1. INTRODUÇÃO
O presente trabalho surge no âmbito de uma serie de actividades
investigativas que tenho desenvolvido em tempos livres como profissional de
psicologia e investigador independente de fenómenos sociais que perpassam as
nossas sociedades. Constitui um trabalho científico que tem como tema ´´Aconselhamento
Psicológico em Pessoas vítimas de Violência Doméstica´´. O estudo está
basicamente centralizado na Teoria de Carl Rogers, sem descartar as outras
teorias que abordam o tema em análise e, tem como objectivo verificar o impacto
do Aconselhamento Psicológico na vida de vítimas de Violência Doméstica.
A problemática da violência contra mulher é considerada
uma questão de saúde pública actualmente, tendo em vista que a mesma afecta não
só a vítima, mas também a sociedade e qualquer pessoa independente do nível
socioeconómico, cultural e nível de escolaridade, pois todas se encontram susceptíveis
a sofrer violência.
No processo de Aconselhamento Psicológico, a Teoria de
Carl Rogers considera o paciente como um sujeito activo, sendo este responsável
pela sua melhoria, na medida em que potencializa o indivíduo na busca de
soluções para resolver os problemas apresentados.
Segundo UNESCO (s/d), a fundamentação da Teoria de Rogers
é que os homens possuem uma tendência de auto-actualização em direcção ao
desenvolvimento das capacidades que servem para manter e elevar o indivíduo.
Seguindo esse impulso inato, as pessoas podem conhecer as suas necessidade e
desenvolver uma visão de si mesmas e integrar na sociedade de modo benéfico.
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
A preocupação para a saúde física e psicológica de mulheres e crianças
vítimas de violência doméstica passou a ser interesse para todas as camadas
sociais em quase todo o mundo. Os profissionais de psicologia preocupam-se em dar
apoio psicológico à essas vítimas que apresentam pensamentos desordenados,
ansiosos e conflituosos como consequência directa da violência doméstica. Os
serviços de aconselhamento psicológico no GAMC visam atender às mulheres e
crianças que procuram o auxílio legal.
2.1.Violência Doméstica
Na
visão de Abreu (2011,um dos graves problemas que atinge a humanidade é o fenómeno
da violência. A violência está entre as principais causas de morte de pessoas
com idade entre 15 e 44 anos, de uma forma geral, no mundo. O uso intencional
da força física ou o abuso de poder, contra outra pessoa, grupo ou comunidade
trazem impacto e consequências danosas para a humanidade.
De acordo com
Teles & Melo (2002), pode-se dizer que a principal vítima da violência
doméstica é a mulher. No entanto, é preciso incluir outros integrantes da
família, como as crianças, os indivíduos portadores de deficiências e/ou os
idosos onde o agressor se beneficia da vulnerabilidade destas pessoas para
espancá-las e/ou humilhá-las.
Giordanni (2006),
refere que a violência doméstica é tida como qualquer ato de violência baseado
no género que resulte ou possa resultar em dano ou sofrimento físico, sexual ou
psicológico à vítima.
Sabe-se que a
violência doméstica é um fenómeno que atinge um número significativo de
mulheres e independente de qualquer nível sócio/cultural/económico específico e
pode ser considerado um sério problema de saúde pública; que se agrava cada vez
mais em nossa sociedade (Izumion, 1998).
De acordo com
Teles & Melo (2002), violência implica na utilização da força física,
psicológica ou intelectual para obrigar o indivíduo a fazer algo que não está
com vontade. É constranger, limitar a liberdade da pessoa, incomodar e
impossibilitar a execução manifesta de seus desejos e vontades, sob a punição
de viver ameaçada.
Segundo Ferrari
& Vecina (2002), o termo doméstica está relacionado à casa, à vida
familiar. No âmbito familiar, a instituição família é responsável pela
transmissão de valores e conhecimentos e pela socialização da criança. Porém,
não se pode deixar de considerar que em sua dinâmica, incluem a violência tanto
física como psíquica e que de certa forma este processo também vai se
cristalizando no decorrer da vida familiar quotidiana e chega até mesmo a
afectar outras pessoas desta família.
As autoras
comentam que as justificativas da agressão por parte dos maridos e/ou
companheiros são as mais diversas. Geralmente, o significado maior atribuído
pelo agressor reside na ofensa da sua mulher e a sua masculinidade. Esta ofensa
oscila entre a fantasia, os sonhos e o pensamento de traição do agressor. A
violência contra a mulher tem origem na sua discriminação histórica. Num longo
processo de construção e consolidação de medidas e acções explicitas e
implícitas que visam à submissão da população feminina, que tem ocorrido
durante o desenvolvimento da sociedade humanas (Teles & Melo, 2002).
2.1.1. Caracterização
da Violência Doméstica
A
essência da manifestação da violência doméstica vem da distribuição desigual do
poder, tanto físico, social, quanto económico do homem sobre a mulher. Segundo
dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) (2000) citada por Telles & Melo (2002),
quase metade das mulheres assassinadas são mortas pelo marido ou namorado, actual
ou ex. A violência responde por aproximadamente 7% de todas as mortes de
mulheres entre 15 a 44 anos no mundo todo. Em alguns países, até 69% das
mulheres relatam terem sido agredidas fisicamente e até 47% declaram que sua
primeira relação sexual foi forçada.
É uma forma de
coagir, de submeter o outro ao seu domínio, é uma violação dos directos
essenciais do ser humano. Às vezes, o predicado da violência indica em que
espaço ela ocorre, como é o caso da expressão violência escolar, aquela que
ocorre no âmbito da escola. A violência doméstica é caracterizada por toda
acção que prejudique o bem-estar, a integridade física, psicológica ou a
liberdade e o direito ao pleno desenvolvimento de um membro da família.
Geralmente cometida dentro do ambiente familiar, por qualquer integrante da
família que esteja em relação de poder com a pessoa agredida. Inclui também as
pessoas que estão exercendo a função de pai ou mãe, mesmo sem laços de sangue (Ferrari & Vecina, 2002).
É relevante
apontar alguns tipos de violência que a mulher sofre, dentre as agressões,
Teles e Melo (2002), apontam as físicas:
os empurrões, os chutes, as bofetadas, os puxões de cabelo, os beliscões, as
mordidas, as queimaduras, etc. Por violência psicológica, as autoras citam
os exemplos: as humilhações, as ameaças
de agressões em si, à privação de liberdade, o impedimento ao trabalho ou ao
estudo, os danos propositados a objectos, animais ou pessoas estimadas, o
impedimento de contacto com familiares e amigos.
Já para as
violências sexuais, o agressor pode valer-se de expressões verbais ou corporais
que não são do agrado da pessoa, toques ou carícias não desejadas, prostituição
forçada e participação em pornografia (Teles & Melo, 2002).
2.1.2. Factores
Ligados à Violência Doméstica
Giordanni (2006),
refere que não é possível delimitar quais factores podem levar à violência
doméstica, é um problema que acomete ambos sexos, atingem crianças,
adolescentes, adultos e idosos. Não costuma obedecer nível social, económico,
religioso ou cultural específico.
Izumion, (1998), relata que o agressor
não é o único responsável pela violência sofrida pela mulher, sendo que a
sociedade cultiva valores que incentivam a violência, havendo necessidade de
que se tome consciência que a culpa é de todos. Pois nas nossas culturas
predominam as relações de desigualdade de dominante e dominado, no qual o homem
acaba exercendo maior poder e influência sobre a companheira, e essa relação
advém da desigualdade no exercício do poder que vem sendo disseminado pela
sociedade até os dias actuais.
De
acordo com Izumion,
(1998), sofremos influências de instituições como a família, a
escola e a igreja, durante todo o nosso desenvolvimento. Ensinam-nos normas e
valores culturais, educando meninos e meninas para que possam diferenciar o que
é próprio do sexo feminino daquilo que é peculiar do masculino, reconhecendo
assim os papéis de cada sexo. Aprendemos desde cedo a representar os papéis
atribuídos aos géneros, e que consequentemente influencia na construção da
identidade de género.
O
homem sempre teve um papel activo na sociedade, cabendo a mulher o papel de
reprodutora. O homem sendo o chefe da família, quem sustenta e provem a casa. A
mulher dependente financeiramente restava se subordinar aos mandamentos do
homem e “consentir” todos os tipos de tratamento (Ferrari & Vecina, 2002).
Como
na natureza, nas sociedades humanas construídas sob fundamento bio-psíquico , foram
estabelecidas regras que, milenarmente, atribuem à mulher as tarefas de cuidado da prole. Tal
papel, historicamente muito mais feminino que masculino, ajudou a afastar a
mulher das interacções produtivas, sociais e políticas ocorrentes nos espaços
públicos em geral. O lugar feminino, o doméstico, tornou-se, em virtude da
dependência da mulher em relação ao homem, para seu sustento e de sua prole, espaço
de submissão, onde o controle social se dá principalmente pela regulação moral
da sexualidade feminina (Izumion, 1998).
Essa
construção cultural de género determina a diferença entre os sexos, e põe a
mulher num status inferior ao do homem tanto socialmente quanto sexualmente.
Permitindo assim a submissão da mulher perante o homem, construindo uma relação
violenta entre homens e mulheres considerada normal.
De
acordo com Telles & Melo (2002),
muitos autores acreditam que a violência pode ser passada de geração em
geração, e segundo aponta Izumion (1998) "o indivíduo aprende a violência pela
cultura.
Telles & Melo (2002), afirmam haver
um desequilíbrio entre o masculino e feminino sendo este desequilíbrio de
origem biológica que resulta de uma diferença entre os sexos que não é único da
raça humana, mas que esta presente na maior parte das espécies animais. Izumion (1998),
conclui que o comprometimento da fêmea com a gestação e, no seu rastro, a
desigualdade de condições entre machos e fêmeas para replicação dos próprios
genes, é o fundamento genético-biológico que, na espécie humana, deu origem às
diferenças de socialização, convivência e atribuições entre homens e mulheres,
denominadas diferenças de género.
Por
seu turno, Bandura (1973) citado por Abreu (2011), na sua teoria de
aprendizagem social, explica que o ambiente social tem uma importante
influência na aquisição, manutenção e modificação das respostas agressivas. E
que a criança aprende a agressividade através da imitação de um modelo
agressivo. Tendo os meninos uma maior tendência a imitar os comportamentos
agressivos do que as meninas. E isso se deve ao facto de o comportamento
agressivo ser mais socialmente aceito quando são perpretados por homens.
2.1.3.
Ciclo da Violência Doméstica
Entende-se
que a violência alicerçada à nossa cultura geralmente se constitui em três
fases, e segundo Abreu, (2011), a primeira é o de acúmulo de tensão no
relacionamento. Nessa fase podem ocorrer incidentes menores como
agressões verbais, crises de ciúmes, ameaças, destruição de objectos etc. É um
período de duração indefinida, no qual a mulher geralmente tenta acalmar seu
agressor, mostra-se dócil, prestativa, sendo capaz de antecipar cada um de seus
caprichos e buscando não irritar seu parceiro, acreditando que pode impedir que
a raiva dele se torne cada vez maior. Sente-se responsável pelos actos do
marido ou companheiro e pensa que se fizer às coisas correctamente os
incidentes podem terminar.
A
segunda fase é a fase da explosão. Nesta fase se desencadeia
um processo agudo de violência contra a mulher, com consequente descarga da
tensão acumulada durante a primeira. Os efeitos são lesões corporais provocadas
por socos, tapas, bofetadas, pontapés, mordidas, ou através da utilização de
instrumentos como facas, revólveres, etc. A mulher vive este momento
com sentimentos de
perplexidade e impotência
diante da situação de violência.
Logo
após a ameaça intensa ou ataque agressivo, instaura-se um período de calmaria
na relação, que Abreu, (2011) chama de "Lua de Mel". O agressor
demonstra sentimentos de arrependimento, chora, faz juras e passa a se
comportar de modo apaziguador para conseguir o perdão da vítima e tratando-a
com atenção especial. A mulher agredida fica sensibilizada e, em geral, dá uma
nova oportunidade o agressor. Nega agressão sofrida e racionaliza, minimizando
seus efeitos e acreditando que o agressor vai mudar de atitude. Nessa fase o
casal se aproxima, intensificando a relação de co-dependência.
Esses
episódios de violência são repetitivos e tendem a se tornar cada vez mais
graves. Quanto mais espaçados os episódios violentos, maior é a resistência das
mulheres a romper com o ciclo da violência. Ferrari & Vecina (2002), referem que as
fases da situação de violência doméstica compõem um ciclo que pode se tornar
vicioso, repetindo-se ao longo de meses ou anos.
2.1.4. Consequências
da Violência Doméstica
A violência
produz resultados devastadores para a saúde da mulher, sabemos que há grande
probabilidade de seu bem-estar físico e mental. A violência aumenta o risco de
que a mulher tenha outros problemas de saúde, incluindo dores crónicas,
incapacidade física, abuso de drogas e álcool, depressão, aborto espontâneo ou
até morte (Ferrari
& Vecina, 2002).
Ferrari & Vecina (2002), relatam que as
consequências da violência na vida da mulher, incluindo a violência sexual são
diversas, as quais estão inclusas: abuso de drogas e álcool, distúrbios gastrointestinais,
inflamações pélvicas, dores de cabeça, asma, ansiedade, depressão, distúrbios
psíquicos, como tentativa de suicídio, além do trauma físico directo.
Muitas vezes,
as sequelas psicológicas da violência são ainda mais graves que seus efeitos
físicos. A experiência da violência, destrói a auto-estima da mulher, expondo-a
a um risco mais elevado de sofrer de distúrbios psíquicos, como depressão,
fobia, stress pós-traumático, tendência ao suicídio e consumo abusivo de álcool
e drogas.
3.2. Aconselhamento
Psicológico
Scheeffer (1986), conceitua o aconselhamento como uma acção
educativa, preventiva, de apoio, situacional, voltada para a solução de
problemas. Rogers (1980), considera que este processo trabalha com material
consciente e dá ênfase à normalidade. Seu objectivo é
facilitar à pessoa obter uma realização adequada; promover o desenvolvimento
através de escolhas acertadas. A
autora comenta que aconselhamento relaciona-se a apoio e a reeducação.
Segundo
Rogers (1980), aconselhamento psicológico é um instrumento que se propõe a
facilitar o resgate de uma visão mais integrada do cliente. Rogers (1980)
citado por Eisenlohr (1999), defende que aconselhamento é um diálogo
confidencial entre o paciente e o conselheiro cuja finalidade é contribuir para
que o primeiro supere o seu estado de stress e tome decisões relacionadas
saudáveis.
Rogers (1980), afirma que esse processo inclui a avaliação do risco
de factores ligados ao problema (violência doméstica) e a discussão sobre como
prevenir a e solidificar relações conjugais saudáveis.
Segundo Rogers (1980), no processo de aconselhamento trabalha-se com a
problemática que a pessoa expõe, acolhendo sua experiência em determinada
situação. Rosemberg (1987), comenta que esta característica de enfocar a
experiência da pessoa por seu próprio referencial está ligada a uma outra que
se refere à possibilidade de responder à pessoa que coloca sua demanda, já no
momento presente, no aqui-e-agora da
situação do encontro.
Rogers citado por Rosermberg (1987), diz a autora que todo este processo
possibilita a realização, onde o trabalho do conselheiro é no sentido de
facilitar ao cliente uma visão mais clara de si mesmo de sua perspectiva ante a
problemática que vive.
Com esta conceitualização pode-se realizar actividades com o objectivo de
auxiliar cada paciente a enfrentar os conflitos vividos numa relação de
violência doméstica, com um suporte psicológico, onde este proporciona
esclarecimento sobre sua situação, promovendo uma nova significação do
conflito. Consequentemente, as vítimas podem se tornar agente transformadora e
capaz de construir estratégias, modificando seu quotidiano, suas relações e com
capacidade de decidir sobre novas situações no âmbito familiar e social.
2.2.1.Objectivos e Importância do Aconselhamento
Segundo Rogers (1980), o aconselhamento psicológico,
por ser uma prática que oferece as condições necessárias para a interacção
entre as subjectividade, isto é, a disponibilidade mútua de trocar
conhecimentos e sentimentos, permite a superação da situação de conflito. Este toma os seguintes objectivos:
·
Melhorar o nível de
conhecimento sobre a violência doméstica;
·
Disponibilizar apoio
emocional;
·
Ajudar o paciente a
descobrir, perceber e ganhar uma visão interna acerca da sua situação,
problemas ou dificuldades;
·
Motivar o paciente na
busca de alternativas para solucionar o problema;
·
Auxiliar
na ressignificação da violência doméstica e projecto de vida.
Segundo Rogers (1980) citado
por Almeida (1999), o aconselhamento psicológico à vítimas de violência
doméstica têm também revelado três papéis centrais:
Papel Remediactivo:
o papel remediactivo envolve trabalhar
com indivíduos ou grupos (vítimas de violência doméstica), assisti-las remediar
(corrigir) os eventuais problemas. As intervenções remediactivas podem incluir
o aconselhamento pessoal e social ou a psicoterapia ao nível individual,
conjugal ou grupal;
Papel Preventivo:
é aquele em que o conselheiro procura
“antecipar, evitar, e, se possível, excluir dificuldades que poderão surgir no
futuro”. As intervenções preventivas podem focar-se nos designados “programas psico-educativos”
visando prevenir o desenvolvimento dos problemas;
Papel
Desenvolvimentista : também referido como
papel educativo-desenvolvimental, o seu objectivo é ajudar as vítimas de
violência doméstica a planear, obter e a derivar os máximos benefícios dos
tipos de experiências que os capacitarão a descobrir e a desenvolver as suas
potencialidades em face à fenómenos semelhantes.
2.2.2.
Comunicação e Escuta activa no Processo de Aconselhamento
Rogers
(1980), defende que as habilidades de comunicação eficientes são um componente essencial
para bom aconselhamento, é importante reconhecer e apoiar as mudanças de comportamento nos clientes daí que o foco deve ser no cliente. A característica marcante do conselheiro é a sua
grande sensibilidade para ouvir as pessoas.
O processo de
aconselhamento psicológico à vítimas de violência doméstica envolve a
construção duma aliança entre o conselheiro e paciente (vítima), na qual quem
promove a entrevista de aconselhamento disponibilizando tempo e liberdade para que
o paciente (vítima) explore os seus pensamentos e sentimentos, numa atmosfera
de confiança (Rogers citado
por Almeida, 1999). Rogers (1980), defende que o
aconselhamento psicológico também envolve 3 fases sucessivas, cuja utilidade é
a de sistematizar a intervenção e identificar o tipo de competências de
aconselhamento que é necessário usar em cada fase:
Exploração do problema: no contexto da relação
interacional entre o conselheiro e o paciente (vítima) é facilitada no paciente
(vítima) uma atitudes de exploração do problema, que permita a sua
identificação e caracterização a partir do seu ponto de vista, bem como a
focalização em preocupações específicas presentes. Esta fase exige escuta
activa,com compreensão empática, aceitação positiva incondicional, reflectindo
sentimentos e ajudando o paciente a ser específico;
Nova compreensão do
problema: trata-se de ajudar o paciente (vítima) a ver-se a si próprio e a
situação em que se encontra numa nova perspectiva e de focalizar naquilo que
poderá ser feito para lidar mais eficazmente com o problema. Nesta altura, o
cliente (vítima) tem que ser ajudado a identificar os seus recursos pessoais e
extrapessoais. Esta fase exige mais especificamente a utilização da compreensão
empática, transmissão de informação, ajuda para que o cliente reconheça
sentimentos, inconsistências e padrões de comportamento;
Delimitação de objectivos: trata-se de facilitar o
paciente a consideração das possíveis formas de agir, a avaliação dos seus
custos e consequências, a construção dum plano de acção e a forma de
implementá-lo. Isto implica focalizar na resolução de problemas, pensamento
criativo e processo de tomada de decisão.
2.3.
Papel do Psicólogo Social e Comunitário
O papel do psicólogo comunitário é de fundamental
importância, pois este profissional faz o uso de seus conhecimentos para poder
ajudar as pessoas que sofrem por falta de melhores condições de vida,
(Eisenlohr, 1999), o psicólogo social e comunitário depara-se com diversas
situações que na maioria das vezes chocam, mas que e necessário abrir novos
espaços para a resolução desses problemas sociais buscando melhores condições
de vida.
Segundo o autor, o psicólogo é visto na sociedade como um
operador da inclusão social e também se vê como uma pessoa, um profissional que
vem discutindo o que se tem feito durante tanto tempo acerca dos problemas
sociais e da exclusão provocada pelas “anormalidades” que a sociedade criou.
É o provedor da justiça e analista de fenómenos
psico-sociais, bem como o garante da saúde e do bem-estar social e das
comunidades. O papel do psicólogo-conselheiro é auxiliar a vítima na resolução
de conflitos com o parceiro, fazendo com que a mesma aprenda a monitorar os
comportamentos do agressor tornando-se responsável pela sua segurança.
3. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
Ao
longo deste artigo foram apresentados dados estatísticos e conceitos teóricos
importantes acerca desta problemática social, histórica e cultural que é a
violência contra mulher. Mesmo sendo algo tão presente em nossa sociedade,
vimos que existem poucos estudos referentes a esta temática publicada,
relacionados à área da Psicologia. É nosso papel enquanto futuros psicólogos
realizar pesquisas e apresentar propostas terapêuticas que auxiliem as pessoas
a lidar de forma mais saudável e construtiva com seus problemas emocionais.
Tendo
em vista tal dever neste artigo foi destacado o tratamento proposto pela Terapia
Cognitivo-Comportamental às vítimas de violência doméstica e ao agressor. Essa
abordagem apresentou uma proposta de tratamento psicoterapêutica não só à
vítima, mas também ao agressor com o intuito de romper com o ciclo da violência
em relação à vítima.
Com
esta pesquisa observou-se que é essencial oferecer o aconselhamento psicológico
as mulheres em situação de violência, porém, para que se possa superar o
problema é necessário também fazer um acompanhamento do agressor, pois apenas a
punição poderá torná-los ainda mais violentos. Se não encararmos o desafio de
transformar os comportamentos violentos e, com isso, buscar a construção da
paz, estaremos aprisionando nosso discurso e nossa prática na trajectória da
violência.
Vale
salientar também o papel não só do psicólogo na abordagem da violência contra
mulher, como a importância do papel dos órgãos judiciais, da saúde, governo e a
própria população em geral para contribuição no cessar de tamanha violência que
agride não só a vítima como a todos que a cercam.
Vimos,
através deste estudo, que o tratamento da violência doméstica segundo a TCC
pode ser realizado através das seguintes etapas: investigação, questionamentos
acerca da violência, investigação e identificação de crenças, avaliação de periculosidade,
planeamento de segurança e controlo,
aplicação de treino
de resolução de
problemas, treino de assertividade, relaxamento muscular
progressivo e o acompanhamento terapêutico. Esses passos são realizados tanto
com a vítima quanto com o agressor.
Entendemos
que este trabalho conseguiu atingir os objectivos propostos, principalmente
pela eficácia da TCC no tratamento da violência doméstica, podendo assim
ampliar o campo de discussões de profissionais ou académicos do curso de
Psicologia a respeito da prática clínica no tratamento da violência doméstica
com vítimas e agressores conjugais.
Vale
registar que a pretensão com este trabalho não foi de enaltecer a ciência
psicológica como a mais eficaz ou absoluta no tratamento de tal problema. Mas
sim o de apresentar uma alternativa comprovadamente eficaz, de técnicas da TCC
que foram adaptadas ao tratamento da violência doméstica, buscando, de alguma
maneira, humildemente contribuir para ampliar o nível de informação tanto para
psicólogos como a toda população acerca de tal problema.
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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