ELIAS RICARDO SANDE

ELIAS RICARDO SANDE
PSICOLOGO SOCIAL E DAS ORGANIZACOES

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Cultura: doenca, morte e luto

 Autor: Elias Ricardo Sande

Maputo, UEM-2010

 

 

 

 

I.introdução

Ao nascermos todos ficamos sujeitos a uma mesma limitação: a morte. Apesar de nos ser familiar, quer pela experiência próxima do falecimento de familiares quer de amigos ou mesmo desconhecidos, o tema da morte e do luto é um dos mais difíceis de abordar, causando um sofrimento terrível. Nesse jogo de morte e luto, torna-se necessário evocar o conceito de doença, pois, é a doença que geralmente causa a morte. O luto é uma consequência da morte de um ente-querido que pode causar depressão e perturbações aos amigos e familiars. Esses fenómenos, são interpretados de diferentes formas, variando de cultura para cultura.
O presente trabalho surge no âmbito da Cadeira de Psicologia Cultural e tem como objectivo a reflecção, conceptuação e interpretação da relação existente entre a doença, morte e luto. O mesmo apresenta a seguinte estrutura: a presente introdução;  cultura: doença, morte e luto; cultura: doença, morte e luto na sociedade ocidental;  cultura: doença, morte e luto na sociedade africana e conclusão.


II. Cultura: doença, morte e luto

A cultura é definida como um sistema simbólico que é a criação acumulativa da mente humana, conjunto de atributos de domínios estruturais: mito, arte, parentesco e linguagem e os princípios da mente que geram essas elaborações culturais. Nela, circula a doença, a morte e o luto. Assim sendo, a ciência (medicina)  vê a doença como um distúrbio das funções de um orgânicas ou do psiquismo e que está associado a sintomas específicos, que podem levar à debilidade do organimo ou até à morte.  Uma situação pode ser considerada uma doença em algumas culturas e épocas, mas não em outras.

Muitos transtornos como a hiperatividade e a obesidade são consideradas doenças em países desenvolvidos, mas têm sido considerados de forma diferente em outras culturas, principalmente africanas. No âmbito social, uma doença não influencia somente o indivíduo, mas todas as pessoas que estão em sua (família, amigos, etc) e, como consequencia, a doença pode gerar a morteApesar dos esforços de muitos cientistas, a morte não é algo que o ser humano possa impedir.

Os velhos são, naturalmente, o grupo etário que se encontra mais próximo da morte, pois estes estão conscientes de que tal lhes pode acontecer a qualquer momento e porque se dão conta da morte de muitas pessoas que lhes eram próximas.  Actualmente, a morte cerebral, segundo vários profissionais, define-se através de nove características: ausência de reflexos motores, de movimentos espontâneos e de resposta a estímulos, de movimentos nos olhos, de pestanejar e de reflexo pupilar, ausência de actividade postural, deglutição e bocejo, de vocalização, insensibilidade a estímulos dolorosos, ausência de respiração durante, pelo menos, uma hora, electroencefalograma sem traçado durante, pelo menos 15 minutos e, por fim, a persistência de todos estes critérios durante 24 horas.
A morte é um grande desorganizador cultural. Os rituais fúnebres e a elaboração do luto em si sofrem mudanças de acordo com os processos económico-sociais vividos pelas sociedades. Depois do indivíduo morrer, os viventes familiares experimentam o luto.  O termo luto refere-se à perda real do objecto, de uma pessoa. Embora o luto possa ser acompanhado de depressão e ambos apresentem algumas similitudes torna-se importante demarcar estas duas situações, esse luto tem três fases: a fase inicial, que corresponde às semanas que se seguem à morte e caracteriza-se por estados de confusão, solidão, tristeza, incredulidade, choro, estado depressivo ou semidepressivo.
Pode, também, existir negação, e a pessoa pode comportar-se como se o outro ainda estivesse vivo, o que pode levar à perda de lucidez ou comportamentos suicidas; a fase intermédia que se caracteriza por sentimentos de culpabilidade e responsabilidade, tentativa de descobrir a razão pela qual a pessoa morreu e a procura da pessoa; a fase de ultrapassagem surge se a pessoa tiver ultrapassado os sentimentos da segunda fase, o que muitas vezes acontece com a ajuda do acompanhamento na morte, que pode ser de natureza psicoterapêutica ou pode ser um trabalho de aconselhamento e apoio por parte dos amigos, familiares ou outras instituições.
Se estes sentimentos não desaparecerem ao fim de dois/três anos o indivíduo pode desenvolver um quadro de luto patológico cujo principal sintoma é a culpabilidade desmedida e obsessiva. Aparecem, também, perturbações do apetite, sono e do juízo crítico e a auto-estima diminui, havendo tendência para a solidão.

III. Cultura: doença, morte e luto na sociedade ocidental

A cultura é uma lente através da qual o homem vê o mundo , pessoas de culturas diferentes usam lentes diferentes e, portanto, têm visões distintas das coisas. A doença é para a cultura ocidental um processo no qual o indivíduo apresenta ineficácia, invalidez física, debilidadade biológica ou psíquica. O doente só adquire a cura mediante cuidados hospitalares. A morte desorganiza, deprime. Mas o luto tem começo, meio e fim. Luto é uma reacção à perda de um ente-querido, à perda de alguma abstração que ocupou o lugar desse ente, desânimo profundo, falta de interesse pelo mundo externo e perda da capacidade de adoptar um novo objecto de amor.

Nesse processo, a dor da perda se transforma em saudade, e a vida continua, com outro sentido, a morte traz mudança de valores, assim sendo, as pessoas passam a ter menos medo de errar, entendem que têm limites e vivem melhor o presente pois, para essa cultura, a vida é só uma vez. A morte  é considaerada fenómeno biológico que cosnsite no termino da vida, essa cultura, por ser individualista, aspectos inerentes à morte não são considerados colectivos.

Nessas sociedades há uma atitude de aceitação e transcendência frente à morte, que é integrada como elemento natural e necessário no circuito vital, a morte é considerada um acidente que um dia a ciência possa supercar.
A cultura occidental baseando-se na ciência busca há séculos maneiras de retarder a morte e até mesmo suplantá-la, através de seus medicamentos e suas pesquisas, obtendo êxito em algumas áreas. A morte também é considerada como consequência da doença ou envelhecimento.


IV. Cultura: doença, morte e luto na sociedade africana

Na África a doença não é vista só como um fenómeno biológico, ela é entendida como uma consequência dos espiritos, forças invesíveis e seres sobrenaturais. A doença representa uma ameaça à vida ou ao desempenho do indivíduo. Em Moçambique por exemplo, quando alguém está doente, é necessário descobrir a força invesível que está por detrás da doença, só daí é que se pode procurar alternativas de cura. Essa cura, geralmente é conseguida geralmente nos curandeiros e nos profetas ou advinhos.

A quando da morte, a cultura africana, entende que a vida continua por meio da força vital imperecível, o indivíduo que more regressa e visita à sua casa sempre que poder. O rito funerário começa após o enterro e pode durar dias; objectos pessoais do morto são quebrados e jogados em água corrente e, em algumas cultuas são queimados. A morte leva tempo para ser superada e mais tarde o ente que se foi interfere na energia do grupo ao qual esteve ligado, e só é superado num proceeso de luto.

Com a globalização, os africanos para além de usar a medicina tradicional, usam-na em simultâneo com a medicina convencional. E, essa cultura, não fica atrás quando se fala da probremática do luto frente á morte, pelo contrário valorizam o luto, os rituais funerários, os tabus e as cerimónias tradicionais. Os mortos estão sempre presentes e continuam a tomar as decisões no diz respeitos aos assuntos da família e, são tidos como seres sagrados e dignos de respeito.

V. Conclusão

Embora qualquer pessoa que pare para pensar sobre o assunto perceba que talvez seja a única certeza que se tem em nossa vida, a morte permanece, para a maioria da humanidade, associado a dor, medo e sofrimento. Na realidade sofremos a nossa perda, sofremos a ausência de nosso objecto de apego, ou a perspectiva de sua ausência. É o nosso ego que clama e sofre a dor da perda de um ente-querido e, continuamos sofrendo, num processo de luto, principalmente pela falta do toque e do ser tocado.

Mesmo assim não dá para esquecer que o sofrimento do luto é real, que o ego está sofrendo a perda de um objecto de prazer. As repercussões do luto envolvem aspectos físicos, emocionais; intelectuais; sociais e espirituais do ser humano. De luto não conseguimos cumprir as nossas metas, mas precisamos vivê-lo completamente até o esgotar de sua energia, sob pena de encobri-la sob uma máscara de suposta normalidade que nos desgastará a vida.

E assim a grande maioria da humanidade perpetua um rito depressivo de saudades de um passado que não mais existe, chorando a falta de um antigo estímulo prazeroso aos sentidos físicos. Esqueceu-se a verdadeira função do rito: reflectir sobre a vida e a morte, sobre a nossa finitude e sobre a transitoriedade de todas as coisas manifestadas. Mas, salienta-se que os conceitos de doença, morte e luto existem em todas culturas, mas são interpretados de maneiras diferentes, variando de cultura para cultura.






           


VI. Referêencias Bibliográficas


Hilal, H. (2003). Cutura e as diferenças Culturais. Disponível em: http://somostodosum.ig.com.br/conteudo/conteudo.asp?id=00102,  acesso às 17h do dia 11 de 11 2010,

Macacau, J. E  (1999). Conceito da Morte: Mapa pessoal do auto-conhecimento:, Disponível em  http://www.cppc.org.br/textos/boletins/O_luto_Adolescente.htm,  acesso às 12h do dia 10 de 11 de 2010.

Margatt, T. & Faife,  V. (2006). Sociedades afro-negras. Psicologia: Teoria e Prática, S.P. UFB editora

Pilati, H. T. (2010). Elaboração do luto: uma perspectiva sociológica ESSC. Psico-USF (Impr.) vol.15 no.1.                  

Tirri (2010). Doenças, morte e luto. Disponível em: http://www.notapositiva.com/trab_estudantes/trab_estudantes/filosofia/filosofia_trabalhos/mortediferentessociedades.htm, acesso às 12h30 do dia  9 de 11 de 2010.

Viriato (2009). fenómenos psicológicos, sociais e biológicos, Disponível em: http://www.mundoeducacao.com.br/sociologia/conceito-cultura.htm, acesso às 15h do dia 13 de 11 de  2010





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