1. Introdução
Uma
das questões fundamentais da Psicologia é o estudo da constituição do ser
humano como um produto de processos concretos de relações entre os indivíduos e
entre estes e a natureza. Sob esta perspectiva, nos estudos psicológicos não há
lugar para uma natureza humana originária de actos impulsivos e fenómenos mágicos
que regeriam os comportamentos sexuais dos indivíduos.
De
acordo com Laraia (2004), a natureza humana não é um conjunto de imperativos
biológicos, ela é maleável e apresenta enorme plasticidade se comparada com o
determinismo a que estão sujeitos os animais. O meio ambiente e a cultura
alteram o carácter biológico da natureza humana. A biologia humana, embora seja
condição absolutamente necessária para a cultura, é também absolutamente
insuficiente e incapaz de especificar as propriedades culturais do
comportamento humano, e em especial quando se faladas relações íntimas.
Por sua vez, Lourenço (2002),
afirma que a relação íntima é variável em diversos sentidos. Muda no interior
dos próprios indivíduo, dentro dos géneros, nas sociedades, do mesmo modo como
difere de género para género, de classe para classe e de sociedade para
sociedade. Não existe uma categoria abstracta e universal de erotismo aplicável
para todas as sociedades. O perigo de se imaginar a existência de um
“biologismo” é que pode legitimar perigosas atitudes normativas para a relação
íntima, rotulando certas condutas como naturais e outras como desviantes ou
antinaturais.
Para a realização desse trabalho,
recorreu-se à revisão de literatura como metodologia. A busca de informação por
intermédio de obras físicas e electrónicas, artigos e publicações científicas,
forma as bases para a concretização dessa pesquisa. Nesses termos, o trabalho
tem um carácter de uma pesquisa bibliográfica.
2. Abordagens sobre Cultura
Leiblum & Pervin (1992), afirma
que etimologicamente,
a palavra cultura vem do latim colere,
que significa cultivar, criar, tomar conta e cuidar. Por sua vez Marchand
(2001), refere que na visão humanista clássica, a noção de cultura significa o
cultivo do espírito e da inteligência: a educação, o aperfeiçoamento de
faculdades humanas, o cultivo dos recursos intelectuais e morais dos indivíduos
e dos grupos humanos.
Tylor
(1871) citado por Lourenço (2001), sintetiza o conceito da cultura,
articulando-o numa visão abrangente, na qual, concebe todas as possibilidades
de realização humana como cultura, e não apenas os processos intelectuais e
artísticos. Além disso, ressalta que não se trata de um fenómeno natural, mas
de algo que se adquire na sociedade
As
tentativas modernas de chegar a uma precisão conceitual foram agrupadas por
Roger Keesing citado por Andrade (1997) nas seguintes vertentes teóricas:
- Cultura como um sistema adaptativo, que consiste em padrões de comportamento socialmente transmitidos, que servem para adaptar as comunidades humanas à sua base biológica e ao ecossistema. Inclui tecnologias, modo de organização económica, padrões de estabelecimento, de agrupamento social e de organização política, crenças e práticas religiosas e assim por diante.
- Cultura como um sistema cognitivo. Aqui concebe-se cultura como um sistema de conhecimento, aquilo que as pessoas precisam conhecer ou acreditar para actuar de acordo com a sociedade na qual estão inseridas.
3. Relações Íntimas
Uma
relação íntima apresenta componentes cognitivos e afectivos. Os parceiros são
capazes de compreender os pontos de vista de cada um e usualmente, experimentam
um sentido de confiança e estima mútuas. Uma relação íntima permite a revelação
de sentimentos pessoais assim como a partilha de ideias e planos que podem não
estar muito desenvolvidos (Furman & Simon, 1999 citados por Laraia, 2004).
Leiblum & Pervin
(1992),
referem-se a predisposições biológicas do ser humano para procurar e manter-se
em relações íntimas com outros tem início na adolescência com o estabelecimento
de relações com os pares, e proporcionam protecção e oportunidade de
mutualismo, altruísmo recíproco e jogo social. Deste modo, parece que a
vinculação se torna uma dimensão das relações que o adolescente estabelece com
outras pessoas além dos progenitores.
Com
base na psicologia social, as representações do self e dos outros sugerem
expectativas relativas à intimidade e proximidade, que podem ser representadas
pela vinculação, cuidados, sexualidade e a filiação e parecem estar organizadas
hierarquicamente. Lourenço (2002), adverte que o indivíduo posiciona-se nas
relações íntimas na vida adulta com expectativas derivadas de relações próximas
passadas que vão influenciar o padrão de interacção com os parceiros.
Se
as experiências nas relações íntimas actuais diferem das expectativas
existentes, espera-se que as representações dessas relações mudem. Quando as
experiências íntimas são semelhantes aquelas das relações passadas, as
expectativas iniciais são reforçadas. Das relações mais longas, que envolvem
maior compromisso, é esperado maior impacto nas relações íntimas futuras, do
que relações mais curtas. Deste modo, uma relação intima ganha importância
aumentada na hierarquia à medida que se torna mais séria, influenciando as
representações gerais das relações (Lourenço, 2002).
3.1. Intimidade
A
repetição de interacções íntimas ao longo do tempo revela-se importante para a
satisfação das necessidades individuais permitindo aos parceiros construir
percepções e sentimentos que os dois parceiros têm sobre eles, um do outro, e
da sua relação. Estes efeitos das interacções formam a base das relações íntimas
como amor, vinculação, confiança (Andrade, 1997).
Segundo
Marchand (2001), os parceiros íntimos são interdependentes na medida em que os
comportamentos íntimos de um licitam experiências íntimas no outro. As
experiências (sentimentos e percepções) que um parceiro lícita no outro
parceiro prepara-os para a intimidade mutua. A literatura sugere que a
experiência íntima apresenta duas dimensões:
- Afecto positivo - sentimentos de orgulho, força, amor, afecto, gratidão ou atracção; e
- Percepções da compreensão - percepção de que se é amado, aceite, compreendido, cuidado, ou amado pelo outro.
4. A Cultura como Instrumento que Norteia as
Relações Íntimas dos Indivíduos
A cultura funciona como uma lente através da qual podemos
ver o mundo dos humanos (Laraia, 2004). Nossas heranças culturais,
desenvolvidas através de inúmeras gerações, sempre nos condicionou a reagir
dentro de padrões manifestos pela maioria de nossa comunidade. Indivíduos de
culturas diferentes podem ser facilmente identificados por uma serie de
características, tais como modo de vestir, agir, comer, interpretar os dados
sociais etc.
O autor refere que a construção das relações íntimas
depende das crenças e dos valores culturais que os parceiros experimentam e
acreditam que lhes proporcionarão satisfação, amor, felicidade, alegria e
bem-estar em todas as dimensões (espiritual, física, psicológica e social).
As relações íntimas são produtos culturais que se
circunscrevem na construção de ordem moral e de valores comportamentais e de
relações interpessoais. Os diferentes comportamentos sociais, incluído as
relações íntimas são reconhecidos e validados a partir de sua referência
cultural (Leiblum & Pervin, 1992).
Essa base ideológica, segundo o autor, regulamenta as
relações de género, a ordem sexual da comunidade e da construção das relações
íntimas. Estas normativas ao longo dos anos se apresentaram como instrumento de
controlo desses padrões comportamentais, interferindo nas práticas individuais
e colectivas, estabelecendo explicações e causalidades entre os fenómenos
psico-sexuais humanos.
Na mesma perspectiva, Laraia
(2004), as relações íntimas em seres humanos se exprimem em grande medida no
contexto da cultura, nos estilos de vida padronizados que caracterizam a vida
social. Esses padrões de vida são o legado da experiência dos ancestrais para
viver em bem-estar e se reproduzir em determinadas épocas levando em conta suas
condições políticas, económicas, históricas, geográficas e religiosas. Nas
diferentes culturas, sob determinadas condições, um padrão pode ser mais “
natural ” do que outro, que, por sua vez, pode tornar-se mais “ natural ” se as
condições mudarem.
5.
Conclusão
O
ser humano é um ser cultural. Não existem, e nunca existiram mulheres e homens
vivendo sem cultura. Os indivíduos somente sobrevivem e se realizam pela
cultura. A cultura permite ao ser humano encontrar-se no mundo,
interpretando-se a si mesmo e interpretando o mundo, no nível das
representações e no nível dos sinais vividos. Também é mediante a cultura, que
o ser humano confere finalidade e sentido às realidades.
As
relações íntimas fazem parte desses padrões comportamentais, que resultam das
variações culturais de cada sociedade. A escolha de parceiro sexual, a
construção das relações amorosas ou românicas, o exercício da sexualidade, a
compreensão do casamento e do namoro, a busca da identidade, são processos que
são atribuídos significados através da cultura.
De
forma sumária, o presente estudo poderá ser uma forma de compreender os diferentes
níveis de compromisso e de confiança nas relações íntimas dos seres humanos. Onde
a intimidade aparece como uma característica que distingue as relações de maior
importância e valor para cada indivíduo, sendo preditiva de elevados níveis de
satisfação, amor e confiança. Nesses termos, relações íntimas bem-sucedidas
concorrem para a saúde do indivíduo e do seu bem-estar dos parceiros envolvidos.
6. Referências Bibliográficas
Lourenço,
O. (2002). Psicologia de desenvolvimento cognitivo: teoria, dados e implicações. Coimbra: Almedina.
Marchand,
H. (2001). Temas de desenvolvimento
psicológico do adulto e do idoso. Coimbra: Quarteto Editora.
Laraia, R. B. (2004). Cultura: um
conceito antropológico. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora
Andrade, M. C. (1997).
Sexologia: fundamentos para uma visão interdisciplinar.
Rio de Janeiro: Editoria Central da Universidade Gama Filho
Leiblum, S. R. & Pervin, L. A. (1992). Princípios e prática sexual. Rio de Janeiro: Zahar,
Cole, W. G. (1959). O Sexo e
Amor na Bíblia . New York,
Association Press
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