Segundo Niehaus (2005), do ponto de vista discursivo, a construção da
africanidade opera-se, muitas vezes, por uma oposição a valores modernos.
Expressões como “nós, os africanos somos assim, resolvemos os nossos
problemas assim.” A feitiçaria, homossexualidade, conflitos de terra, a religião, casamentos,
roubos, criminalidades, os conflitos familiares e as ligações aos antepassados,
as cerimónias são construídas nos discursos como pertencendo a um universo
‘africano’, da ‘tradição’, numa afirmação de uma expressão cultural que se
demarca de uma suposta alteridade externa.
Essa perspectiva do autor, assenta na ideia de que
os sistemas religioso, comunitário e tradicional africanos constituem uma
referência na negociação e gestão de conflitos, que geralmente faz-se
recorrendo à meios locais numa perspectiva “do
aqui e agora” sem ter em contas das implicações psicológicas e sociais
desses actos. O linchamento é o exemplo típico em África que ilustra uma
resolução de conflito.
O outro
exemplo é a resolução de conflitos provocados por suspeitas ou acusações de
feitiçaria, que aponta formas em como os sistemas de justiça presentes se têm
desenvolvido e construído. Todavia, mesmo fazendo referência especificamente à
tentativa de ‘controlo’ das acções de violência associadas à feitiçaria ou até
mesmo mortes, através de, por
exemplo, movimentos anti-feitiçaria (caso da Republica Democrática do Congo, da
Tanzânia ou da África do Sul). São responsáveis pela negociação e gestão de
conflitos em África são na maioria dos casos, os tribunais comunitários,
administração de bairros, líderes religiosos, régulos, curandeiros e líderes
tradicionais (White at al., 2000).
Nesse
contexto, segundo White at al. (2000), a resolução de conflitos no espaço da economia
política dos sistemas de crenças ocultas tem-se assumido formas cada vez mais
violentas em África. Com essas formas de gestão de
conflitos, muitas vezes as implicações psicológicas e sociais são dramáticas,
que em seguida citam-se algumas consequências:
(i) Implicações Psicológicas: as implicações psicológicas resultantes da negociação e gestão de
conflitos na África pela forma violenta como é feita são como por exemplo o
caso de suspeitas de feitiçaria ou de roubo e de homossexualidade, os acusados
podem desenvolver baixa auto-estima, auto-exclusão, isolamento social,
depressão, desenvolvimento do complexo de inferioridade, traumas psicológicas
em caso de escapar à um linchamento como por exemplo, etc;
(ii) Implicações Sociais: as implicações sociais podem ser o preconceito e a descriminação, pois
os acusados e vitimados são considerados como sendo pessoas diferentes das
pessoas normais, divórcios de casais, em alguns casos, perca de emprego,
expulsão das residências dos acusados em caso de suspeitas de feitiçaria,
pobreza, instabilidade social nas comunidades, constantes discussões entre os
membros da comunidade, abandono de casa em caso de homossexuais que é reprovado
pela família, destruição de famílias, exílio e, para além da morte, etc.
Em
breves palavras, esta discussão sobre os conflitos africanos ultrapassa a
abordagem sobre ‘modernidade’, deve-se apostar, na descoberta de outras
abordagens de gestão de conflitos, quer individuais, grupal e até
organizacional, no sentido de minimizar o actual cenário que a África vive.
Referências Bibliográficas
Niehaus, J. (2005),
Sobre o pânico em torno da feitiçaria. Nairobi
White, H. I. at al. (2000). O oculto como uma resposta à economia neo-liberal e aos processos de
desenvolvimento. RSA