ELIAS RICARDO SANDE

ELIAS RICARDO SANDE
PSICOLOGO SOCIAL E DAS ORGANIZACOES

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Sono e Ritmos Biológicos


1. Introdução
Há décadas cientistas descobriram que os ritmos biológicos de um organismo vivo não ocorriam como consequência directa das variações ambientais, mas eram geradas endogenamente através de estruturas denominadas “relógios biológicos”. O facto de um organismo possuir estruturas neurais que temporizam suas funções fisiológicas/comportamentais e, por sua vez, são ajustadas pelo ciclo ambiental.
Muitas funções fisiológicas estão acopladas de uma forma previsível ao sono do indivíduo. No sono, a temperatura central corpórea, exibe uma estável ritmicidade circadiana e tem sido utilizada como marcadora de outros ritmos endógenos. Durante o sono, a temperatura central aumenta cerca de 0,2 graus centígrados, e verifica-se uma diminuição da capacidade de auto-regulação térmica. O sono juntamento com outros fenómenos constituem os chamados rítmos biológicos.
O presente trabalho, aborda o tema Sono e Ritmos Biológicos e tem como objectivo principal descrever o funcionamento dos ritmos biológicos e caracterizar em particular as propriedades associadas ao sono. Para a sua elaboração, adoptou-se como técnica: Revisão bibliográfica e Análise reflexiva da informação colhida. O mesmo, tem a seguinte estrutura: a presente Introdução; Enquadramento Teórico; Factores que podem alterar os Ritmos Biológicos e distúrbios do sono; Ritmo Biológico e Sono; Variações Fisiológicas durante o Sono e uma breve Conclusão.
2. Enquadramento Teórico
De acordo com Chave (2010), cada pessoa tem o seu ritmo biológico, existem pessoas que dormem de noite e estão activas durante o dia, porém há pessoas que são noctívagas pois estão mais despertas de noite. Tudo isto depende muito dos hábitos da pessoa e do tipo de trabalho que cada um tem. Se uma pessoa trabalhar durante o dia, tenderá a sentir-se mais cansada a noite, pelo contrário se uma pessoa tiver um trabalho nocturno tenderá a dormir de dia.

Para Pires (2008), o sono faz parte dos vários ritmos biológicos que ocorrem nos seres humanos incluindo outros seres vivos. Com isso, segundo Wey (2010), o ritmo biológico é toda a expressão fisiológica (biologica) e/ou comportamental de um organismo vivo que se expressa com uma periodicidade regular e é gerada internamente, como por exemplo a secreção de uma hormona, o momento de frutificação das plantas, a época de acasalamento dos animais, o ciclo menstrual da mulher, e outros tantos exemplos.
O ritmo biológico está associado ao chamado relógio biológico que de acordo com Tufik (2008), corresponde a áreas específicas do cérebro e está directamente relacionado com o sono, bem como com todas as outras funções corporais e, é regulado por duas pequenas estruturas que estão situadas sobre o hipotálamo, uma zona na base do cérebro. Em cada uma dessas estruturas há cerca de 20 neurónios que regulam o funcionamento de todo o organismo.
Por sua vez, Sono é um estado ordinário da consciencia, complementar ao da vigília ou estado acordado, em que há repouso normal e periódico, caracterizado, tanto no ser humano como nos outros vertebrados, pela suspensão temporária da actividade perceptivo-sensorial e motora voluntária (Chave, 2010). O sono juntamente com tantos outros fenomenos como o caso de batimento cardíaco aos movimentos respiratórios, função urinária, tensão arterial e temperatura intra-cerebral e do corpo regulado e acertado pelo relógio biológico, fazem parte de ritmos biológicos (Tufik, 2008).
Na perspectiva de Kolb & Whishaw (2001), entre os ritmos biológicos humanos mais estudados citam-se a variação entre os estados de sono e vigília, conhecido como ciclo vigília/sono. As necessidades de sono de um bebé diferem para um adolescente e deste para um indivíduo adulto ou um idoso. Algumas características nos padrões do ciclo sono-vigilia são peculiares a determinadas faixas etárias. Por outro lado, segundo Pires (2008), existem diferenças individuais quanto a necessidade de sono entre indivíduos com a mesma idade. De acordo com a preferência de horário de início e final de sono existem indivíduos matutinos, que dormem cedo e acordam cedo, e indivíduos vespertinos, que dormem mais tarde e acordam mais tarde.
2.1. Factores que podem alterar os Ritmos Biológicos e distúrbios do sono
Kolb & Whishaw (2001), defendem que o stress e a exposição à luz e à sombra por muito tempo, além de muitos outros factores físicos e mentais, podem alterar esse ritmo circadiano. Podendo retardar ou acelerar para 25/23 horas, porém, todo o corpo se adapta lentamente a essa pequena modificação, como nos casos de trabalho por turnos, viagens longas. No entanto, o ritmo tem tendência a auto-regular-se, voltando às 24 horas, após período de adaptação, variável, e relacionado com a extensão do desvio horário.
Para Pires (2008), dentre os distúrbios mais frequentes do sono lista-se: Insônia (ausência de sono); Narcolepsia; Sonolência diurna excessiva (observado, principalmente, em pacientes com distúrbios respiratórios relacionados ao sono); Apnéia do sono (o mais grave distúrbio do sono); Ronco; Parassonias (sonambulismo, pesadelos, terror do sono, bruxismo; Epilepsia do sono; Distúrbios de fases do sono; Distúrbios dos movimentos rítmicos; Distúrbios comportamentais (distúrbios depressivos, esquizofrenia, alcoolismo, dependência de drogas).
2.2. Ritmo Biológico e Sono
Wey (2010), refere que o sono é um processo fisiológico complexo que é influenciado por propriedades biológicas intrínsecas, temperamento, normas culturais e expectativas da pessoa/familiares, e das condições ambientais. Pires (2008), acrescenta que uma das principais características biológicas do sono é alternar-se com a vigília e formar com ela um ciclo de periodicidade bastante regular ao longo de um dia. No adulto médio, o sono ocupa, mais ou menos, 1/3 do tempo do dia, e a vigília, 2/3. A essa periodicidade previsível do sono em torno de um dia denomina-se ritmo circadiano do sono
Wey (2010), defende que o estado de sono é caracterizado por um padrão de ondas cerebrais típico, essencialmente diferente do padrão do estado de vigília, bem como do verificado nos demais estados de consciencia. Dormir, nesta acepção, o que é concordado por Chave (2010), significa passar do estado de vigília para o estado de sono. No ser humano o ciclo do sono é formado por cinco estágios e dura cerca de 90 minutos, podendo chegar a 120 minutos e, repete-se durante 4 a 5 vezes durante o sono:
  • Fase 1: Melatonina é liberada, induzindo o sono (sonolência); Fase 2: Diminuem os ritmos cardíaco e respiratório, (sono leve) relaxam-se os músculos e diminui a temperatura corporal; Fase 3 e 4: Pico de liberação do GH e da leptina; cortisol começa (sono profundo) a ser liberado até atingir seu pico, no início da manhã; Sono REM (movimentos rapidos dos olhos): e o pico da actividade cerebral, quando ocorrem os sonhos. O relaxamento muscular atinge o maximo, voltam a aumentar as frequências cardiacas.
A cronobiologia considera os ritmos biológicos endógenos como eventos fisiológicos e comportamentais que oscilam entre 20 e 28 horas como sendo ritmos circardiano, os quais são impelidos, ajustados por condições extrínsecas ao organismo, a ciclos ambientais de 24 horas. Assim, não apenas o sono, mas quaisquer outros ritmos biológicos que se temporizam com a duração de um dia denominam-se, ritmos circardianos. Denominam-se também ritmo infradiano aos ritmos de baixa frequência, com periodicidades superiores à 28 horas, como, por exemplo, o ciclo menstrual (Kolb & Whishaw, 2001).
Pires (2008), defende que o sono ao ciclar com a vigília, forma um ritmo circardiano, apresenta, ele próprio, uma alternância entre situações fisiológicas diferenciadas, sono NREM e sono REM, as quais compõem um ritmo ultradiano. O ritmo ultradiano do sono é, assim, um ciclar periodicamente previsível, entre o sono NREM e o sono REM. São muitos os exemplos: o ritmo de disparo de neurônios da ordem de milissegundos, ou dos batimentos cardíacos, que é da ordem de minutos.
2.3. Variações Fisiológicas durante o Sono
No entender de Pires (2008), como a temperatura corpórea central, a liberação do cortisol endógeno também segue um consistente ritimo cardíaco. Tem sido igualmente usado como um ponto de referência de fase para outros ritmos endógenos. Inúmeras outras funções fisiológicas seguem, como o sono, uma ritmicidade circadiana, por exemplo, funçao gastrointestinal e renal, liberações hormonais, pressão arterial, nível de atenção, força muscular (mais intensa próxima das 15 horas), memória de curto prazo (mais eficiente próxima do meio-dia), humor etc.
O mesmo pensamento é defendido por Tufik (2008), que refere que o ser humano dorme devido a duas condições fisiológicas. A primeira é o determinismo circadiano, independente do quanto se dormiu na noite anterior. Este orienta a vigília e o indivíduo se mantem em alerta se ele não se encontra na fase do sono, mas sim de dia em que habitualmente está acordado. O estímulo para a vigília é bem vigoroso logo nas primeiras horas que se seguem ao horário que é o habitual de a pessoa acordar, é fraco o impulso se a pessoa acordar antes do seu horário habitual e mais ainda nas horas que antecedem o horário habitual de a pessoa adormecer, podendo diminui nas horas do meio da tarde.
A segunda é a homeostasia para o sono, a procura pelo equilíbrio e a normalidade da função fisiológica do sono. A quantidade e a qualidade do sono, maior ou menor, que a pessoa teve na noite anterior é a condição para haver um menor ou um maior impulso para o sono secundário à homeostasia para o sono, e, consequentemente, menor ou maior a propensão para dormir ou ter sonolência durante o dia, fora da fase normal do sono. Quanto maior o débito de sono de um indivíduo, maior é a sonolência diurna que o indivíduo vai manifestar.




3. Conclusão
Concordando com Pires (2008), que refere que a luz do amanhecer já pode ser suficiente para acordar um indivíduo pela manhã, isto é, induzir um avanço de fase em indivíduos normais. Entretanto, não é suficiente, quando luz fraca como o alvorecer, para condicionar grande atraso de fase, isto é, postergar o início do sono noturno. O sistema nervoso central recebe fluxos dos níveis de luz ambiental a partir da retina, por meio de células ganglionares especializadas. A exposição à luz em horas variadas do dia tanto pode adiantar como atrasar a fase em que o indivíduo tem mais propensão para dormir.
Um dos pensamentos partilhado por muitos autores é que cada indivíduo possui um ritmo biológico, um preciso “relógio interno”, cuja periodicidade pode ser bem determinada em situações experimentais quando se priva totalmente o indivíduo dos indicadores temporais ambientais. Esse relógio para o ciclo vigília/sono mostra um período (pico-a- pico) de aproximadamente 24,1 a 24,3 horas.
O Sistema Nervoso Central governa os ritmos circardianos por meio de um marca-passo endógeno, que é uma estrutura neuroanatômica a qual inclui o núcleo supraquiasmático localizado no hipotálamo anterior, o corpo da glândula pineal e suas conexões com a retina. O sistema nervoso central também governa o ritmo biológico de outras variáveis fisiológicas como, por exemplo, a temperatura corpórea, o cortisol e os níveis de melatonina, além de outras.
Muitos ritmos biológicos diários, se não todos, são endógenos e indicam a existência de uma organização temporal ou relógio biológico no organismo. Tem-se demonstrado que os ritmos diários estão sincronizados com determinados factores ambientais, entre os quais se destacam a luz e a temperatura. Verificaram-se ritmos deste tipo em todos os organismos, desde os protozoários até aos mamíferos, e mesmo nos vegetais.




4. Referências Bibliográficas
Chave, G. C. (2010). Ritmos biológicos e circadianos. Disponível em: http://www.portugal-linha.net/arteviver/ritmos.pdf , acessado aos 09.10.2011, 15hrs

Kolb, B. & Whishaw I. Q. (2001). Neurociência do Comportamento. São Paulo: Editora Manole

Pires, M. L. N. (2008). Alterações do Ritmo Circadiano do Sono e de Vigília em Crianças Cegas ou com Atraso no Desenvolvimento e o uso de Melatonina. 2ª edição. São Paulo: Atlas
Tufik, S. (2008). Medicina e Biologia do Sono. São Paulo: Editora Manole
Wey, D. (2010). Ciclo vigilia/sono: um ritmo biológico. Disponível em: http://daniwey.wordpress.com/2010/06/11/ciclo-vigiliasono-um-ritmo-biologico-muito-conhecido-mas-pouco-respeitado/pdf , acessado aos 09.10.2011, 14hrs

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