pelo trabalho. Bem desenvolvido
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