ELIAS RICARDO SANDE

ELIAS RICARDO SANDE
PSICOLOGO SOCIAL E DAS ORGANIZACOES

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Estrategias de Educacao de Pares na Prevencao do HIV/SIDA em grupos de alto indice de vulnerabilidade & Aconselhamento Psicoloogico em HIV/SIDA

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UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE
FACULDADE DE EDUCAÇÃO

DEPERTAMENTO DE PSICOLOGIA E CIÊNCIAS DE EDUCAÇÃO


LICENCIATURA EM PSICOLOGIA
(PSICOLOGIA SOCIAL E DAS ORGANIZAÇÕES-PSO)



RELATÓRIO DE SEMINÁRIOS ESPECIALIZADOS EM TEORIAS E MÉTODOS DE INTERVENÇÃO PSICOLÓGICA

Estratégias de Educação de Pares na Prevenção do HIV/SIDA em Grupos de Alto Índice de Vulnerabilidade &
Aconselhamento Psicológico em HIV-SIDA



  1. Elias Ricardo Sande





UEM – Faculdade de Educação










Maputo, Novembro de 2011



UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
  1. DEPERTAMENTO DE PSICOLOGIA E CIÊNCIAS DE EDUCAÇÃO


LICENCIATURA EM PSICOLOGIA
(PSICOLOGIA SOCIAL E DAS ORGANIZAÇÕES-PSO)



  1. RELATÓRIO DE SEMINÁRIOS ESPECIALIZADOS EM TEORIAS E MÉTODOS DE INTERVENÇÃO PSICOLÓGICA


Estratégias de Educação de Pares na Prevenção do HIV/SIDA em Grupos de Alto Índice de Vulnerabilidade &
Aconselhamento Psicológico em HIV-SIDA


  1. Elias Ricardo Sande



Relatório da Cadeira de Seminários Especializados em Teorias e Métodos de Intervenção Psicológica apresentado em cumprimento dos requisitos parciais para a obtenção do grau de Licenciantura em Psicologia, na vertente de Psicologia Social e das Organizações (PSO).



Maputo, Novembro de 2011


ÍNDICE



1. Introdução.................................................................................................1
1.2. Justificativa................................................................................................2
1.3. Objectivos..................................................................................................2
1.4. Metodologia.............................................................................................2
2. Enquadramento Teórico......................................................................3
2.1. Definição de HIV/SIDA..........................................................................3
2.2. Contextualização .................................................................................3
2.3. Factores de Risco e Contaminação pelo HIV/SIDA..............................4
2.4. Grupos populacionais vulneráveis na contaminação do HIV/SIDA.....5
3. Estratégia Educativas de Prevenção do HIV/SIDA.....................6
3.1. Educação de Pares na Prevenção do HIV: HIV e Saúde Mental..........7
4. Aconselhamento Psicológico...........................................................8
4.1. Aconselhamento Psicológico e Testagem Voluntário.........................8
4.2. Aconselhamento Pré-teste..................................................................9
4.3. Aconselhamento Pós-teste..............................................................9
5. Análise e Reflexão.....................................................................10
6. Considerações Finais.............................................................12
7. Referências Bibliográficas.................................................13


Lista de Abreviaturas

ATV: Aconselhamento e Testagem Voluntário
HIV: Vírus de Imunodificiência Adquirida
HSH: Homens que fazem sexo com Homens
MISAU: Ministério da Saúde
SIDA: Sindroma de Imunodificiência Adquirida
TS: Trabalhadores/as do Sexo

UNAIDS: Programa Conjunto das Nações Unidas para o SIDA


1. Introdução
A prevenção tem sido uma questão crucial para os programas de controlo do HIV/SIDA. Os enormes progressos do conhecimento e da técnica nesse campo não chegaram a alterar substantivamente os determinantes fundamentais da infecção por esse vírus. Neste trabalho busca-se sistematizar o conhecimento que vem sendo construido no campo da prevenção dessa epidemia, tomando como base, as estratégias psico-educativas de prevenção do HIV/SIDA.
O fundamental para minimizar esse mal é em primeiro lugar identificar os grupos em alto risco de vulnerabilidade e, se possível delimitar espaços (sociais, culturais etc) de interação geradores de vulnerabilidade e, de modo articulado, os contextos intersubjectivos favoráveis à construção de respostas para a redução dessas vulnerabilidades, contribuindo dese modo, na efectiva substituição da atitude modeladora por uma atitude emancipadora em práticas educativas. Não se pode apenas centrar as políticas, programas e acções nos grupos em risco, mas nas relações socialmente estabelecidas entre os diversos sujeitos sociais e suas interdependências.
O presente trabalho, surge no âmbito da Cadeira de Seminários Especializados em Teorias e Métodos de Intervenção Psicológica e, é produto de duas palestras ministradas ao longo do último semestre (VIII semestre) do curso de Psicologia. O mesmo debruça em simultáneo dois temas: Estratégias de Educação de Pares na Prevenção do HIV em Grupos de Alto Risco de Vulnerabilidade e Aconselhamento Psicológico em HIV/SIDA, os temas foram apresentdos por dr. Augusto Guambe e dr. Alfredo Maposse respectivamente. O trabalho tem a seguinte estrutura: a presente introdução (Justificativa, Objectivos,. Metodologia); Enquadramento Teórico; Análise e Reflexão; e Considerações Finais.


1.2. Justificativa
Como estudante de Psicologia, abordar a questão das Estratégias de Educação de Pares na Prevenção do HIV em Grupos de Alto Risco de Vulnerabilidade e do Aconselhamento Psicológico em HIV/SIDA, constitui uma oprtunidade ímpar para construir a capacidade de escuta activa, ou seja, saber ouvir, bem como desenvolver a capacidade de intervenção enquanto futuro profissional. Em suma, constitui uma busca e o desenvolver das competências específicas de qualquer profissional de psicologia, na medida em que permite aliar a ampla bagagem adquirada ao longo da formação, ou seja, a teoria com a realidade prática de situações que ocorrem no contexto moçambicano.
Muito especificamente quando se fala do do HIV-SIDA, torna-se necessário um acompanhamento profundo e total dos factos inerentes à ele, visto que falar do HIV-SIDA, é falar de um problema que afecta toda sociedades. Daí, haver uma necessidade de nós como futuros profissionais de psicologia e pela natrureza do curso, construir subsídios necessários para ajudar a sociedade, em particular os iindividuos afectactos e infectados pelo HIV-SIDA, por forma à superar todas dificuldades e barreiras que possam advir.

1.3. Objectivos
1.3.1.Objectivo Geral
  • identificar as estratégias psico-educativas que os psicólogos podem usar em contexto do HIV/SIDA

1.3.2. Objectivos Específicos
  • identificar os grupos populacionais em alto risco de infecção pelo HIV-/SIDA;
  • descrever as principais etapas do processo de aconselhamento psicológico em HIV/SIDA;
  • promover auto-conhecimento dos grupos e indivíduos em relação ao HIV/SIDA; e
  • traçar medidas de prevenção e combate do HIV/SIDA.

1.4. Metodologia
Para a elaboração desse trabalho, adoptou-se como técnica a revisão bibliográfica (consulta de informações contidas nas obras, livros e informações disponíveis na internet, seguido de uma análise reflexiva sobre o tema.

2. Enquadramento Teórico
2.1. Definição de HIV/SIDA
De acordo com MISAU (2002), as iniciais na sigla SIDA significam respectivamnte Síndrome de Imunodeficiência Adquirida, isto quer dizer que o sistema imunológico do organismo foi danificado, ou seja, algo que uma pessoa contrai de outra pessoa, ao invés de algo genético, com que ela nasce ela consiste numa série de infecções ou sintomas, que variam de pessoa para pessoa. O HIV é o vírus que causa SIDA. Nem todos que têm o HIV têm SIDA, O HIV leva ao SIDA quando o sistema imunológico fica tão fraco, que o organismo contrai várias infecções, tais como a tuberculosee e outras. Estas são chamadas deinfecções oportunistas, porque aproveitam-se da oportunidade que o HIV oferece para infectar o organismo, são estas doenças e outras tantas que matam a pessoa. Síndrome é o grupo ou agregado de sinais e sintomas associados a uma mesma patologia e que em seu conjunto definem o diagnóstico e o quadro clínico de uma condição médica.

2.2. Contextualização
A epidemia do HIV/SIDA é marcada por sua expressiva incidência entre os mais pobres, as mulheres e os jovens. Estima-se que cerca de 50% das novas infecções pelo HIV entre adultos no mundo esteja ocorrendo hoje em pessoas com idade de 15 à 24 anos (MISAU, 2002). Em Moçambique, a situação entre os mais jovens está melhor controlada, mas esse grupo ainda apresenta, como em 1998, relevância estratégica no controlo da epidemia. De acordo com os dados do MISAU (2002), faixa de 13 à 24 anos concentra hoje cerca de 10% dos casos notificados entre o total de homens e cerca de 15% entre o total de mulheres. A faixa de 25 à 34 anos concentra cerca de metade do total de casos notificados. Se lembrarmos que se notificou os casos do HIV/SIDA, e considerando entre 6 e 9 anos o tempo médio entre a infecção, é provável que a faixa entre 16 e 19 anos de idade seja responsável por um expressivo número de infecções também em Moçambique.
Métodos tradicionais, focados no comportamento, têm demonstrado limites. Estratégias de redução de vulnerabilidade, que buscam novos objectivos, visando uma resposta social mais ampla, têm sido propostas, necessitando avaliação. Considerando a relevância do trabalho com jovens na dinâmica da epidemia de HIV/SIDA e as novas perspectivas abertas pelo nascente conceito de vulnerabilidade, propôs-se, em 1997, um projecto de intervenção e pesquisa que teve como objectivo elaborar e avaliar uma estratégia de prevenção do HIV/SIDA entre adolescentes, que trabalhe de modo abrangente e integrado os aspectos individuais, sociais e programáticos (MISAU, 2002).
Na visão de Parker & Camargo (2000), desde 1997, uma série de acções vem sendo desenvolvida e progressivamente avaliada nas escolas e nas comunidades. Pode-se sintetizar essas acções como: actividades directas com os alunos, jovens, voluntários (formação de alunos multiplicadores ou voluntários interessados em desenvolver actividades preventivas com os pares; actualização e capacitação de professores para o desenvolvimento de actividades educativas nas salas (temas transversais), de supervisão e apoio aos multiplicadores e educadores de pares para o desenvolvimento de actividades preventivas e, mais recentemente segundo dados apurados pelo MISAU (2002), capacitação para a condução autónoma de projetcos nas escolas e nas comunidades, inclusive formando novos alunos multiplicadores; mapeamento e divulgação de recursos de saúde da região, contacto com o serviço para integrar aos diversos projectos, encaminhamento de casos para assistência, testagem, aconselhamento e/ou suporte mental.
Foi na perspectiva de somar-se à esse processo de avaliação da intervenção e difusão das lições aprendidas que foram definidos vários trabalhos. O palestrante propõe a necessidade de se fazer uma avaliação especificamente voltada para todos os grupos em alto risco de vulnerabilidade.

2.3. Factores de Risco e Contaminação pelo HIV/SIDA

No entender de Parker & Camargo (2000), o HIV é uma infecção, e o vírus pode se propagar entre as pessoas. Entretanto, ele não é contagioso, o que significa que não pode se propagar facilmente, como um resfriado (constipação) comum. Ele não pode ser transmitido através do contacto social normal, tal como apertar a mão dos outros ou compartilhar comida. Segundo o palestante, a transmissão ocorre através da troca de sangue, sémen e fluídos vaginais com uma pessoa infectada. O HIV pode ser transmitido através das relações sexuais, da perfuração da pele com instrumentos não esterilizados (tais como injecções, furos nas orelhas, tatuagens, e mutilações genitais), produtos sanguíneos contaminados e de uma mãe infectada para o filho.
Segundo esses autores, no contacto sexual, pode ser qualquer tipo de sexo, como oral, vaginal e anal. A transmissão do HIV durante o contacto pode ser facilitada por vários factores, incluindo:
  • Penetração sem proteção;
  • Ser o receptor (passivo) na relação sexual;
  • Presença concomitante de doenças sexualmente transmissíveis, especialmente aquelas que levam ao aparecimento de feridas genitais;
  • Lesões genitais durante a relação sexual;
  • Elevado número de parceiros sexuais e relações desprotegidas;
  • Carga viral elevada da pessoa infectada.; e
  • Hemorróide avançada.

2.4. Grupos populacionais vulneráveis na contaminação do HIV/SIDA

Segundo o palestrante, e de acordo com estudos realizados por Figueiredo & Ayres (2002), demostram que a pesar de todos estar afectados pelo HIV/SIDA, existem grupos de pessoas mais ainda vulneráveis, que abaixo se listam:
Mulhres: em quase todas sociedades, as políticas sócio-culturais e instituicionais, confere um estatuto baixo para as mulheres, esse facto, leva a mulher a não ter um poder decisivo da sua vida. Com isso, ela não pode decidir sobre o comportamento sexual entre ela e o seu marido. Elas, geralmente são submissas aos homens, correndo, nesse caso, maior risco de infecção comparando com os homens.
Trabalhadores/as do sexo: esse grupo de pessaos são vulneráveis na contaminação pelo HIV, devido ao elevado numero de parceiros sexuais que tem diariamente, embora que usem preservativo, pois está comprovado que a camisinha é eficaz em cem por cento.
Homens que fazem Sexo como Homesns-HSH: a principal fonte de satisfação sexual dos homossexuais é o ânus, sendo que o ânus não possui a lubrificação necessária para o acto. Desse modo, durante a penetração, maior probabilidade de o ânus ou o pénis contrair ferimentos, facto que quando um deles estiver infectado poder infectar o outro.
Jovens: geralmente, muitos jovens iniciam as suas relações sexuais aos 18 ou 19 anos de idade e, pelo menos metade, aos 16 anos (UNAIDS, 1998 citado por Figueiredo & Ayres, 2002). Em Moçambique, estima-se que cerca de metade dos adoleslescente são sexualmente activos, e esta percentagem sobe para cima de 80% em alguns grupos minoritários (Reitman, 1996 citado pelo MISAU, 2002). Os jovens entre os 15 e 24 anos constituem a maioria das novas infecções com HIV.
Consumidores de Drogas: os comportamentos associados ao uso de drogas que se encontram entre os factores de risco de transmissão do HIV são a partilha dos instrumentos de injecção da droga e as relações sexuais não protegidas com um parceiro infectado, pois quando estes estão sub efeito de drogas, muitas vezes não se preocupam com o uso de preservativo.
Populações que vivem uma pobre absoluta: vários estudos mostraram que os factores económicos exercem uma forte influência no comportamento sexual do indivíduo, sobretudo através da pobreza e do subemprego. A nível internacional, os países com os mais baixos níveis de vida são também aqueles que têm a mais elevada incidência do HIV (Parker & Camargo, 2000). Quer nos países pobres, quer nos ricos, a pobreza está associada ao HIV, e o HIV, por sua vez, intensifica a pobreza (Sweat, 1995 & Tawil, 1995 citados por Figueiredo & Ayres, 2002).

3. Estratégia Educativas de Prevenção do HIV/SIDA
Segundo Cohen (1992) citado por Freire (1996), a informação, educação e comunicação, educação de massas e de pequenos grupos, constituem uma fonte importantíssima de prevenção do HIV-SIDA. A informação foi inicialmente para muitos, considerada a chave para a mudança comportamental, os programas de prevenção do HIV começaram com um foco no aumento da consciência acerca dos modos de transmissão e prevenção.

A educação massiva para a prevenção do HIV pode tomar muitas formas, mas normalmente é vista como uma componente-chave de um programa abrangente de prevenção do SIDA (Freire, 1996). A melhor maneira de se evitar a contração do HIV, em primeiro plano é ter relações sexuais com uma pessoa que não esteja infectada com o HIV e que não mantém relações sexuais com ninguém mais.

O palestrante defendeu que seria defícil encontrar pessoas fiéis, os preservativos podiam ser usados como uma barreira física para evitar a troca de fluidos corporais. Eles geralmente são seguros, a menos que tenham sido mal fabricados, tenham se deteriorado com o tempo ou não sejam usados correctamente. Porém, eles não são 100% eficazes e não devem ser reutilizados. Os preservativos são especialmente úteis, quando um dos parceiros tem HIV ou para pessoas que não podem evitar as relações sexuais.

Instrumentos tais como agulhas, seringas e facas devem ser usados apenas uma vez, pois eles podem ter sangue. Os hospitais raramente têm dinheiro para fornecer equipamento para cada paciente. Assim, eles devem esterilizar as agulhas e as seringas, fervendo-as para matar o HIV.

A educação sobre o SIDA em pequenos grupos está a ser levada a cabo em todo o mundo, promovendo o conhecimento geral sobre o HIV em numerosas comunidades. Os programas de prevenção do SIDA para pequenos grupos podem ser vistos como tendo 3 componentes principais: conteúdo, contexto e estratégias (Freire (1996).

Conteúdo: o conteúdo inclui metas, objectivos e actividades. As principais áreas do conteúdo nas actividades de muitas intervenções para pequenos grupos incluem: educação básica acerca do SIDA, sensibilização para os riscos pessoais do HIV, instruções sobre acções individuais que podem reduzir o risco da pessoa e exploração de novas formas de comunicação com parceiros sexuais. As intervenções completas ou as questões da pesquisa são produzidas em qualquer uma das áreas desses conteúdos.

Contexto: a segunda componente da prevenção do HIV para pequenos grupos é o contexto. Os diferentes aspectos da intervenção devem ser desenhados de modo a adequarem-se à cultura, género e questões de desenvolvimento dos grupos-alvo (Kalichman, 1990 citado por Freire, 1996).

Estratégia: a terceira componente estratégia, é o processo em si, onde a énfase é colocada em como as intervenções são implementadas entre os participantes e o líder do grupo. Os elementos chave a ter em conta incluem: como criar confiança, construir coesão no grupo, encorajar a motivação e apoio mútuo entre os participantes e o facilitador (Freire, 1996).

3.1. Educação de Pares na Prevenção do HIV: HIV e Saúde Mental
Na visão de Freire (1996), a educação de pares é uma abordagem para prevenção do HIV em pequenos grupos que normalmente visa o comportamento individual. A abordagem do educador de saúde par recruta líderes nas comunidades em risco para serem os implementadores do programa de educação para os seus pares. De acordo com Sepulveda (1992) citado por Freire (1996), a selecção de educadores de pares, quase sempre segue os seguintes requisitos:
  • aceitação por parte dos outros membros do grupo;
  • ser um líder de opinião, por conseguinte, bem respeitado no grupo;
  • vontade de receber formação; e
  • estar comprometido com os objectivos do programa.

Nestas várias situações, os educadores de pares podem realizar diferentes tarefas, variando desde o desenvolvimento e a distribuição de materiais, incluindo vídeo-clips e panfletos, bem como discussões sobre a distribuição do preservativo até conversas com pares sobre diversos tópicos, tais como potenciação, direitos humanos e de saúde e informação básica sobre o SIDA (Freire, 1996).

Muitas intervenções combinam a educação de pares com outras abordagens, tais como o uso de redes sociais, marketing social do preservativo e extensão Roy (1992); Seema (1992) & Boontan (1993) citados por Freire (1996), uma vez que estas abordagens podem ser complementares. O trabalho de extensão usando pares resultou num aumento da participação dos membros da comunidade visada, bem como no aumento da diversidade dos participantes.
Os autores defendem que pacientes com transtornos psicológicos são mais vulneráveis a serem infectados com HIV. Portadores de HIV tem altos índices de depressão maiorm, alcoolismo e tendência ao suicídio. Um outro estudo identificou correlação com transtornos de ansiedade, transtornos sexuais e abuso de substancias tóxicas.

4. Aconselhamento Psicológico
O aconselhamento é a marca deste serviço, transcendendo o âmbito da testagem. Ele é um diálogo baseado em uma relação de confiança que visa proporcionar à pessoa condições para que avalie seus próprios riscos, tome decisões e encontre maneiras realistas de enfrentar seus problemas relacionados com HIV/SIDA (Gayet et al. 2002). Para auxiliar o profissional durante o aconselhamento, como afirmou o palestrante, são sistematizados procedimentos chamados de pré e pós-teste; entretanto eles não devem ser utilizados como uma prescrição ou mero instrumento de colecta de dados e repasse de informações, substituindo o vínculo com o usuário do serviço.

4.1. Aconselhamento Psicológico e Testagem Voluntário
Em números crescentes, as pessoas nos países industrializados estão a receber os resultados dos seus testes de HIV na medida em que as opções terapêuticas se vão tornando disponíveis para mais pessoas. As pesquisas mostraram muitas razões para que os países em desenvolvimento tornem o aconselhamento e testes voluntários (ATV) acessíveis às suas populações (UNAIDS, 1998 citado por Gayet et al., 2002). A detecção precoce do vírus permite o envio para cuidados clínicos e apoio psicológico. Eticamente, as pessoas têm o direito de saber o seu seroestado de modo a protegerem-se a si próprias e aos outros. Segundo o palestrante, conhecer o seu seroestado e as opções disponíveis pode motivar as pessoas a mudar o seu comportamento de alto risco.

Para além do mais, Gayet et al. (2002), observa que o aconselhamento e teste de HIV pode ter um impacto social importante, uma vez que, conhecendo o seu sero-estado as pessoas podem partilhar tal informação com os outros, abrindo espaço para mudanças nas normas sociais acerca do HIV e SIDA. Um resultado positivo de HIV tem também encorajado algumas pessoas a dar testemunhos pessoais em fóruns comunitários, o que pode ter um efeito poderoso nas atitudes dos indivíduos, comportamentos e normas sociais. Em contextos culturais onde a fertilidade é altamente valorizada, o aconselhamento e testes fornecem uma alternativa importante para a mudança comportamental em direcção ao uso consistente do preservativo.
Referencia-se o usuário para os serviços de assistência e apoio da comunidade, reforçando a necessidade de acompanhamento médico e psicossocial, e agenda-se retorno. Em caso de resultado indeterminado, orienta-se sobre a colecta de uma nova amostra, reforça-se a adoção de práticas seguras para a redução de riscos e consideram-se as reacções emocionais que possam ocorrer no período de espera do resultado do teste (Gayet et al., 2002).

4.2. Aconselhamento Pré-teste
Segundo Minayo (1992), o aconselhamento pré-teste pode ser colectivo ou individual e é um momento preparatório sobre os possíveis resultados do teste e o impacto na vida do usuário. O palestrante referiu que trocam-se saberes, explora-se o apoio emocional e social disponível do usuário, avaliam-se riscos e medidas de prevenção específicas e reafirma-se o carácter confidencial e o sigilo das informações .

4.3. Aconselhamento Pós-teste
O aconselhamento pós-teste envolve a entrega do resultado, deve ser necessariamente realizado por aconselhamento individual, sempre reafirmando o carácter confidencial e o sigilo das informações. Em caso do resultado ser negativo é lembrado que negativo não significa ser imune da janela imunológica, da adesão ao preservativo e não compartilhamento de objectos perfurocortantes. É também definido um plano viável de redução de riscos que leve em consideração as questões de gênero, vulnerabilidades ao HIV, diversidade sexual, uso de drogas e planeamento familiar (Minayo, 1992).
O autor defende que no caso de o resultado ser positivo é permitido o tempo necessário para assimilação do impacto do diagnóstico e expressão de sentimentos. Ressalta-se que a infecção é tratável, reforça-se a questão da prevenção lembrando os riscos de reinfecção e transmissão para outros, orienta-se a pessoa sobre a necessidade de o resultado ser comunicado ao parceiro (a) e a necessidade de este realizar o teste anti-HIV. Contribui-se para definir um plano viável de redução de riscos que leve em consideração as questões de género, vulnerabilidades, planeamento familiar, diversidade sexual e uso de drogas.


5. Análise e Reflexão
No entender de Filho (2003), quer implicitamente, quer explicitamente, quase todas as intervenções de prevenção são baseadas em teorias. Muitas assentam na assunção de que dar informação correcta acerca da transmissão e prevenção conduzirá à mudança de comportamento. No entanto, por várias vezes, as pesquisas já provaram que só a educação não é suficiente para induzir à mudança comportamental em muitos indivíduos.
Assim, devem ser desenvolvidas intervenções com base em abordagens cognitivas e psicossociais individuais que educam os indivíduos em habilidades práticas para reduzir o seu risco de infecção pelo HIV (Kalichman, 1997 citado por Parker & Camargo, 2000).
Muito recentemente, investigadores sociais chegaram à conclusão de que, uma vez que os comportamentos de saúde complexos, como o sexo, ocorrem num contexto, os factores socioculturais que circundam o indivíduo têm que considerados quando se concebem intervenções de prevenção. Finalmente, por detrás do indivíduo e das suas relações sociais imediatas estão as maiores questões de determinantes estruturais e ambientais que também jogam um papel significativo no comportamento sexual (Sweat, 1995 citado por Filho, 2003).
Normas sociais, critérios religiosos e relações do género e poder dão sentido ao comportamento sexual, permitindo mudanças positivas ou negativas. Uma diferença importante entre modelos sociais e individuais é a de que a última tem como objectivo mudanças a nível da comunidade. As teorias sociológicas afirmam que a sociedade está dividida em pequenas subculturas, e que são os membros dos grupos mais próximos, o grupo dos pares com quem uma pessoa mais se identifica, que exercem a maior influência no comportamento de um indivíduo (Figueiredo & Ayres, 2002).
De acordo com esta perspectiva, os esforços de prevenção efectiva, especialmente em comunidades vulneráveis que não têm um apoio social mais alargado irão depender do desenvolvimento de estratégias que podem atrair a mobilização da comunidade para modificar as normas desta rede de parceiros com a finalidade de apoiar mudanças positivas no comportamento (Kelly 1995 citado por Filho, 2003).
Como essas sugestões, enfatiza-se bastante que seja dada informação, principalmente através de palestras, conversas, debates, orientação, informação e conscientização. Esses temas devem ser inseridos nos programas curriculares das escolas, tratados com vídeos, trabalhos escolares, outros sugeriram campanhas, distribuição de camisinhas e de anticoncepcional nas escolas e nas comunidades.
Chama-se a atenção as sugestões de cunho moral, como uma maior vigilância e controlo do comportamento de risco. Perante a verificação da importância das normas sociais e da comunicação sexual para vários grupos, incluindo jovens, HSH e heterossexuais, os autores recomendam intervenções ao nível de comunidade com o objectivo de reforçar a percepção de que os outros também praticam sexo seguro .
Como afirma Buunk, as diferenças agudas na percepção do risco entre homens e mulheres reflectem as diferenças subjacentes no poder social, que é o caso em muitos contextos pelo mundo fora. Para abordar as necessidades das mulheres na prevenção do HIV, especialmente nos países em desenvolvimento, é preciso dar uma ênfase maior ao desenvolvimento de métodos controlados pela mulher, bem como uma abordagem mais abrangente da prevenção do HIV, que considere a posição social da mulher (Buunk, 1991 citado por Freire, 1996).

6. Considerações Finais
De acordo com o palestrante, o comportamento sexual seguro continua a ser o único método eficiente de prevenção da infecção com HIV. Apesar de que tremendos desafios ainda se colocam à saúde pública e às ciências sociais em geral no tocante à prevenção do SIDA. Tornou-se claro que intervenções eficientes de redução do risco de HIV, como afirma Kelly (1995) citado por Filho (2003), vão para além de um simples fornecimento de informação e assistência: sensibilizar as pessoas para o risco individual, melhorar a comunicação sexual entre os casais, aumentar as aptidões individuais para o uso do preservativo, perceber as práticas de menor risco como uma norma social aceite e ajudar as pessoas a receberem apoio e reforço nos seus esforços de mudança.
Estes princípios formam as bases das estratégias quecpodem ser bem sucedidas na prevenção do HIV, mas as diferenças nas condições individuais, sociais, culturais e económicas ditam uma concepção e implementação diferente dos programas. Os programas não devem ser modificados para se adaptarem a certos contextos culturais, como também os indivíduos no seio dos grupos podem estar em diferentes fases de disponibilidade para mudarem, pelo que as intervenções de sucesso devem tomar as diferenças individuais também em consideração.
As mudanças no comportamento, tais como um grande aumento do uso do preservativo, tiveram lugar em grupos populacionais muito diversos, e daí se podem tirar algumas conclusões. Parker & Camargo (2000), sugerem que quando as intervenções tiverem feito com que os participantes tomem parte por si próprios na mobilização e no estabelecimento de objectivos, então os esforços terão sido altamente bem sucedidos, essa ideia é partilhada por Filho (2003), onde o destaque incluem as mudanças normativas que os homossexuais masculinos e as trabalhadoras do sexo.
Apesar de muitos avanços no campo e das muitas mudanças verificadas no comportamento, grupos populacionais expostos ao mais alto risco não partilharam por igual a atenção e os recursos alocados, a nível global, para a prevenção do SIDA.
Nesta etapa, os programas deviam enfatizar as abordagens transteóricas que combinam os constructos do nível individual com projectos de nível comunitário que focalizam a mudança da norma. A organização comunitária pode ter o poderoso efeito de dar um sentido unificado do propósito e novas crenças na possibilidade da mudança (Stevens, 1998 citado por Figueiredo & Ayres (2002).




7. Referências Bibliográficas
Filho, H. C. (2003). Adolescência e aids: avaliação de uma experiência de educação preventiva entre pares. Interface- Comunicação, Saúde e Educação
Figueiredo, R. & Ayres, J. R. C. M. (2002). Intervenção comunitária e redução da vulnerabilidade de mulheres às DST/Aids em São Paulo, SP: Revista de Saúde Pública. Vol. 36 4
Freire, P. (1996). Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo. Paz e Terra.
Gayet, C. et al. (2002). Aconselhamento Psicológico e Instituição: Algumas considerações sobre o Serviço de Aconselhamento Psicológico do IPUSP. São Paulo. Casa do Psicólogo. Disponível em www.eci.harvard.edu . Acesso às 20.10H do dia 21.10.2001
Minayo, M. C. S. (1992). Serviço de Aconselhamento Psicológico do IPUSP: breve histórico de sua criação e mudanças ocorridas na década de 90. Lisboa: Formacau e Educa. Disponível em: http://www.alfa1.org/portugues_temas_interes_sicologia_apoyo.htm, acessado às 09:18Hno do dia 27.10.11
MISAU (2002). Boletim Epidemiológico de Aids. Ano XV, No. 1. Maputo.
Parker, R. G. & Camargo, J. K. R. (2000). Pobreza e HIV/AIDS: aspectos antropológicos e sociológicos. Cad. Saúde Pública.