ELIAS RICARDO SANDE

ELIAS RICARDO SANDE
PSICOLOGO SOCIAL E DAS ORGANIZACOES

quinta-feira, 16 de julho de 2015

Aconselhamento Psicológico em Pessoas vítimas de Violência Doméstica



1. INTRODUÇÃO

O presente trabalho surge no âmbito de uma serie de actividades investigativas que tenho desenvolvido em tempos livres como profissional de psicologia e investigador independente de fenómenos sociais que perpassam as nossas sociedades. Constitui um trabalho científico que tem como tema ´´Aconselhamento Psicológico em Pessoas vítimas de Violência Doméstica´´. O estudo está basicamente centralizado na Teoria de Carl Rogers, sem descartar as outras teorias que abordam o tema em análise e, tem como objectivo verificar o impacto do Aconselhamento Psicológico na vida de vítimas de Violência Doméstica.

A problemática da violência contra mulher é considerada uma questão de saúde pública actualmente, tendo em vista que a mesma afecta não só a vítima, mas também a sociedade e qualquer pessoa independente do nível socioeconómico, cultural e nível de escolaridade, pois todas se encontram susceptíveis a sofrer violência.

No processo de Aconselhamento Psicológico, a Teoria de Carl Rogers considera o paciente como um sujeito activo, sendo este responsável pela sua melhoria, na medida em que potencializa o indivíduo na busca de soluções para resolver os problemas apresentados.

Segundo UNESCO (s/d), a fundamentação da Teoria de Rogers é que os homens possuem uma tendência de auto-actualização em direcção ao desenvolvimento das capacidades que servem para manter e elevar o indivíduo. Seguindo esse impulso inato, as pessoas podem conhecer as suas necessidade e desenvolver uma visão de si mesmas e integrar na sociedade de modo benéfico.

 
 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
A preocupação para a saúde física e psicológica de mulheres e crianças vítimas de violência doméstica passou a ser interesse para todas as camadas sociais em quase todo o mundo. Os profissionais de psicologia preocupam-se em dar apoio psicológico à essas vítimas que apresentam pensamentos desordenados, ansiosos e conflituosos como consequência directa da violência doméstica. Os serviços de aconselhamento psicológico no GAMC visam atender às mulheres e crianças que procuram o auxílio legal. 

2.1.Violência Doméstica
Na visão de Abreu (2011,um dos graves problemas que atinge a humanidade é o fenómeno da violência. A violência está entre as principais causas de morte de pessoas com idade entre 15 e 44 anos, de uma forma geral, no mundo. O uso intencional da força física ou o abuso de poder, contra outra pessoa, grupo ou comunidade trazem impacto e consequências danosas para a humanidade.
De acordo com Teles & Melo (2002), pode-se dizer que a principal vítima da violência doméstica é a mulher. No entanto, é preciso incluir outros integrantes da família, como as crianças, os indivíduos portadores de deficiências e/ou os idosos onde o agressor se beneficia da vulnerabilidade destas pessoas para espancá-las e/ou humilhá-las.

Giordanni (2006), refere que a violência doméstica é tida como qualquer ato de violência baseado no género que resulte ou possa resultar em dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à vítima.
Sabe-se que a violência doméstica é um fenómeno que atinge um número significativo de mulheres e independente de qualquer nível sócio/cultural/económico específico e pode ser considerado um sério problema de saúde pública; que se agrava cada vez mais em nossa sociedade (Izumion, 1998).

De acordo com Teles & Melo (2002), violência implica na utilização da força física, psicológica ou intelectual para obrigar o indivíduo a fazer algo que não está com vontade. É constranger, limitar a liberdade da pessoa, incomodar e impossibilitar a execução manifesta de seus desejos e vontades, sob a punição de viver ameaçada.

Segundo Ferrari & Vecina (2002), o termo doméstica está relacionado à casa, à vida familiar. No âmbito familiar, a instituição família é responsável pela transmissão de valores e conhecimentos e pela socialização da criança. Porém, não se pode deixar de considerar que em sua dinâmica, incluem a violência tanto física como psíquica e que de certa forma este processo também vai se cristalizando no decorrer da vida familiar quotidiana e chega até mesmo a afectar outras pessoas desta família.

As autoras comentam que as justificativas da agressão por parte dos maridos e/ou companheiros são as mais diversas. Geralmente, o significado maior atribuído pelo agressor reside na ofensa da sua mulher e a sua masculinidade. Esta ofensa oscila entre a fantasia, os sonhos e o pensamento de traição do agressor. A violência contra a mulher tem origem na sua discriminação histórica. Num longo processo de construção e consolidação de medidas e acções explicitas e implícitas que visam à submissão da população feminina, que tem ocorrido durante o desenvolvimento da sociedade humanas (Teles & Melo, 2002).

2.1.1. Caracterização da Violência Doméstica
A essência da manifestação da violência doméstica vem da distribuição desigual do poder, tanto físico, social, quanto económico do homem sobre a mulher. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) (2000) citada por Telles & Melo (2002), quase metade das mulheres assassinadas são mortas pelo marido ou namorado, actual ou ex. A violência responde por aproximadamente 7% de todas as mortes de mulheres entre 15 a 44 anos no mundo todo. Em alguns países, até 69% das mulheres relatam terem sido agredidas fisicamente e até 47% declaram que sua primeira relação sexual foi forçada.

É uma forma de coagir, de submeter o outro ao seu domínio, é uma violação dos directos essenciais do ser humano. Às vezes, o predicado da violência indica em que espaço ela ocorre, como é o caso da expressão violência escolar, aquela que ocorre no âmbito da escola. A violência doméstica é caracterizada por toda acção que prejudique o bem-estar, a integridade física, psicológica ou a liberdade e o direito ao pleno desenvolvimento de um membro da família. Geralmente cometida dentro do ambiente familiar, por qualquer integrante da família que esteja em relação de poder com a pessoa agredida. Inclui também as pessoas que estão exercendo a função de pai ou mãe, mesmo sem laços de sangue (Ferrari & Vecina, 2002).

É relevante apontar alguns tipos de violência que a mulher sofre, dentre as agressões, Teles e Melo (2002), apontam as físicas: os empurrões, os chutes, as bofetadas, os puxões de cabelo, os beliscões, as mordidas, as queimaduras, etc. Por violência psicológica, as autoras citam os exemplos: as humilhações, as ameaças de agressões em si, à privação de liberdade, o impedimento ao trabalho ou ao estudo, os danos propositados a objectos, animais ou pessoas estimadas, o impedimento de contacto com familiares e amigos.

Já para as violências sexuais, o agressor pode valer-se de expressões verbais ou corporais que não são do agrado da pessoa, toques ou carícias não desejadas, prostituição forçada e participação em pornografia (Teles & Melo, 2002).

2.1.2. Factores Ligados à Violência Doméstica
Giordanni (2006), refere que não é possível delimitar quais factores podem levar à violência doméstica, é um problema que acomete ambos sexos, atingem crianças, adolescentes, adultos e idosos. Não costuma obedecer nível social, económico, religioso ou cultural específico.

Izumion, (1998), relata que o agressor não é o único responsável pela violência sofrida pela mulher, sendo que a sociedade cultiva valores que incentivam a violência, havendo necessidade de que se tome consciência que a culpa é de todos. Pois nas nossas culturas predominam as relações de desigualdade de dominante e dominado, no qual o homem acaba exercendo maior poder e influência sobre a companheira, e essa relação advém da desigualdade no exercício do poder que vem sendo disseminado pela sociedade até os dias actuais.

De acordo com Izumion, (1998), sofremos influências de instituições como a família, a escola e a igreja, durante todo o nosso desenvolvimento. Ensinam-nos normas e valores culturais, educando meninos e meninas para que possam diferenciar o que é próprio do sexo feminino daquilo que é peculiar do masculino, reconhecendo assim os papéis de cada sexo. Aprendemos desde cedo a representar os papéis atribuídos aos géneros, e que consequentemente influencia na construção da identidade de género.
O homem sempre teve um papel activo na sociedade, cabendo a mulher o papel de reprodutora. O homem sendo o chefe da família, quem sustenta e provem a casa. A mulher dependente financeiramente restava se subordinar aos mandamentos do homem e “consentir” todos os tipos de tratamento (Ferrari & Vecina, 2002).

Como na natureza, nas sociedades humanas construídas sob fundamento bio-psíquico , foram estabelecidas regras que, milenarmente, atribuem à  mulher as tarefas de cuidado da prole. Tal papel, historicamente muito mais feminino que masculino, ajudou a afastar a mulher das interacções produtivas, sociais e políticas ocorrentes nos espaços públicos em geral. O lugar feminino, o doméstico, tornou-se, em virtude da dependência da mulher em relação ao homem, para seu sustento e de sua prole, espaço de submissão, onde o controle social se dá principalmente pela regulação moral da sexualidade feminina (Izumion, 1998).
Essa construção cultural de género determina a diferença entre os sexos, e põe a mulher num status inferior ao do homem tanto socialmente quanto sexualmente. Permitindo assim a submissão da mulher perante o homem, construindo uma relação violenta entre homens e mulheres considerada normal.

De acordo com Telles & Melo (2002), muitos autores acreditam que a violência pode ser passada de geração em geração, e segundo aponta Izumion (1998) "o indivíduo aprende a violência pela cultura.
Telles & Melo (2002), afirmam haver um desequilíbrio entre o masculino e feminino sendo este desequilíbrio de origem biológica que resulta de uma diferença entre os sexos que não é único da raça humana, mas que esta presente na maior parte das espécies animais. Izumion (1998), conclui que o comprometimento da fêmea com a gestação e, no seu rastro, a desigualdade de condições entre machos e fêmeas para replicação dos próprios genes, é o fundamento genético-biológico que, na espécie humana, deu origem às diferenças de socialização, convivência e atribuições entre homens e mulheres, denominadas diferenças de género.

Por seu turno, Bandura (1973) citado por Abreu (2011), na sua teoria de aprendizagem social, explica que o ambiente social tem uma importante influência na aquisição, manutenção e modificação das respostas agressivas. E que a criança aprende a agressividade através da imitação de um modelo agressivo. Tendo os meninos uma maior tendência a imitar os comportamentos agressivos do que as meninas. E isso se deve ao facto de o comportamento agressivo ser mais socialmente aceito quando são perpretados por homens. 

2.1.3. Ciclo da Violência Doméstica
Entende-se que a violência alicerçada à nossa cultura geralmente se constitui em três fases, e segundo Abreu, (2011), a primeira é o de acúmulo de tensão no relacionamento. Nessa fase podem ocorrer incidentes menores como agressões verbais, crises de ciúmes, ameaças, destruição de objectos etc. É um período de duração indefinida, no qual a mulher geralmente tenta acalmar seu agressor, mostra-se dócil, prestativa, sendo capaz de antecipar cada um de seus caprichos e buscando não irritar seu parceiro, acreditando que pode impedir que a raiva dele se torne cada vez maior. Sente-se responsável pelos actos do marido ou companheiro e pensa que se fizer às coisas correctamente os incidentes podem terminar.

A segunda fase é a fase da explosão. Nesta fase se desencadeia um processo agudo de violência contra a mulher, com consequente descarga da tensão acumulada durante a primeira. Os efeitos são lesões corporais provocadas por socos, tapas, bofetadas, pontapés, mordidas, ou através da utilização de instrumentos como facas, revólveres, etc. A mulher vive  este momento  com  sentimentos  de  perplexidade  e  impotência  diante  da situação de violência.

Logo após a ameaça intensa ou ataque agressivo, instaura-se um período de calmaria na relação, que Abreu, (2011) chama de "Lua de Mel". O agressor demonstra sentimentos de arrependimento, chora, faz juras e passa a se comportar de modo apaziguador para conseguir o perdão da vítima e tratando-a com atenção especial. A mulher agredida fica sensibilizada e, em geral, dá uma nova oportunidade o agressor. Nega agressão sofrida e racionaliza, minimizando seus efeitos e acreditando que o agressor vai mudar de atitude. Nessa fase o casal se aproxima, intensificando a relação de co-dependência.

Esses episódios de violência são repetitivos e tendem a se tornar cada vez mais graves. Quanto mais espaçados os episódios violentos, maior é a resistência das mulheres a romper com o ciclo da violência. Ferrari & Vecina (2002), referem que as fases da situação de violência doméstica compõem um ciclo que pode se tornar vicioso, repetindo-se ao longo de meses ou anos.


2.1.4. Consequências da Violência Doméstica
A violência produz resultados devastadores para a saúde da mulher, sabemos que há grande probabilidade de seu bem-estar físico e mental. A violência aumenta o risco de que a mulher tenha outros problemas de saúde, incluindo dores crónicas, incapacidade física, abuso de drogas e álcool, depressão, aborto espontâneo ou até morte (Ferrari & Vecina, 2002).

Ferrari & Vecina (2002), relatam que as consequências da violência na vida da mulher, incluindo a violência sexual são diversas, as quais estão inclusas: abuso de drogas e álcool, distúrbios gastrointestinais, inflamações pélvicas, dores de cabeça, asma, ansiedade, depressão, distúrbios psíquicos, como tentativa de suicídio, além do trauma físico directo.
Muitas vezes, as sequelas psicológicas da violência são ainda mais graves que seus efeitos físicos. A experiência da violência, destrói a auto-estima da mulher, expondo-a a um risco mais elevado de sofrer de distúrbios psíquicos, como depressão, fobia, stress pós-traumático, tendência ao suicídio e consumo abusivo de álcool e drogas.

3.2. Aconselhamento Psicológico
Scheeffer (1986), conceitua o aconselhamento como uma acção educativa, preventiva, de apoio, situacional, voltada para a solução de problemas. Rogers (1980), considera que este processo trabalha com material consciente e dá ênfase à normalidade. Seu objectivo é facilitar à pessoa obter uma realização adequada; promover o desenvolvimento através de escolhas acertadas. A autora comenta que aconselhamento relaciona-se a apoio e a reeducação.

Segundo Rogers (1980), aconselhamento psicológico é um instrumento que se propõe a facilitar o resgate de uma visão mais integrada do cliente. Rogers (1980) citado por Eisenlohr (1999), defende que aconselhamento é um diálogo confidencial entre o paciente e o conselheiro cuja finalidade é contribuir para que o primeiro supere o seu estado de stress e tome decisões relacionadas saudáveis.

 Rogers (1980), afirma que esse processo inclui a avaliação do risco de factores ligados ao problema (violência doméstica) e a discussão sobre como prevenir a e solidificar relações conjugais saudáveis.
Segundo Rogers (1980), no processo de aconselhamento trabalha-se com a problemática que a pessoa expõe, acolhendo sua experiência em determinada situação. Rosemberg (1987), comenta que esta característica de enfocar a experiência da pessoa por seu próprio referencial está ligada a uma outra que se refere à possibilidade de responder à pessoa que coloca sua demanda, já no momento presente, no aqui-e-agora da situação do encontro.

Rogers citado por Rosermberg (1987), diz a autora que todo este processo possibilita a realização, onde o trabalho do conselheiro é no sentido de facilitar ao cliente uma visão mais clara de si mesmo de sua perspectiva ante a problemática que vive.

Com esta conceitualização pode-se realizar actividades com o objectivo de auxiliar cada paciente a enfrentar os conflitos vividos numa relação de violência doméstica, com um suporte psicológico, onde este proporciona esclarecimento sobre sua situação, promovendo uma nova significação do conflito. Consequentemente, as vítimas podem se tornar agente transformadora e capaz de construir estratégias, modificando seu quotidiano, suas relações e com capacidade de decidir sobre novas situações no âmbito familiar e social.

2.2.1.Objectivos e Importância do Aconselhamento
Segundo Rogers (1980), o aconselhamento psicológico, por ser uma prática que oferece as condições necessárias para a interacção entre as subjectividade, isto é, a disponibilidade mútua de trocar conhecimentos e sentimentos, permite a superação da situação de conflito. Este toma os seguintes objectivos:
·        Melhorar o nível de conhecimento sobre a violência doméstica;
·        Disponibilizar apoio emocional;
·        Ajudar o paciente a descobrir, perceber e ganhar uma visão interna acerca da sua situação, problemas ou dificuldades;
·        Motivar o paciente na busca de alternativas para solucionar o problema;
·        Auxiliar na ressignificação da violência doméstica e projecto de vida.

Segundo Rogers (1980) citado por Almeida (1999), o aconselhamento psicológico à vítimas de violência doméstica têm também revelado três papéis centrais:

Papel Remediactivo: o papel remediactivo envolve trabalhar com indivíduos ou grupos (vítimas de violência doméstica), assisti-las remediar (corrigir) os eventuais problemas. As intervenções remediactivas podem incluir o aconselhamento pessoal e social ou a psicoterapia ao nível individual, conjugal ou grupal;

Papel Preventivo: é aquele em que o conselheiro procura “antecipar, evitar, e, se possível, excluir dificuldades que poderão surgir no futuro”. As intervenções preventivas podem focar-se nos designados “programas psico-educativos” visando prevenir o desenvolvimento dos problemas;

Papel Desenvolvimentista : também referido como papel educativo-desenvolvimental, o seu objectivo é ajudar as vítimas de violência doméstica a planear, obter e a derivar os máximos benefícios dos tipos de experiências que os capacitarão a descobrir e a desenvolver as suas potencialidades em face à fenómenos semelhantes.

2.2.2. Comunicação e Escuta activa no Processo de Aconselhamento
Rogers (1980), defende que as habilidades de comunicação eficientes são um componente essencial para bom aconselhamento, é importante reconhecer e apoiar as mudanças de comportamento nos clientes daí que o foco deve ser no cliente. A característica marcante do conselheiro é a sua grande sensibilidade para  ouvir as  pessoas. 

O processo de aconselhamento psicológico à vítimas de violência doméstica envolve a construção duma aliança entre o conselheiro e paciente (vítima), na qual quem promove a entrevista de aconselhamento disponibilizando tempo e liberdade para que o paciente (vítima) explore os seus pensamentos e sentimentos, numa atmosfera de confiança (Rogers citado por Almeida, 1999). Rogers (1980), defende que o aconselhamento psicológico também envolve 3 fases sucessivas, cuja utilidade é a de sistematizar a intervenção e identificar o tipo de competências de aconselhamento que é necessário usar em cada fase: 
 
Exploração do problema: no contexto da relação interacional entre o conselheiro e o paciente (vítima) é facilitada no paciente (vítima) uma atitudes de exploração do problema, que permita a sua identificação e caracterização a partir do seu ponto de vista, bem como a focalização em preocupações específicas presentes. Esta fase exige escuta activa,com compreensão empática, aceitação positiva incondicional, reflectindo sentimentos e ajudando o paciente a ser específico;

Nova compreensão do problema: trata-se de ajudar o paciente (vítima) a ver-se a si próprio e a situação em que se encontra numa nova perspectiva e de focalizar naquilo que poderá ser feito para lidar mais eficazmente com o problema. Nesta altura, o cliente (vítima) tem que ser ajudado a identificar os seus recursos pessoais e extrapessoais. Esta fase exige mais especificamente a utilização da compreensão empática, transmissão de informação, ajuda para que o cliente reconheça sentimentos, inconsistências e padrões de comportamento;

Delimitação de objectivos: trata-se de facilitar o paciente a consideração das possíveis formas de agir, a avaliação dos seus custos e consequências, a construção dum plano de acção e a forma de implementá-lo. Isto implica focalizar na resolução de problemas, pensamento criativo e processo de tomada de decisão.

2.3. Papel do Psicólogo Social e Comunitário
O papel do psicólogo comunitário é de fundamental importância, pois este profissional faz o uso de seus conhecimentos para poder ajudar as pessoas que sofrem por falta de melhores condições de vida, (Eisenlohr, 1999), o psicólogo social e comunitário depara-se com diversas situações que na maioria das vezes chocam, mas que e necessário abrir novos espaços para a resolução desses problemas sociais buscando melhores condições de vida.

Segundo o autor, o psicólogo é visto na sociedade como um operador da inclusão social e também se vê como uma pessoa, um profissional que vem discutindo o que se tem feito durante tanto tempo acerca dos problemas sociais e da exclusão provocada pelas “anormalidades” que a sociedade criou.

É o provedor da justiça e analista de fenómenos psico-sociais, bem como o garante da saúde e do bem-estar social e das comunidades. O papel do psicólogo-conselheiro é auxiliar a vítima na resolução de conflitos com o parceiro, fazendo com que a mesma aprenda a monitorar os comportamentos do agressor tornando-se responsável pela sua segurança.


 3. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
Ao longo deste artigo foram apresentados dados estatísticos e conceitos teóricos importantes acerca desta problemática social, histórica e cultural que é a violência contra mulher. Mesmo sendo algo tão presente em nossa sociedade, vimos que existem poucos estudos referentes a esta temática publicada, relacionados à área da Psicologia. É nosso papel enquanto futuros psicólogos realizar pesquisas e apresentar propostas terapêuticas que auxiliem as pessoas a lidar de forma mais saudável e construtiva com seus problemas emocionais.

Tendo em vista tal dever neste artigo foi destacado o tratamento proposto pela Terapia Cognitivo-Comportamental às vítimas de violência doméstica e ao agressor. Essa abordagem apresentou uma proposta de tratamento psicoterapêutica não só à vítima, mas também ao agressor com o intuito de romper com o ciclo da violência em relação à vítima.

Com esta pesquisa observou-se que é essencial oferecer o aconselhamento psicológico as mulheres em situação de violência, porém, para que se possa superar o problema é necessário também fazer um acompanhamento do agressor, pois apenas a punição poderá torná-los ainda mais violentos. Se não encararmos o desafio de transformar os comportamentos violentos e, com isso, buscar a construção da paz, estaremos aprisionando nosso discurso e nossa prática na trajectória da violência.

Vale salientar também o papel não só do psicólogo na abordagem da violência contra mulher, como a importância do papel dos órgãos judiciais, da saúde, governo e a própria população em geral para contribuição no cessar de tamanha violência que agride não só a vítima como a todos que a cercam.
Vimos, através deste estudo, que o tratamento da violência doméstica segundo a TCC pode ser realizado através das seguintes etapas: investigação, questionamentos acerca da violência, investigação e identificação de crenças, avaliação de periculosidade, planeamento de segurança  e  controlo,  aplicação  de  treino  de  resolução  de  problemas,  treino  de assertividade, relaxamento muscular progressivo e o acompanhamento terapêutico. Esses passos são realizados tanto com a vítima quanto com o agressor.

Entendemos que este trabalho conseguiu atingir os objectivos propostos, principalmente pela eficácia da TCC no tratamento da violência doméstica, podendo assim ampliar o campo de discussões de profissionais ou académicos do curso de Psicologia a respeito da prática clínica no tratamento da violência doméstica com vítimas e agressores conjugais.

Vale registar que a pretensão com este trabalho não foi de enaltecer a ciência psicológica como a mais eficaz ou absoluta no tratamento de tal problema. Mas sim o de apresentar uma alternativa comprovadamente eficaz, de técnicas da TCC que foram adaptadas ao tratamento da violência doméstica, buscando, de alguma maneira, humildemente contribuir para ampliar o nível de informação tanto para psicólogos como a toda população acerca de tal problema.


4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Abreu, C. (2011). Dinâmica da resposta de Moçambique à violência contra a mulher. Editor Centro de Analises de Politicas
Almeida, F. M. (1999). Aconselhamento Psicológico Numa Visão Fenomenológica-Existencial: Cuidar de ser. Lisboa, Porto Alegre
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Rogers, C. (1980). Aconselhamento Psicológico centrado no Cliente na  Prática  Psiquiátrica. Porto Alegre : Artmed.
Dobson, K. S. e tal (2006). Manual de Terapias Cognitivo-Comportamentais. Porto Alegre: Artmed
Eisenlohr, M.G.V. (1999). Serviço de Aconselhamento Psicológico do IPUSP: breve histórico de sua criação e mudanças ocorridas na década de 90. Lisboa: Formacau e Educa
Ferrari, D. A. & Vecina, T. C. C. (2002). O Fim do Silêncio na Violência Familiar: teoria e prática. São Paulo: Ágora.
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Giordanni, A. T. (2006). Violências contra a Mulher. São Paulo: Yendis
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Moura, G. (2005). Metodologia cientifica em conceito e método, Disponível em: http://www.gestaouniversitaria.com.br/index.php/edicoes/75-108/356-metodologia-cientifica-em-conceito-e-metodo.html, acessado no dia 01/11/12 as 15:45h
Rosemberg, R. L. (1987). Aconselhamento Psicológico Centrado na Pessoa. São Paulo: EPU.
Scheeffer, R. (1986). Teorias de Aconselhamento. São Paulo: Atlas. Disponível em http://www.ibismz.org/index.php?menuId=35&upId=14, acessado no dia 03/10/10 as 15:45h
Telles, M. A. A. & Melo, M. (2002). O Que é Violência Contra a Mulher. São Paulo: Brasiliense.