ELIAS RICARDO SANDE

ELIAS RICARDO SANDE
PSICOLOGO SOCIAL E DAS ORGANIZACOES

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Estratégias de Educação de Pares na Prevenção de HIV em Grupos de Alto Risco de Vulnerabilidade e Aconselhamento Psicológico em HIV/SIDA



UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE
FACULDADE DE EDUCAÇÃO

DEPERTAMENTO DE PSICOLOGIA E CIÊNCIAS DE EDUCAÇÃO


Licenciatura em Psicologia

Relatório da Cadeira de Seminários Especializados em Teorias e Métodos de Intervenção Psicológica



Autor: Elias Ricardo Sande




1.Introdução
Num processo de aconselhamento psicologico, existem certas atitudes que o conselheiro assume e que facilitam o crescimento e a satisfação do cliente. Os autores dessa área defendem que essas atitudes são não somente fundamentais como também necessárias e suficientes para o encaminhamento do processo de aconselhamento assim como de qualquer relação de atenção psicológica. No entanto, a prática e a pesquisa têm demonstrado que as chamadas “atitudes facilitadoras” são fundamentais, utilizadas e utilizáveis inclusive em linhas diferentes e em diversos campos onde se aplica a Psicologia.
Este trabalho surge no âmbito da cadeira de Seminarios Expecializados em Metodos e Teorias de Intervencao Psicologica e constitui uma oportunidade para aliar o referencial teórico colhido durante o curso à realidade prática e, aborda Processo de Aconselhamento Psicológico sobre HIV-SIDA, relativamente aos seminarios especializados do curso de psicologia. O mesmo está estruturado da seguinte forma:
  1. Introdução
  2. Justificativa;
  3. objectivos; metodologia);
  4. Fundamentação Teórica
  5. contextualização e definição de conceitos);
  6. Apresentação e Discussão de Resultados;
  7. Considerações Finais (conclusão e recomendações).












1.2.Justificativa
Como estudante de Psicologia, abordar a questão do processo de aconselhamento psicológico, constitui uma oprtunidade ímpar para construir a capacidade de escuta activa, ou seja, saber ouvir, bem como desenvolver a capacidade comunicativa enquanto futuro profissional. Em suma, constitui uma busca e o desenvolver das competências específicas de qualquer profissional de psicologia, na medida em que permite aliar a ampla bagagem adquirada na sala de aula, ou seja, a teoria com a realidade prática de situações que ocorrem no nosso contexto moçambicano.
Muito especificamente quando se fala do aconselhamento psicológico à portadores de HIV-SIDA, torna-se necessário um acompanhamento profundo e total dos factos inerentes à ele, visto que falar do HIV-SIDA, é falar de um problema que apoquenta à todo nós. Daí que há uma necessidade de nós como futuros profissionais de psicologia e pela natrureza do curso ter subsídios necessários para ajudar aos nossos co-cidadãos que padecem ou que vivem com o vírus que causa sida, por forma à saberem lidar com essa nova realidade e superar todas dificuldades e barreiras que possam advir. 
 

1.3.Objectivos
1.3.1.Objectivo Geral
  1. analisar a realidade prática vivida pelo psicólogo em contexto de saúde (em particular, na intervenção em pacientes seropositivos), aplicando os conhecimentos da psicologia na promoção da saúde.

1.3.2.Objectivos Específicos
  1. identificar as estrategias que os psicologos usam no processo de aconselhamento psicologico em contextos de saude;
  2. descrever as principais etapas do processo de aconselhamento psicologico;
  3. propor mecanismos de modificação dos comportamentos de risco, promovendo do auto-conhecimento e formular recomendações.


1.4.Metodologia
Segundo Moura (2005), metodologia refere-se não só a um simples conjunto de métodos, mas sim aos fundamentos e pressupostos que fundamentam um estudo particular. Nessa pesquisa, a metodologia é a explicação detalhada e rigorosa de toda acção desenvolvida. No entanto, para a elaboração do trabalho, adoptou-se como técnica a revisão bibliográfica, a observação livre e directa, a consulta documental e a entrevista não estruturada aos psicólogos, bem como a consultas de websites e informações disponíveis na Internet.

2. Fundamentção Teórica
2.1. Conceito de Aconselhamento Psicológico à Seropositivos
Eisenlohr (1999), defende que aconselhamento psicológico à pessoas portadoras de HIV-SIDA é um diálogo confidencial entre o paciente e o conselheiro cuja finalidade é contribuir para que o paciente supere o seu estado de sofrimrnto e tome decisões relacionadas com a sua saude. Schmidt (1999), afirma que esse processo inclui a avaliação do risco pessoal de transmissão do HIV e a discussão sobre como prevenir a infecção. Centra-se específicamente em questões psicológicas e sociais relacionadas com a infecção suposta ou real pelo HIV-SIDA. Com o consentimento do paciente, o conselheiro pode alargar ao cónjuge, ao parceiro sexual e aos familiares (aconselhamento ao nível familiar, baseado no conceito da confidencialidade partilhada).

2.2. Objectivos e Importância do Aconselhamento à Seropositivos

Segundo a Fundação Alfa (2000), o aconselhamento psicológico à pessoas portadoras de HIV-SIDA, por ser uma prática que oferece as condições necessárias para a interacção entre as subjectividade, isto é, a disponibilidade mútua de trocar conhecimentos e sentimentos, permite a superação da situação de conflito. Este toma os seguintes objectivos:
  • melhorar o nível de conhecimento sobre HIV-SIDA;
  • disponibilizar apoio emocional;
  • ajudar o paciente a descobrir, perceber e ganhar uma visão interna acerca da sua situação, problemas ou dificuldades;
  • melhorar a adesão ao tratamento;
  • auxiliar na ressignificação da doença e projecto de vida.

Schmidt (1999), salienta que é importante a avaliação dos resultados do aconselhamento psicológico em saúde, entendendo-se que este tem uma evolução positiva quando se operou uma mudança de comportamento. Segundo a Fundação Alfa (2000), é admissível que alguns pacientes possam beneficiar de intervenções realizadas por outros técnicos de saúde que apenas desenvolveram algumas competências para o aconselhamento, enquanto que outros pacientes necessitem de um conselheiro mais experiente (psicólogo). Deste modo, segundo Almeida (1999), o aconselhamento psicológico à pessoas portadoras de HIV-SIDA têm também revelado três papéis centrais:
  1. Papel Remediactivo
O papel remediactivo envolve trabalhar com indivíduos ou grupos (seropositivos), assisti-los remediar (corrigir) os eventuais problemas. As intervenções remediactivas podem incluir o aconselhamento pessoal e social ou a psicoterapia ao nível individual, conjugal ou grupal;
  1. Papel Preventivo
É aquele em que o conselheiro procura “antecipar, evitar, e, se possível, excluir dificuldades que poderão surgir no futuro”. As intervenções preventivas podem focar-se nos designados “programas psico-educativos” visando prevenir o desenvolvimento dos problemas;
  1. Papel Desenvolvimentista
Também referido como papel educativo-desenvolvimental, o seu objectivo é ajudar os seropositivos a planear, obter e a derivar os máximos benefícios dos tipos de experiências que os capacitarão a descobrir e a desenvolver as suas potencialidades em face ao HIV-SIDA.

2.3. Comunicação e escuta activa no processo de Aconselhamento

Para Schmidt (1999), as habilidades de comunicação eficientes são um componente essencial para bom aconselhamento, é importante reconhecer e apoiar as mudanças de comportamento nos clientes daí que o foco deve ser no cliente. A característica mais marcante do conselheiro é a sua grande sensibilidade para ouvir as pessoas (Scheeffer, 1979).
O processo de aconselhamento psicológico à pessoas portadoras de HIV-SIDA envolve a construção duma aliança entre o conselheiro e o paciente, na qual quem promove a entrevista de aconselhamento disponibilizando tempo e liberdade para que o paciente explore os seus pensamentos e sentimentos, numa atmosfera de confiança (Almeida, 1999). Este autor afirma que para atingir este objectivo, o psicólogo utiliza competências básicas de aconselhamento como a escuta activa, a empatia e a reflexão, tentando compreender o paciente e a situação em que se encontra. Scheeffer (1979), refere que o processo centra-se na compreensão que o paciente tem da situação em que se encontra e as escolhas a fazer e decisões a tomar sustentam-se nos seus próprios insights. Almeida (1999), defende que o aconselhamento psicológico também envolve 3 fases sucessivas, cuja utilidade é a de sistematizar a intervenção e identificar o tipo de competências de aconselhamento que é necessário usar em cada fase:
  1. Exploração do problema
No contexto da relação interacional entre o conselheiro e o paciente no processo de aconselhamento psicológico é facilitada no paciente uma atitudes de exploração do problema, que permita a sua identificação e caracterização a partir do seu próprio ponto de vista, bem como a focalização em preocupações específicas presentes. Esta fase exige escuta activa,com compreensão empática, aceitação positiva incondicional, reflectindo sentimentos e ajudando o paciente a ser específico;
  1. Nova compreensão do problema
Trata-se de ajudar o paciente a ver-se a si próprio e a situação em que se encontra numa nova perspectiva e de focalizar naquilo que poderá ser feito para lidar mais eficazmente com o problema. Nesta altura, o cliente tem que ser ajudado a identificar os seus recursos pessoais e extrapessoais. Esta fase exige mais especificamente a utilização da compreensão empática, transmissão de informação, ajuda para que o cliente reconheça sentimentos, inconsistências e padrões de comportamento;
  1. Delimitação de objectivos
Trata-se de facilitar o paciente a consideração das possíveis formas de agir, a avaliação dos seus custos e consequências, a construção dum plano de acção e a forma de implementá-lo. Isto implica focalizar na resolução de problemas, pensamento criativo e processo de tomada de decisão.

3. Fases/procedimento do aconselhamento à Seropositivos
3.1.Fase do Aconselhamento Pré-teste
O aconselhamento psicológico sobre o HIV é muitas vezes prestado em relação ao teste voluntário de HIV. Uma orientação deste tipo contribui para preparer o beneficiário para o teste do HIV, explica as implicações, a saber, se está ou não infectado pelo HIV e permite a discussão sobre os modos de fazer face ao conhecimento do seu estado serológico. Sabe-se também que esse processo envolve uma discussão sobre a sexualidade e usos de drogas usando seringas. Para aliviar a ansiedade enquanto se espera o resultado do teste, algumas pessoas podem buscar o apoio não do conselheiro, mas também da sua própria família ou de um amigo bem informado.

3.2. Aconselhamento Posterior ao Teste
O aconselhamento psicológico posterior ao teste ajuda ao beneficiário a aceitar e enfrentar o resultado do teste do HIV. Os entrevistados afirmam que o conselheiro prepara o paciente a receber o resultado, entrega-lhe o mesmo e fornece-lhe informação complementar e, se for necessário, envia-o a outros serviços. Os resultados do teste de HIV devem ser acompanhados sempre de aconselhamento. A forma de aconselhamento posterior ao teste dependerá do resultado, se for positivo, o conselheiro deve dizer ao paciente claramente e de forma mais suave e humana possível, proporcionando-lhe aconselhamento e discutindo a melhor maneira de enfrentar a situação. O aconselhamento prestado ajudará as pessoas afectadas a aceitar o seu estado serológico com respeito ao HIV e a adoptar uma atitude positiva na sua vida.
Estudos efectuados por... apontam que o aconselhamento também é importante depois de um teste negativo. Enquanto for provável que o paciente sinta alívio, o conselheiro deverá destacar diversos pontos: um teste negativo não significa que não tenha a infecção e é fundamental que o paciente faça o teste no fim de 3/6 meses; o conselheiro deve informar-lhe sobre a prevenção do HIV e apoiar-lhe para que adopte novas práticas mais seguras e persista em mantê-las.

4. Discussão-Análise Crítica
No entender de muitos autores, diferentes pacientes reagem de formas diferentes aos resultados do teste, a experincia mostra diversas reacçoes dos pacientes ao tomar conhecimento do resultado. Entretanto, como afirma Eisenlohr (1999), relativamente ao comportamento manifesto pelos pacientes não transparecem sentimento de angústia ou rejeição. Grande parte deles mostram-se dispostos a ouvir aos psicólogos de modo a adoptar uma vida positiva. Grande parte dos pacientes aceitam o seu estado e mostram-se dispostos a aderir ao tratamento. Porem, existem raros casos, onde os pacientes resistem aos resultados do teste, e alguns abandonam o tratamento nos primeiros sinais de progresso no aspecto físico.

Antes de mais, é importante considerar que os psicólogos têm estado a desempenhar um papel peculiar no apoio psicossocial dos pacientes seropositivos, Durante o processo de aconselhamento, nota-se que a actuação dos profissionais de psicologia permite uma melhor exploração dos aspectos da vida do paciente que podem estar ligadas ao seu estado físico-psicossocial.
O aconselhamento pode consistir em explicar como o paciente deve proceder na medicação dos antiretroviarais, os comportamentos que deve adoptar relativamente a alimentação, prática de relações sexuais, perspectivar o futuro e entre outros comportamentos de risco. Um dos aspecto a avançar num processo de aconselhamento, é estancar no máximo os estímulos que possam interferir duarante às sessões como o caso de telefonemas, quer da parte do psicólogo, quer da parte do paciente. De considerar ainda que, deve haver espaço para desenvolvimento de um vínculo afectivo e de confiança entre paciente e psicólogo porque e existir sistema de paciente fixo, cada psicõlogo com seus pacientes para permitir um acompanhamento adequada do estado da saúde do paciente.










5. Considerações Finais

5.1. Conclusão
As pesquisas desenvolvidas na vertente do HIV/SIDA devem ser analisadas dentro do contexto cultural, socioeconómico, demográfico e político de Moçambique. Não se pode comparar as práticas com a teoria sem ter em conta as potencialidades, oportunidades, fraquezas e ameaças que todos estes factores vão impor aos pressupostos teóricos. Assim, é de louvar e gratificar o trabalho desenvolvido no âmbito de enquadramento dos psicólogos nos serviços hospitalares, uma vez que o HIV/SIDA em Moçambique é uma situação de emergência, sem cura e que infectou e afecta milhões de pessoas.

As instituições que lidam com HIV/SIDA devem reunir programas que possibilitam uma abordagem eclética sobre os pacientes seropositivos com vista a aceitacão do seu estado, aprendizagem sobre como adoptar hábitos de vida saudáveis, como evitar comportamentos de risco, como iniciar e seguir o tratamento, etc. e permite explorar o estado emocional e o inconsciente do paciente. Portanto, o acompanhamento à seropositivos é indispensável a presença dos profissionais de psicologia, pois, através do processo de aconselhamento psicológico promovem saúde na vertente do HIV/SIDA.

5.2. Recomendações

Em relação às instituições que lidam com HIV-SIDA, recomenda-se que cada paciente devia ser atendido pelo mesmo psicólogo por forma a facilitar o estabelecimento da relação empática e de confiança psicólogo-paciente. O aconselhamento devia fundar-se na abordagem centrada no paciente e ser menos directivo, deste modo, o psicólogo deve ajudar o paciente a ter um auto-conceito mais realista de si, aceitar a sua condição.
Na mesma medida, o psicólogo deve tentar explorar mais os comportamentos não verbais dos pacientes, podendo-se ser aumentadas as horas de atendimento ao paciente e deve-se contratar mais psicológos para responder essa demanda.


















6. Referências Bibliográficas

Almeida, F.M. (1999). Aconselhamento Psicológico Numa Visão Fenomenológica-Existencial: Cuidar de ser. Lisboa, Porto Alegre

Eisenlohr, M.G.V. (1999) Serviço de Aconselhamento Psicológico do IPUSP: breve histórico de sua criação e mudanças ocorridas na década de 90. Lisboa: Formacau e Educa

Fundação Alfa (2000). Políticas Públicas e Saúde Mental. Disponível em http://www.alfa1.org/portugues_temas_interes_sicologia_apoyo.htm, acessado no dia 24/05/10 as 15:55h.

Moura, G. (2005). Metodologia cientifica em conceito e método, Disponível em: http://www.gestaouniversitaria.com.br/index.php/edicoes/75-108/356-metodologia-cientifica-em-conceito-e-metodo.html, acessado no dia 01/11/10 as 15:45h

Schmidt, M. L. (1999). Aconselhamento Psicológico e Instituição: Algumas considerações sobre o Serviço de Aconselhamento Psicológico do IPUSP. São Paulo. Casa do Psicólogo.

Scheeffer, R. (1979). Teorias de Aconselhamento. Disponível em http://www.ibismz.org/index.php?menuId=35&upId=14, acessado no dia 03/10/10 as 15:45h