ELIAS RICARDO SANDE

ELIAS RICARDO SANDE
PSICOLOGO SOCIAL E DAS ORGANIZACOES

quinta-feira, 24 de março de 2011

IMPORTANCIA DA COMINICACAO NA PSICOLOGIA


1.     Introdução
De início, as primeiras pesquisas sobre a comunicação foram realizadas por estudiosos de áreas como a psicologia, sociologia e antropologia. Em psicologia, os sentimentos, os comportamentos, as acções, os pensamentos, os desejos, as atitudes, têm em comum a necessidade de expressão para se tornarem reais e com esse fim recorrem à comunicação. Na prática da psicologia é muito difícil encontrar uma tarefa que não tenha qualquer ligação com a comunicação. As terapias, os diagnósticos, a interação psicólogo-paciente, as sessões terapêuticas, a avaliações e a intervenção são feitas com bases na comunicação.
Assim, a actuação do psicólogo está intimamente ligada à comunicação, revela-se com grande importância prática, pois um melhor entendimento dos problemas trazidos pelos pacientes influenciadores são percebidos através do processo de comunicação. A Comunicação e a Psicologia, embora perteçam à diferentes campos de actuação, convergem em considerar o Homem como um ser biopsicossocial e cultural.
Assim, como existe proximidade entre diversas ciências, o mesmo tendo diferentes objectos de estudo, há necessidades de uma interdisciplinaridade, no sentido de se explicar claramento um determinado estudo ou investigação. Por um lado a Comunicação enfatiza a relação jornalista-leitor e, por outro lado, a Psicologia dá ênfase a relação terapeuta-paciente/cliente.
O presente trabalho surge no âmbito da disciplina de Metodologias de Investigação Científica e aborda Importância da Comunicação na Psicologia. O mesmo apresenta a seguinte estrutura:
  • A presente introdução; Revisão da Literatura; Justificativa; Formulação do Problema; Determinação de Objectivos; Metodologia; Debate Teórico; Colecta de Dados; Análise e Discussão dos Resultados e por fim a apresentação da Conclusão.


2.     Revisão da Literatura
Para Abric (1996) citado por Furtado at al (2002), no que tange à ciência psicológica, a comunicação social deve ser classificada sobretudo no contexto da psicologia social, devido a seu objecto ligar-se à interação; de todo modo, contribuições importantes para a compreensão do fenómeno podem ser oferecidas por subdivisões da psicologia, tal como o estudo da psicologia da personalidade e da psicologia do desenvolvimento, apenas para citar dois exemplos.
Berlo (1999) citado por Furtado at al (2002), apresenta um modelo de comunicação bastante completo, dividido em seis partes. A primeira é a fonte, que é uma pessoa ou um grupo com o objectivo de comunicar; a segunda é o codificador, que é responsável por interpretar as idéias da fonte e colocá-las num código; a terceira refere-se a mensagem que na comunicação humana existe na forma física com a tradução de idéias e objectivos. O canal é o quarto item e é entendido como o condutor ou intermediário da mensagem. Concluindo esse modelo defende ainda dois itens, o receptor, aquele a quem a mensagem foi dirigida. Ao receptor ainda resta a necessidade de reação ao estímulo comunicativo da fonte, pois não havendo essa reacção a comunicação não ocorreu. E por fim tem-se necessidade, para a ocorrência da comunicação, de um decodificador, que tem como função a tradução da mensagem para sua possível utilização.
Esse trabalho focar-se-à fundamentalmente nas teorias da comunicação epidérmica; teoria da persuasão; teoria empírica de campo e  teoria funcionalista baseada em pressupostos psicólogicos. A teoria da Agulha Hipodérmica, surgiu no campo da psicologia na primeira metade do século XX, influenciou todo o pensamento das teorias de comunicação e tornou-se um ponto de partida para os estudos posteriores.

3.     Justificativa
Uma das compentências mais importante de um psicólogo é a comunicação. Pois, segundo Blikstein (1999), a Psicologia e a Comunicação Social são duas ciências que interligam-se caminhando juntas e convergem os universos de seus elementos e conteúdos, constituindo assim uma base formalizada, completa e concreta de relações, para o desenvolvimento de seus respectivos processos. Daí ser de tamanha relevância pesquisar sobre a importância da comunicação na psicologia, por forma a aprofundar as formas mais eficazes para que um psicólogo tenha uma acesso á uma comunicação de qualidade.
Abordar a importância da comunicação no exercírcio do psicólogo, qualquer área que seja: social, organizacional, clínica, comunitária, escolar, saúde, torrna se muito necessário, na medida em que vai permitir uma maior visão na construção de uma capacidade comunitiva para qualquer estudantes enquanto futuros profissionais de psicologia, bem como torna-se uma aprendizagem ímpar ao falra de um tema interessante como esse.
Entender como se comportam e se influenciam as representações sociais, as atitudes, os pensamentos, os sentimentos, as expectativas dos indivíduos nos meios de comunicação social possibilita aos profissionais e estudiosos de psicologia emitir o diagnóstico para posterir intervir. Uma vez que o psicólogo, segundo Furtado at al (2002) é um formador de opinião, é obrigatório que ele conheça as pessoas, a subjetividade, afectividade, entre outros factores. Porém, a mensuração destes conteúdos apenas será possibillitada com o uso da comunicação.

4.     Formulação do Problema
Segundo Schmidt (1999) citado por Wolf (2001), as habilidades de comunicação eficientes são um componente essencial para um bom psicólogo, é importante para esse profissional reconhecer e apoiar as mudanças de comportamento nos clientes daí que o foco deve ser no cliente. A característica mais marcante do profissional de psicologia em qualquer área de interação com o cliente ou paciente, é a sua grande sensibilidade para  falar e ouvir as  pessoas.
Neste caso, o psicólogo utiliza competências básicas de comunicação como a escuta activa, a empatia e a reflexão, tentando compreender o paciente e a situação em que se encontra. Assim sendo, nota-se que sem a comunicação o trabalho do psicólogo seria quase impossível, no sentido de que não teria meios para perceber o problema do paciente ou cliente; como melhorar a capacidade comunicativa no processo interacional entre o psicólogo e cliente ou paciente em todas áreas  de exercício da psicologia?

5.     Determinação de Objectivos
5.1.            Objectivo Geral
·         analisar a importância da comunicação no processo interacional entre psicólogo e cliente/paciente no prática da psicologia
5.2.            Objectivos Específicos
·         identificar as dificuldades e barreiras de comunicação na avaliação e intervenção psicológica;
·         analisar e propor as formas mais eficazes para melhorar a capacidade comunicativa do psicólogo no exercício das suas funções;
·         demostrar a necessidade de uma comunicação de qualidade em todas áreas da psicologia: social, organizacional, clínica, escolar, ect.;

6.     Metodologia
Segundo a visão de André (2006),  metodologia refere-se não só a um simples conjunto de métodos, mas sim aos fundamentos e pressupostos que fundamentam um estudo particular. Onde são mostrados os instrumentamentos e os métodos utilizados na recolha de dados. Nessa pesquisa, a Metodologia é a explicação detalhada e rigorosa de toda acção desenvolvida. Para a efectivação desse trabalho, recorreu-se a revisão bibliográfica. Como fontes, de acordo com o critério de origem de dados e informações, destacam-se:
  • pesquisas bibliográficas em livros e artigos científicos; consultas de websites e informações disponíveis na Internet.
Devido a natureza da pesquisa, os dados foram analisados de uma forma qualitativa e, consequentemente, trata-se de uma pesquisa qualitativa.

7.     Debate Teórico
7.1.            Teorias de psicologia da comunicação
Antes de se avançar, torna-se necessário evidenciar os conceotos de Comunicação e de Psicologia. Para Colin Cherry, comunicação significa compartilhar elementos de comportamento ou modos de vida, pela existência de um conjunto de regras.
No que tange à ciência psicológica, a comunicação social deve ser classificada sobretudo no contexto da psicologia social, devido a seu objecto ligar-se à interação; de todo modo, contribuições importantes para a compreensão do fenómeno podem ser oferecidas por subdivisões da psicologia, tal como o estudo da psicologia da personalidade e da psicologia do desenvolvimento, apenas para citar dois exemplos (Abric, 1996 citado por Furtado at al (2002).
Segundo Furtado at al (2002), a psicologia social é o estudo científico da influência recíproca entre as pessoas-interação social e do processo cognitivo gerado por esta interação social. Leyens e Yzerbit (1999) entendem a psicologia social como ciência que estuda o comportamento à medida que é influenciado pelo outro, sob um triplo ponto de vista: o conhecimento do outro, a influência social e as interações sociais. Para esses autores a psicologia social situa-se dentro do rol de ciências psicológicas, no sentido de que suas explicações e teorias incidem somente sobre o individual.

7.1.1.      Teoria hipodérmica da mídia
A teoria da Agulha Hipodérmica, surgiu no campo da psicologia na primeira metade do século XX, influenciou todo o pensamento das teorias de comunicação e tornou-se um ponto de partida para os estudos posteriores. Essa teoria parte da idéia behavorista de que toda resposta corresponde à um estímulo, pois não há resposta sem estímulo, ou estímulo sem resposta (Wolf, 2001).
É por demais conhecida a experiência de Pavlov com o cão. pela comida, o cão respondia salivando–uma reacção do organismo preparatória para digerir a comida. O esquema E–R (Estímulo–Resposta) é essencial para essa teoria. Os indivíduos são compreendidos como átomos isolados, que, no entanto, fazem parte de um corpo maior, a massa, criada pelos meios de comunicação. Isso tornaria impossível a emergência de resposta individuais do estímulo (Wolf, 2001).
Assim, da experiência de Pavlov, os meios de comunicação de Massa (MCM) enviariam estímulos que seriam imediatamente respondidos pelos receptores. A audiência é vista como uma massa amorfa (ser passivo no behaviorismo), que responde de maneira imediata e uniforme aos estímulos recebidos. Ao enviar um estímulo (uma propaganda, por exemplo), os MCM teriam como resposta o comportamento desejado pelos emissores.
7.1.2.      Teoria da persuasão
Segundo Serra (2007), a Teoria da Persuasão, diferentemente da Hipodérmica, é baseada em aspectos psicológicos, e defende que a mensagem enviada pela mídia não é assimilada imediatamente pelo indivíduo, dependendo de várias perspectivas individuais. Portanto essa teoria não seria de dominação ou manipulação, mas sim de persuasão, pois o indivíduo se interessa por informações que estejam inseridas no seu contexto sócio-cultural, e com as quais ele esteja de acordo.
7.1.3.      Teoria funcionalista
A teoria funcionalista defende que o indivíduo não pode ser analisado apenas por seu comportamento, e deve ser estudado por sua acção social, os valores e os modelos sociais que adquire na comunidade. A psicologia da comunicação estuda os esquemas e as interações de como eles determinam os comportamentos individuais e sociais (Oliveira, 2001).

8.     Colecta de Dados
A colecta de dados refere-se à informação recolhida sobre o tema, é a apresentação da informação tida como importante para a análise e discussão dos dados colhidos-resultados. Para além da sua validade, essa informação torna-se útil no sentido de que servirá de base para o enriquecimento e a qualidade do tralhho. É desta informação que se fará o cruzamento com as teorias de comunicação acima mencionadas. 

8.1.            Impoertância da comunicação na mudança de atitudes
A teoria das atitudes é talvez a mais tradicional em psicologia. O conceito de atitude a define como uma predisposição de um indivíduo para agir de determinada forma em relação a uma situação; as atitudes podem ser analisadas em três componentes: cognitivo (crenças sobre o objecto), comportamental (acções dirigidas ao objecto) e afectivo (aspectos emocionais referentes ao objecto; a atitude propriamente dita) (Matterlard & Michele, 1999).
De um modo geral, a maior parte das pesquisas sobre mudanças de atitudes centram-se em alterações de modalidades de variáveis cognitivas, muitos estudos consistiram em manipulação de factores referentes ao processo de comunicação, isto é, características de destinatário da comunicação, da mensagem e do emissor.

8.2.            Importância da comunicação nas representações sociais
As representações sociais constituem um paradigma integrativo em psicologia. As teorias das representações sociais são mantidas por grupos sociais que servem de referência para as pessoas no que diz respeito a tomadas de posição e práticas.  Uma representação social é uma teoria específica à um grupo sobre um aspecto da realidade. Em certo sentido, a noção de representação social engloba o conceito de atitudes; estas são concebidas assim como uma dimensão das representações. As representações sociais adquirem importância a partir do Século XX devido à forte influência dos meios de comunicação de massa, fazendo delas uma forma de conhecimento passível de mudança relativamente veloz e específica à grupos (Melo, 2000).
As áreas da comunicação social a que se refere neste texto–jornalismo, publicidade e propaganda e relações públicas, por lidarem com a divulgação de informações, têm um papel essencial na psicologia, portanto, para a dinâmica das representações sociais. De acordo com Jodelet (1999) citado por Melo (2000), a comunicação de massa possibilita e determina as representações sociais; isso significa que possuem capacidade de influenciar as mudanças.

8.3.            Importância da Comunicação nos Grupos Sociais
Segundo Mcluhan (2000), a comunicação cimenta o grupo, pois é na medida em que há profunda correspondência entre os membros que o grupo sobrevive. Observa-se que as comunicações são geralmente detidas pelos líderes do grupo, que funcionam como filtros sempre comunicam o conteúdo à todos elementos do grupo. Algumas notícias circulam no interior dos subgrupos e atingem os membros isolados. Para que a comunicação seja eficaz,  deve circular em três sentidos: ascendente, descendente e horizontal.
A comunicação nos grupos formais deve ser rigorosa, onde verifica-se uma direcção. Uma rede de comunicação eficaz caracterizada essencialmente por favorecer a difusão da mensagem de modo a que ela possa chegar aos subordinado com precisão. No caso dos grupo informais não é possível identificar a direcção, daí que a comunicação é dominantemente informal. Da mesma forma, não é possível conhecer a sua estrutura, ou seja, quem comunica mais ou por quem passa mais informação (Pignatari, 2005).

8.4.            Importância da comunicação na psicologia organizacional
No interior das empresas a comunicação de qualidade melhora o entendimento, eleva a eficiência, aumenta a satisfação e gera aumento na qualidade de todas as relações interpessoais, bem como melhora a produtividade. A comunicação é um processo complexo e, quando analisada no contexto da psicologia organizacional, a comunicação torna-se cada vez mais complexa (Pignatari, 2005).
Ademais com o despontar da era da informação as empresas sentiram se obrigadas a reestruturarem sua comunicação adoptando um padrão moderno aproximando suas acções e o discurso empresarial, em busca de um património de carácter simbólico garantindo boa imagem, reputação, credibilidade, legitimidade e aceitação.
Como afirma Furtado at al (2002), um dos problemas de comunicação que surgem no interior das empresas deve-se à má utilização dos meios de comunicação. Numa empresa de grande porte deve-se utilizar no mínimo dez meios de comunicação, divididos três dimensões: uma virtual, uma indireta e uma de surgimento recente como e-mails, chats, e intranet; caminho comunicacionais que passam pelo ambiente hierárquico, formal e burocrático utilizando-se como meios reuniões, quadros de aviso, memorandos e telefone e um meio de comunicação da dimensão simbólica.

8.5.            Distorção da comunicação na interação psicólogo-paciente
O paciente quando comunica está emocionalmente ligado à mensagem que está a emitir, pois faz parte do seu campo psicológico. Esta mensagem será tão eficaz quanto mais reforçar as opiniões e as atitudes do receptor. O contrário também é verdade. Se o que o psicólogo  transmitir uma mensagem que vai contra as opiniões e as atitudes do paciente, maior será a resistência à mensagem e menos eficaz ela será (Matterlard & Michele, 1999).
Melo (2000), refere que o conteúdo emotivo da mensagem pode influir na distorção da mensagem transmitida, dai que a linguagem é uma razão muito forte de distorção na mensagem. Pois em psicologia, linguagem é o instrumento de adaptação dos indivíduos ao seu meio. Deste modo, uma gama de conhecimentos muito profundos pode dificultar a comunicação se o psicólogico não ajustar o que transmite aos conhecimentos do paciente.
Num processo de interação psicólogo-cliente, as barreiras na comunicação não são apenas barulhos ou outros estímulos externos que atrapalham a comunicação. Matterlard & Michele (1999), defendem que as barreiras ocorrem na comunicação quando o interlocutor lê ou ouve de acordo com:
·         O que lhe interessa: o que coincide com suas opiniões, crenças, valores e experiências;
  • Egocentrismo: que impede de se enxergar o ponto de vista do outro. O egocêntrico reduz à zero tudo o que o outro fala, sem ao menos ouvir realmente o que ele diz;
  • Percepção do outro: influenciada por preconceitos e estereótipos. Exemplo: quando determinada pessoa é tida como verídica para nós-tudo o que fala e faz é bom;
  • Competição: quando um corta a palavra do outro, sem nem sequer ouvir o que ele está a dizer; 
  • Frustração: impede a pessoa de ouvir e entender o que está sendo dito.
  • Transferência inconsciente de sentimentos: que se tem em relação a uma pessoa parecida com o interlocutor.


9.     Análise e Discussão dos Resultados
Num trabalho científico, é sempre difícil dar por acabado um determinado tema. As análise aqui dada não deve ser vista como rígida, única e suficiente, pois resulta de uma análise qualitativa do autor da informação recolhida à vários níveis, bem como por ser  um tema é tão importante e ao mesmo tempo tão complexo. Uma das compentências mais importante de um psicólogo é a comunicação, mas não anula aqui a qualidade comunicativa do paciente, pois desta depende o diagnóstico emitido peolo psicólogo. A Psicologia e a Comunicação Social são duas ciências que interligam-se caminhando juntas, e convergem nos seus campos, elementos e conteúdos, constituindo assim uma base completa e concreta de relações como afirma Furtado at al (2002).
Nessa análise, frisa-se que a comunicação para um psicólogo, é antes uma farramenta indispensável na interação com seus clientes, ela torna-se o elo de contato com os clientes, seja para passar-lhes informações ou para recebê-las. A psicologia quanto os meios de comunicação de massa tem o poder de controlar e convencer as pessoas. deste modo, a comunicação é utilizada pelos psicólogos para alcançar um certo objectivo. Para que essa comunicação seja eficaz é preciso que se adapte a mensagem ao vocabulário, aos interesses e aos valores do paciente. É difícil entender-se com um cliente quando se tenta comunicar alguma coisa que o contradiz ou não vai ao encontro daquilo que ele espera.
Com base nas teorias da comunicação baseadas em pressupostos psicológicos, pode-se verificar que não haveria sucesso na psicologia sem que esta estivesse ligada à comunicação. À título de exemplo é a teoria Hipodérmica, que defende a idéia behavorista de que toda resposta corresponde à um estímulo, pois não há resposta sem estímulo, ou estímulo sem resposta. Com essa teoria, o psicólogo é chamado á condicionar os seus pacientes/clientes através de estímulos contidos na comunicação durante o processo interacional.
De acordo com Mcluhan (2000), os indivíduos são compreendidos como seres isolados, fazendo parte de um meio social, o que tornaria possível a emissão de respostas-comportamentos individuais. Os meios de comunicação de massa (MCM) correspondem aos condicionamentos respondente de Pavlov e operante de Skinner que tinha como objectivo manipular o cão e o rato respectivamente. Ao enviar um estímulo (uma propaganda, por exemplo), os MCM teriam como resposta o comportamento desejado pelos emissores, desde que o estímulo fosse aplicado de maneira correcta.  Apesar da sua extrema importância, essa teoria, torna-se limitada na medida em que não tem em conta os aspectos cognitivos, como é o caso de interesses, atenção e motivação do paciente no processo interacional.
A pesar da teoria descrita acima ser a primeira, ela serviu de base apenas para estudos futuros, pois alguns investigadores a tinham como não-completa. A Teoria da Persuasão também baseada em  aspectos psicológicos, defende que a mensagem enviada pela mídia não é assimilada imediatamente pelo indivíduo, dependeria das crenças e expectativas individuais. Portanto essa teoria não seria de dominação ou manipulação como a Hipodérmica, mas sim de persuasão, pois o indivíduo se interessam por informações familiares vividas no seu contexto sócio-cultural. A comunicação torna o psicólogo como um agente que perssuade os seus pacientes através da comunicação. Essa teoria apesar das suas limitações, é tipicamente psicológica na medida em que considera os fenómenos psicológicos, como por exemplo: percepção, motivação, interesse e expectativas do paciente no exercírcio do psicólogo.
Finalmente, a teoria funcionalista que defende que o indivíduo não deve ser analisado apenas pelo seu comportamento, mas sim deve ser compreendido pela sua acção social. A psicologia da comunicação deve estudar os esquemas e as interações de como eles determinam os comportamentos individuais e sociais. Essa teoria complenta as teorias acima mencionadas no sentido de que o psicólogo através da comunicação veja o seu paciente/cliente não apenas o seu comportamento isoladamente, mas sim às variáveis sociais, pois o ser humamo é um ser social obrigatório, daí que o comportamento deve ser intendido no âmbito social, onde a comunicação toma várias direcções e sentidos.
Como análise, o psicólogo deve desenvolver a empatia no sentido de se colocar no lugar do outro e assim compreender melhor o problema do cliente, para tal, o profissional de psicologia deve distinguir o momento oportuno para comunicar com o seu cliente, saber comunicar quando o paciente está motivado. A mensagem deve ser simples, directa, clara e sem ambiguidade para que o paciente possa entender.  No processo de comunicação, o psicólogo não só tem em conta a linguagem verbal, mas também deve observar: a postura do corpo do paciente; expressões fisionómicas; bocejo; o nível de atenção; o olhar; o entusiasmo; nível de motivação; irritação; movimentando dos dedos, das pernas e das mãos; tom da voz; atitudes, bem como todo tipo de gestos emitidos pelo cliente.
O psicólogo deve evitar que durante o processo intercional com paciente/cliente não haja distorção da comunicação. A distorção da comunicação pode se caracterizar sub várias dimensões: a atitude do psicólogo e do paciente em relação ao assunto afecta a eficiência da comunicação. Na visão de Dorfman (1980), a atitude desfavorável como refere leva a uma explicação deficiente dos objectivos. Na atitude, há sempre uma componente cognitiva (referente a ideias ou crenças), componente afectiva (referente a valores) e componente comportamental (referente à predisposição). Em geral, a dificuldade de compreender as orientações do psicólogo ou o contrário, perceber amensagem que o paciente/cliente que pede ajuda está a tentar explicar, resulta em conflitos  entre ambos os lados.


10.                        Conclusão
O papel da comunicação é a transmissão de significados entre pessoas para a sua integração na organização social. Os homens têm necessidade de estar em constante relação com o mundo, e para isso usam a comunicação como mediadora na interação social, pois é compreensível enquanto código para todos que dela participam. Como conclusão, entende-se que o cruzamento da psicologia e da comunicação, a valorização da comunicação interpessoal, da comunicação midiática, da comunicação grupal, comunicação terapêutica e comunicação organizacional, bem como a necessidade reiterada da interdisciplinaridade, são noções que vêm sendo exploradas e bem utilizadas em estudos das ciências sociais.
É evidente que a contribuição da psicologia para a comunicação social e vice-versa, não se restringe apenas às atitudes, à formação de grupos socias, às representações sociais e à psicologia social. Escolheu-se essas dimensões para o trabalho porque considera-se que o valor qualitativo muito claro. Conclui-se este trabalho fazendo um esclarecimento que se julga necessário. Ao argumentar favoravelmente à utilização de teorias psicossociais em comunicação social. Entendendo a comunicação social, em concordância com Bougnoux (1979) citado por Dorfman, (1980), como interdisciplina ligada à psicologia, considera-se que, ainda que compartilhando de uma interface com diversas áreas de conhecimento científico, esse mesmo leque de interfaces possibilitou o desenvolvimento de um corpo teórico que lhe é característico.
O psicólogo, sem a comunicação, não seria capaz de intervir na sociedade, daí que ele deve possuir uma capacidade comunicativa de qualidade, não só no acto de transmitir a mensagem para os seus clientes, mas também no acto de receber ou ouvir o discurso destes pacientes. Um das exigênncias na comunicação, é que o psicólogo deve ir para além da mensagem verbal, no sentido de recolher toda informação necessária para um diagnóstico e prognóstico eficaz.
De qualquer modo, é saliente a relação que a comunicação social possui com a psicologia, está centrada na utilização das teorias psicossociológicas, o que conduziu à avanços significativos na comunicação social. E, termina o presente trabalho afirmando que o sucesso dos serviços psicológicos na sociedade depende muito mais das técnicas comunicativas, daí a extrema importância do uso da comunicação na psicologia.

11.                        Referências Bibliográficas
André, I. T. (2006). Metodologias de Investigação Científica. 3Ed. Vol 5. Lisboa: Porto Alegre
Blikstein, I. (1999). Técnicas de Comunicação Escrita. Editora Ática. Disponível em: http://www.infoescola.com/comunicacao/teorias-da-comunicacao/, acesso em 23 de 03 de 2011, 11hrs11 
Dorfman, A. (1980). Comunicação da massa e colonialismo. Rio de Janeiro: Para Ler o Pato Donald- az e Terra
Furtado, O at al (2002). Psicologias : uma introdução ao estudo da psicologia. São Paulo: Saraiva. Disponível em:

Matterlard, A. & Michele (1999). História das teorias da comunicação. São Paulo: Loyola
Melo, J. M. (2000). Teoria da Comunicação – Paradigmas latino-americanos. Petrópolis: Vozes
Mcluhan, M. (2000). Os meios de Comunicação como Extensões do Homem. São Paulo: Cultrix.
Oliveira, I.  C. A. (2001). Teorias da Comunicação. Disponível em: http://www.blogger.com/goog_556190546, acesso em 22 de 03 de 2011, 14hrs10
Pignatari, D. (2005). Informação. Linguagem. Comunicação. São Paulo: Perspectiva
Serra, J. P. (2007). Manual de Teoria de Comunição. Livros Labcon. Disponível em: http://www.livroslabcom.ubi.pt/pdfs/serra-paulo-manual-teoria-comunicacao.pdf, acesso em 22 de 03 de 2011, 09hrs
Wolf, M. (2001) Teorias da Comunicação. Lisboa: Presença Disponível em: http://jornalismouninove.com.br/livros/mauro_wolf_teorias_da_comunicacao.pdf, acesso em 22 de 03 de 2011, 12hrs30

terça-feira, 22 de março de 2011

Criança na perspectiva africana

I.                   INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem como tema “Criança” e enquandra-se na cadeira de Perspectivas Africanas de Fenómenos Psicológicos uma vez que versa a análise do desenvolvimento da criança na infância, factores psicológicos relacionados e implicações psicológicas, com especial ênfase para África e Moçambique.
O objectivo central é analisar como é que o processo de desenvolvimento se processa ao longo da infância em África, particularmente em Moçambique com base na teoria de Erik Erikson, elaborada no ocidente.
Para tal, constituem objectivos específicos:
·         Definir o conceito Criança no geral, e a luz das leis moçambicanas;
·         Apresentar a Teoria de Desenvolvimento Psicossocial de Erik Erikson;
·         Identificar a situação actual da Criança em África, particularmente em Moçambique;
·         Apontar os pontos fortes e fracos;
·         Propor o ambiente adequado para o desenvolvimento físico e psicológico saudável da criança;
Para a consecução do trabalho recorremos ao método de revisão bibliográfica.
O trabalho apresenta as seguintes partes:
(i)                 Introdução;
(ii)               Criança
(iii)             Conclusões e Recomendações;
(iv)             Conclusão, após o que vem as Referências Bibliográficas.









II.                CRIANÇA EM ANÁLISE SOB PERSPECTIVA AFRICANA

II.1.                       CONCEITO
O objecto do presente estudo é a Criança. Existe uma notável relatividade na definição deste conceito, pelo que de seguida apresentamos diferentes formas de conceptualizar, que variam de acordo com a área de estudo, espaço e tempo.
A Convenção sobre os Direitos da Criança (2006), por exemplo, afirma que Criança é todo o ser humano com menos de dezoito anos, excepto se a lei nacional conferir a maioridade mais cedo. A Organização Mundial da Saúde (OMS) citada pelos UNICEF (2009) contrariamente, define Criança como sendo o grupo de indivíduos entre os 0 e os 14 anos.
De acordo ainda com a Convenção sobre os Direitos da Criança (2006), na ordem jurídica moçambicana convivem dois conceitos jurídicos cuja precisão jurídica não parece reunir consenso, nomeadamente o conceito de criança e de menor. O primeiro é o Código Civil, que define a maioridade civil em 21 anos. Antes de se completar esta idade, salvo algumas excepções admitidas pelo artigo 124 do Código Civil (CC), o exercício de direitos carece de consentimento dos representantes legais. Porém, maioridade política fixada pela Constituição da República de Moçambique (CRM), é de 18 anos. A partir desta idade o cidadão pode eleger e ser eleito.
Por outro lado, a imputabilidade criminal, que é a idade a partir da qual as leis criminais consideram que a pessoa tem a necessária liberdade e inteligência para decidir e discernir sobre o bem e o mal, é fixada pelo Código Penal em 16 anos.
A nível da ciências humanas, Baleira, Francisco, e Fumo (2003) defendem que o conceito Criança é reflectido por uma visão subjectiva, segundo a qual o ser criança pode significar, antes de mais, a incapacidade biológica e/ou psicológica de um indivíduo, de realizar determinado tipo de actividades classificadas sociológica e/ou legalmente como sendo de adultos e por essa razão, não se lhe deve atribuir tal responsabilidade. Este conceito é variável, se fazendo valer entre culturas, grupos e até mesmo entre indivíduos na legislação e na cosmologia de cada país ou sociedade.
Um caso prático é o da tradição moçambicana (certas práticas costumeiras), e de muitas culturas africanas, onde a criança é definida pelo seu porte físico ou idade social, pela apresentação de sinais de adolescência tais como a puberdade, o aparecimento da menstruação pelo que, só a participação nos rituais tradicionais de iniciação poderá ditar a passagem para a fase adulta.
Assim, enquanto o indivíduo não passar pela cerimónia de iniciação não é considerado adulto e fica privado de assistir a outros rituais tradicionais.
Porque, de acordo com UNICEF (2009), cerca de 70% da população moçambicana vive nas zonas rurais, grande parte destes olham para a criança nos termos das práticas costumeiras, o que para autores ocidentais pode resultar na violação dos direitos da criança através de casamentos prematuros, trabalho infantil, educação. No entanto, os valores devem ser percebidos dentro da lógica do contexto no qual acontecem. A tradição pode constituir um potencial para desenvolver adequadamente o indivíduo através da sua orientação pela comunidade.

a)      Historial do Termo Criança
Ao longo do tempo a criança no ocidente foi concebida de diferentes maneiras desde a idade média até chegar a fase actual. De acordo com Sprinthall & Sprinthall (1999), na Grécia antiga e na Roma antiga, a criança era vista como uma miniatura adulta por isso devia ser treinada ferozmente de modo a que mais cedo aprendesse a ser guerreira para defender a si e a sua pátria.
Nos EUA inclusive, em algumas zonas as crianças eram também consideradas adultos em miniaturas por isso até as roupas das crianças eram do mesmo estilo com a roupa dos adultos.
Várias discussões se fizeram sentir, dentre elas a ideia de que as crianças já nasciam com inteligência inata, mas de acordo com Sprinthall & Sprinthall (1999) e Mwamwenda (2007), Watson, John Locke e Jean Piaget concebiam a criança como uma tábua rasa sobre a qual se escreve a experiência.
No entanto, actualmente considera-se a hipótese de que a criança seja fruto da predisposição inata para aprender aliada à experiência adquirida no meio.


II.2.                       TEORIA PSICOSSOCIAL DA PERSONALIDADE DE ERIK ERIKSON
A presente análise sobre Criança centra-se na Teoria Psicossocial da Personalidade proposta por Erik Erikson (1902-1994) uma vez que esta teoria explica minuciosa e criticamente o desenvolvimento infantil e suas implicações. De acordo com Hall, Lindzey e Campbell (2000) e Rabello e Passos (2008), o âmago desta teoria reside na psicanálise contemporânea de ênfase dinâmica do século XX, de Erik Erikson. Aqui, a personalidade é dinâmica, global, única e vai entrosar com solidez, factores biológicos específicos (temperamento e carácter).
Hall, Lindzey e Campbell (2000) e Silva e Costa (2005) especificam que nesta teoria existem oito estágios psicossociais (nascimento à morte) onde os quatro primeiros estágios correspondem ao período de bebé e de infância (tema da presente análise), e os três últimos à fase adulta e da velhice – interacção do indivíduo com o seu meio (afectivo, social, cultural e histórico). Nestes estágios, o indivíduo depara-se com uma crise bipolar cuja resolução pode ser equilibrada/ dinâmica ou pode dar-se com dominância dum polo com implicações no ajustamento psicossocial do indivíduo. Assim, a resolução de um estádio é independente da resolução do anterior, mas a qualidade da resolução de um estádio depende dos anteriores.
Neste estudo, Erikson evidencia certas diferenças entre homens e mulheres. De acordo com De Sant’Ana e Silva Júnior e De Andrade (2007), este estudo leva a crer que o sexo feminino apresenta maior índice de fobias e desconfiança em relação ao masculino devido, acima de tudo, a influência dos pares e família e, de esteriótipos e papéis sociais atribuídos na infância. Erikson atribuiu ao ego valores como confiança, esperança, autonomia, vontade, habilidade, competência, identidade, fidelidade, intimidade, amor, produtividade, consideração e integridade.
Hall, Lindzey e Campbell (2000) acrescentam que, a concepção de Erikson é socializada e histórica, pois além dos factores genéticos, fisiológicos e anatómicos, refere-se aos culturais e históricos. Assim, em relação aos estágios de desenvolvimento psicossocial destacam-se neste trabalho aqueles relacionados à Infância. De acordo com Hall, Lindzey e Campbell (2000), Melo (2007) e Rabello e Passos (2008), os oito estágios de desenvolvimento são:

1ª Idade: Confiança Versus Desconfiança (até 1 ano):  a criança vai aprender o que é ter ou não confiança através da relacão bebé e mãe. A confiança é demonstrada pelo bebé na capacidade de dormir de forma pacífica, alimentar-se confortavelmente, excretar de forma relaxada e, na aceitação de que a mãe pode ausentar-se, na certeza de que ela voltará. O bebé experimenta o contacto com adultos, aprendendo a confiar e depender deles, assim como a confiar em si mesmo.
A desconfiança básica é a parte negativa deste estágio. São interacções pessoais e culturalmente ritualizadas – a falta do reconhecimento pode trazer alienação na personalidade do bebé, um senso de abandono e separação. A forma pervertida do ritual da divindade materna expressa-se na vida adulta em que a pessoa idolatra um herói. Em Moçambique, a figura da mãe é notória durante este estágio, uma vez que tradicionalmente a função da mulher é cuidar do lar, dos filhos e da casa. 

2ª Idade: Autonomia Versus Vergonha e Dúvida (2º e 3º ano): a criança aprende os seus privilégios, obrigações e limitações. Surge a necessidade de auto-controlo e de aceitação do controlo por parte das outras pessoas, desenvolvendo um senso de autonomia. A vergonha e a dúvida geralmente ocorrem quando os pais utilizam excessivamente a vergonha na repressão da teimosia. Na ritualização deste estágio, a criança julga-se a si e aos outros, diferenciando o certo do errado e as pessoas ditas diferentes – origem do preconceito humano. Em Moçambique, a família alargada tem um papel preponderante neste estágio, contudo o ambiente é propenso ao surgimento da vergonha e dúvida nas crianças com necessidades especiais, que são muitas vezes escondidas.

3ª Idade: Iniciativa Versus Culpa (4º e 5º ano): regista-se uma crescente destreza, responsabilidade e organização à nível físico e mental. A capacidade de planear suas tarefas e metas a define como autónoma e a introduz nesta etapa. No entanto este estágio é perigoso pois a criança busca exaustivamente satisfazer fantasias genitais pelo uso de meios agressivos e manipulativos, manifestando um estado de ansiedade. Sua principal actividade é o brincar tentanto perceber até que ponto pode ser como os adultos. O poder da imaginação e a forma desinibida como o faz é fulcral para o desenvolvimento do sentimento iniciativa ou de culpa. Os valores africanos como o respeito pelos mais velhos podem impor limites no brincar da criança africana impedindo-a de manifestar certas fantasias genitais e de desempenhar o papel de adultos.

4ª Idade: Diligência Versus Inferioridade (6 aos 11 anos): a criança necessita controlar a sua imaginação e dedicar a sua atenção à educação formal. Ela desenvolve um senso de aplicação e aprende as recompensas da perseverança e da dedicação. Neste estágio desponta a virtude de competência, a criança sente-se pronta para desempenhar o trabalho adulto de modo a evitar sentimento de inferioridade (aquando da incapacidade de dominar as tarefas propostas pelos pais ou professor). Aqui, a criança moçambicana que raramente tem acesso à educação formal, inicia a aprendizagem das actividades tidas como dos adultos durante os ritos de iniciação, cabendo aos anciãos distinguirem entre actividades femininas e masculinas.

5ª Idade: Identidade Versus Confusão/Difusão (12 aos 18 anos): na vertente positiva deste estágio, o adolescente vai adquirir uma identidade e singularidade psicossocial. Os indivíduos estão recheados de novas potencialidades cognitivas, exploram e ensaiam estatutos e papéis sociais. Os problemas no desenvolvimento da identidade podem culminar numa identidade difusa, (noção do eu incoerente e incompleta), identidade bloqueada (não permissão do período normal de moratória por questões sociais e/ou pessoais) ou identidade negativa (identidade socialmente indesejável). Em África, a criança inicia a exploração do seu papel social, mas geralmente ela não passa pela fase da adolescência, sendo que o seu futuro é traçado pelos mais velhos logo a seguir a iniciação.
 6ª Idade: Intimidade Versus Isolamento (18/20 aos 30 e tal anos): o jovem almeja estabelecer relações de intimidade e adquirir a capacidade necessária para o amor íntimo. Caracteriza-se pelo facto de pela primeira vez o indivíduo poder desfrutar de uma genitalidade sexual verdadeira, mutuamente com o alvo do seu amor. A vertente negativa traduz-se no isolamento de quem não consegue partilhar afectos com intimidade nas relações privilegiadas, o que pode culminar em graves problemas de personalidade. Nas práticas costumeiras africanas, em geral, as mulheres não têm a oportunidade de escolher o seu parceiro e neste estágio já são mães, o que desperta à análise crítica do “desfrutar a primeira genitalidade verdadeira com o alvo do seu amor. 

7ª Idade: Generatividade Versus Estagnação (30 aos 60 anos): resume-se no conflito entre educar, cuidar do futuro, criar e preocupar-se exclusivamente com os seus interesses e necessidades. A questão na 7ª idade pode formular-se de várias formas: “Serei bem sucedido na vida afectiva/profissional?”; “Conseguirei contribuir para melhorar a vida dos outros?”. Se o desenvolvimento e descentração do Ego não ocorrem, o indivíduo pode estagnar – preocupar-se quase unicamente com o seu bem-estar e a posse de bens materiais. A ritualização é a paternidade, produção, ensino e cura. Nas práticas costumeiras africanas reserva-se aos mais velhos o papel de cuidar, ensinar e curar a comunidade, agindo como o transmissor de valores ideais aos jovens, no entanto, papel este exercido com certo autoritarismo (distorção da ritualização para Erikson).
                                                 
8ª Idade: Integridade Versus Desespero (a partir dos 60 anos): é marcado por um olhar retrospectivo, que faz com que, ao aproximarmo-nos do final vida sintamos a necessidade de rever as escolhas, realizações, opções e fracassos. A integridade indica que o indivíduo considera o seu percurso vital positivo (foi feito o melhor possível dadas as circunstâncias e capacidades). Na vertente negativa, existe o desejo de retroceder, de readquirir as oportunidades perdidas e, de reformular opções e escolhas. Caso sinta que é tarde, pode instalar-se o desgosto, a angústia e o pânico da morte. A ritualização é a sabedoria, mas a sua distorção leva a pretensão de ser sábio. Em África, os idosos servem de constituição da república e juízes, eles é que ditam as regras, baseados nas experiências positivas e negativas. O desespero, em geral, surge quando os mais novos não seguem os seus ensinamentos.



II.3.                      DADOS GERAIS DA CRIANÇA AFRICANA E MOÇAMBICANA
De seguida serão apresentados dados estatísticos sobre a criança, uma vez que o desenvolvimento físico (consequentemente, o acesso e qualidade dos serviços básicos) influencia directamente o psicológico.

a)      África
No que concerne a situação das crianças, P.I.M.E (2009) apresenta os seguintes dados:
·         Apresentam o maior índice de mortalidade infantil à nível mundial: Serra Leoa, com 182 em cada mil crianças nascidas; Angola, com 170 e Níger com 166.
·         Apresentam menor esperança de vida à nível mundial: Serra Leoa (38 anos); Malawi (39); Uganda (40); Zâmbia (40); Ruanda (41); Burundi (43); Etiópia (43); Moçambique (44); Zimbábue (44) e Burkina Fasso (45).
·         Apresentam maior índice de analfabetismo: Níger (14% de adultos alfabetizados), Burkina Fasso (21%) e Gâmbia (33%).
·         Apresentam pior qualidade de vida urbana: Brazzaville, Pointe Noire e Khartoum.
·         Existem 120 mil crianças-soldados em África. Estas concentram-se maioritariamente em: Argélia, Angola, Burundi, Congo Brazzaville, República Democrática do Congo, Libéria, Ruanda, Serra Leoa, Sudão e Uganda.
·         Existem 80 milhões de crianças africanas, entre 5 e 14 anos, a praticar trabalho forçado infantil: Benin, Gana, Nigéria, Togo e Costa do Marfim.
·         Existem 12 milhões de órfãos de SIDA em África. Ao todo, no continente, há 22 milhões de pessoas afetadas por essa doença.
·         56% dos 3,6 milhões de refugiados em África são crianças. A maior parte deles se encontra em Angola (69%), Togo (64%) e Sudão (60%).

Em contrapartida, o ocidente apresenta baixos índices de mortalidade, como é exemplo o caso da Finlândia com 4 crianças mortas em cada mil.

b)     Moçambique
  • A taxa de mortalidade infantil foi estimada em 93 por mil nados vivos no período de 2003-2008 (MICS, 2008 citado por REDICEM, 2010);
  • A probabilidade de morrer antes dos cinco anos de idade foi estimada em 138 por mil para o período de 2003-2008 (MICS, 2008 citado por REDICEM, 2010);
·         81% das crianças em idade escolar primária (6-12 anos) estão a frequentar a escola (taxa líquida de frequência escolar). As taxas líquidas de frequência são mais baixas nas zonas rurais (79%) comparativamente às urbanas (89%);
  • A situação na educação, 24% das crianças com idades compreendidas entre os 7 e os 17 anos estão gravemente privadas de educação, nunca tendo frequentado a escola.
·         Apenas 15% de alunos que ingressaram no ensino primário completaram o ciclo da escola primária dentro do número esperado de anos, com 7% nas zonas rurais e 31% nas urbanas.
·         31% de crianças menores de cinco anos de idade foram registadas, sendo 39% nas áreas urbanas e 28% nas áreas rurais. A percentagem de crianças registadas é superior no sul do país, onde varia entre 40 e 47% relativamente a Niassa e Tete com 15 e 11%.
·         22% de crianças com idades compreendidas entre os 5-14 anos estão envolvidas em trabalho infantil, com 25% nas áreas rurais e 15% nas urbanas.
·         12% das crianças são órfãs e 5% são vulneráveis devido ao SIDA. A percentagem de crianças órfãs/vulneráveis é maior nas áreas urbanas (20%) do que em áreas rurais (16%).
  • Cerca de 1.000 moçambicanos são anualmente traficados para a África do Sul (com ênfase para tráfico laboral e sexual). (OIM citado por The Sate of The World’s Children, 2009);
  • Em 2003, 58% das crianças viviam em condições de pobreza, um total de 75% das crianças na Zambézia viviam em condições de pobreza absoluta (duas ou mais privações severas na satisfação dos direitos) comparadas com 3% na cidade de Maputo (UNICEF, 2006).
  • Em 2003, das crianças com menos de 5 anos de idade, 17% viviam severa privação de saúde e 20% severa privação nutricional, 49% experimentaram privação severa de água, enquanto 47% viveram privação severa de saúde (UNICEF, 2006);
  • 1 em cada 2 crianças menores de 5 anos cuja mãe não foi à escola é afectada de desnutrição crónica comparado com 1 em cada 4 crianças cuja mãe tem nível secundário (MICS, 2008 citado por REDICEM, 2010).

O tráfico de seres humanos, especialmente de crianças e mulheres é um assunto de extrema preocupação na sociedade moçambicana uma vez que afecta gravemente grupos populacionais mais vulneráveis. Estes dados têm influência negativa no desenvolvimento saudável da criança para o que o proteccionismo da família alargada não é suficiente para resolver. O impacto das práticas familiares de cuidados infantis no desenvolvimento na primeira infância é muito importante, explicando de certa forma a discrepância no progresso entre medidas sócio-económicas e antropométricas do desenvolvimento da criança o que, por sua vez, sugere um papel fundamental para a divulgação de informação na mudança de atitudes culturais para com os cuidados infantis e, portanto, na melhoria do desenvolvimento da criança.
Outro factor que interfere no desenvolvimento da criança é a qualidade da educação. Apesar do actual aumento nas matrículas, este não tem sido acompanhado por um maior investimento na qualidade da educação ou por estratégias de adaptação para lidar com o correspondente ‘choque de acesso’. Consequentemente, menos de ⅓ das crianças consegue concluir o ensino primário. Sendo a educação um dos pilares mais importantes para o desenvolvimento, este factor põe em causa a situação das crianças em Moçambique.
Além disso, tal como defende The Sate of The World’s Children (2009), há o perigo de alguns grupos não estarem a beneficiar do desenvolvimento e da redução da pobreza. As crianças de áreas rurais e as órfãs e vulneráveis, por exemplo, encontram-se sistematicamente em piores condições sócio-económicas que os seus pares de áreas urbanas. Subjacente às muitas disparidades urbano-rurais está a muito baixa densidade populacional nas áreas rurais, o que implica que a prestação de serviços públicos ou de um determinado nível desses serviços é consideravelmente mais dispendiosa em áreas rurais do que em áreas urbanas.
Estas disparidades existentes entre as zonas rurais e urbanas contribuem para o surgimento das principais doenças que, conforme apresenta UNICEF (2006), perigam o desenvolvimento das crianças: malária, infecção respiratória aguda, diarreia, malnutrição, nanismo, deficiências em macro e micronutrientes, insuficiência de peso, HIV/SIDA e  doenças peveníveis por vacinação (difteria, tosse convulsa, tétano, poliomielite, sarampo e tuberculose). Assim, a pobreza na infância pode ter como principais implicações: privação dos direitos básicos, malnutrição crónica, desenvolvimento mental reduzido ou trauma psicológico ao longo da vida. As crianças que vivem na pobreza podem ser privadas de muitos direitos, tais como o direito de sobreviver, de se desenvolver, de participar e de serem protegidas.




II.4.                      COMPARAÇAO DA CRIANÇA AFRICANA E OCIDENTAL
No que respeita ao desenvolvimento, as crianças africanas e europeias apresentam um processo diferenciado. No entanto, é importante referir que esta diferenciação não se centra num atraso ou avanço de um grupo em relação ao outro como tentam apresentar algumas perspectivas privilegiadoras de um grupo, mas sim nas diferenças contextuais, históricas e culturais entre os grupos.
Segundo Mwamwenda (2007), as crianças ocidentais durante o seu nascimento até os três anos de idade dormem em berços, enquanto que os bebés africanos partilham as camas dos seus pais, o que lhes dá calor e presença humana constante ao mesmo tempo que consolida a ligação emocional mãe-bebé, já demonstrada vital para o desenvolvimento das crianças. Devido ao sistema familiar alargado, que predomina em África até hoje, a criança desfruta da atenção da sua mãe e do seu pai, mas também de outros familiares como irmãos, tios e tias, e avós.
Contrariamente, a criança no ocidente, tal como apresentam Freitas e Kuhlman (2002), é percebida pelo que lhe falta, pelas carências que apenas a maturação da idade e da educação lhe poderiam suprir. Assim, ela é percebida como frágil na constituição física, conduta pública e moralidade, por tal deverá ser regulada, adestrada e normalizada para o convívio social.
No que refere a velocidade do desenvolvimento, autores como Geber (1958) citado por Mwamwenda (2007) defendem que as crianças africanas registam um desenvolvimento e crescimento inicial precoces, particularmente na altura do desmame do leite materno. Assim, elas tendem a ser precoces nas áreas enfatizadas por culturas específicas uma vez que recebem muito estímulo social e físico, o que enriquece o seu desenvolvimento.
No geral, a relação afectiva que a criança estabelece com a mãe ou com a pessoa que cuida dela é conhecida como "attachment". À medida que a criança cresce, desenvolve uma ansiedade em relação ao estranho e sentimentos de desconforto na presença de rostos que não lhe são familiares.
Numa primeira fase, a criança manifesta emoções como o choro para expressar sentimentos como zanga, fome e dor e, o sorriso diante de uma cara familiar ou algo que a entretenha.
Mais tarde, a criança começa a rir indicando que esta contente, ou simplesmente imitado outras pessoas que exibam esse comportamento. O medo é também uma das emoções expressas pela criança e pode ser provocado por um ruído intenso, provocação, alturas, falta de apoio ou suporte repentino ou por ter sido deixada para trás por parte da pessoa que toma conta dela, quando se tem de deslocar a outro local.

II.5.                      DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM DA CRIANÇA
De acordo com Sprinthall & Sprinthall (1999), o processo de vínculo afectivo a mãe e a criança enfatizado por Erikson é fundamental para o desenvolvimnto pleno da criança. Este vículo denota-se facilmente na família africana tradicional, onde o papel da mãe é cuidar das crianças ao longo da infância. UNICEF (2002) acrescenta que o contacto físico-emocional transmite um sentimento de segurança e protecção na criança. Como grande parte das mulheres africanas não desenvolvem nenhum trabalho fora de casa, seu tempo é dispensado à educação informal da criança.
Em relação ao tratamento diferenciado para UNICEF (2002), os rapazes e as raparigas têm as mesmas necessidades físicas, mentais, emocionais e sociais pelo que têm a mesma capacidade de aprendizagem, bem como necessidades de afecto, atenção e estima.
Neste sentido, a diferenciação do género em relação ao trabalho que acontece nas famílias tradicionais africanas pode ter como consequência a discriminação da menina, com impacto psicológico negativo nos estágios de confiança vs. Desconfiança e consequentemente na formação da identidade.
De acordo com Save The Children (2007), muitas tradições e práticas sócio-culturais exigem que as crianças sejam passivas, não se expressem, se contenham de criticar os membros idosos e “mais conceituados” da sua família, o que dificulta a afirmação dos seus direitos ao abrigo da lei.

a)      A Aprendizagem da Criança
Relativamente a aprendizagem da criança, UNICEF (2002) afirma que os primeiros 8 anos da infância são de extrema importância pois neste período as crianças aprendem mais rápido que em qualquer outro período. Os bebés e as crianças pequenas desenvolvem-se mais rapidamente e aprendem mais depressa quando recebem amor, afecto, atenção, incentivo e estímulo mental, bem como refeições nutritivas e bons cuidados de saúde.
Assim, os que cuidam das criancas deve ser pacientes e ajudá-la nas suas tarefas. Para Noam Chomsky citado por Sprinthall & Sprinthall (1999), o factor que mais influencia na aprendizagem é a linguagem. Assim, a aprendizagem da língua materna pode ajudar a desenvolver as capacidades de pensar e de se expressar na criança. Tendo em conta as observações de Airhihenbuwa (2007) em relação a elasticidade da linguagem, a linguagem devidamente contextualizada pode constituir importante ferramenta para o desenvolvimento pleno da criança.


b)     Criança e Família
Tal como observa Silva e Costa (2005), o individuo é um ser gregário por excelência. Ao nascer, a criança pertence à uma família com a qual estabelece ligação biológica e a posterior, é incluída no grupo de parentesco de seu pai ou mãe, conforme a regra de filiação seja matrilinear ou patrilinear.
A matrilineardade e patrilineardade são critérios de pertença a um grupo mas o facto de pertencer a um determinado não significa que os outros não sejam importantes. Tanto os parentes patrilineares ou matrilineares têm um papel importante na estruturação do grupo de parentesco do ego.
Por exemplo, na perspectiva de Batalha (2005), nos grupos patrilineares a responsabilidade social em relação a criança cabe normalmente ao pai ou ao irmão mais velho enquanto nas matrilineareares cabe a mãe ou aos tios irmãos da mãe.
Na perspectiva de P.I.M.E. (2009), criança é educada de acordo com as normas, atitudes e condutas da cultura ou grupo de pertença. Portanto, a herança cultural é transmitida mediante mecanismos de socialização e endoculturação. É a interação do indivíduo com a sociedade e a cultura que determinam a formação da maior parte dos seus modelos de conduta e até mesmo das suas respostas afectivas mais profundas. Na medida que a criança vai crescendo começa a comportar-se bioculturalmente, abandonando os aspectos puramente biológicos do seu comportamento e aceitando valores culturais.
Mwamwenda acrescenta ainda que criança educada em África, vai aprender os hábitos e costumes africanos interiorizando-os como se fossem naturais, daí que qualquer questionamento à estes não lhe serão adequados. Ao intervir nestas comunidades com vista a percepção ou eliminação de um hábito não favorável ao pleno desenvolvimento, deve-se entender a lógica da comunidade e incentivar a participação para solucionar o problema. Muitas intervenções comunitárias têm falhado provavelmente porque não respeitam este pressuposto.

c)      Cuidados para com as crianças
Para UNICEF (2002), a figura de pai, mãe e dos outros membros da família precisam estar envolvidas na educação da criança. Ao se dar uma tarefa a criança deve-se explicar claramente o que elas devem fazer com base em regras firmes do que elas não devem fazer, e elogiando os bons comportamentos de modo a tornar a criança um membro efectivo, íntegro e produtivo da comunidade e da família. Quando a criança não está a crescer bem, fisica ou mentalmente, recomenda-se que os pais procurarem aconselhamento junto de um técnico de saúde ou psicólogo.
A criança deve tomar as vacinas todas na devida altura pois esta, acompanhada de uma nutrição adequada, aumenta as chances de sobreviver. Como apresenta a Convenção sobre os Direitos da Criança (2006), todas crianças têm direito a registo legal à nascença, a cuidados da saúde, a uma boa nutrição, a educação, a proteção contra maus tratos, abuso e discriminação. É obrigação dos pais e dos governos assegurarem que que estes direitos sejam respeitados, protegidos e cumpridos.
Assim, desde os primeiros dias de vida devemos ter em conta aquilo que favorece o equilíbrio nervoso da criança e que respeite o dinamismo que lhe é próprio. As primeiras tarefas educativas dizem respeito ao estabelecimento de um regime diário adequado às necessidades de cada criança e, ao mesmo tempo, compatível com as  possibilidades materiais do seu meio de vida.
À todos aqueles que educam as crianças exige-se uma certa regularidade e estabilidade nas suas condutas para com a criança. É necessário educar a criança numa atmosfera calma e regular.
Lezine (1982) acrescenta que a criança é muito sensivel às influências ambientais e, ainda que não compreenda aquilo de que falam os adultos, percebe muito bem o tom e a disposição daqueles que a rodeiam e reage em conformidade, quer por caprichos incompreensíveis quer por reações de oposição e de récuo perante situações novas.
As passagens rápidas de uma situação para outra, bem como as variações de humor inopinadas, traduzem-se imediatamente por rupturas de equilíbrio nas reações da criança e criam uma confusão mais ou menos duradoura. A harmonia dos pontos de vista das pessoas que intervêm na educação das crianças tem uma importância enorme. Educar a criança num regime estável e corrente não equivale a preconizar o uso de princípios estritos e sistemáticos, por isso é necessário aprender a dosear progressivamente as intervenções na criança, sem nos colocarmos em contradição com os hábitos antes estabelecidos, antes alargando-os e enriquecendo-os no momento oportuno.

d)     A Criança Como Reprodutor De Conhecimento, Identidade E Cultura
Segundo Dahberg e Pence (2003), na construção da criança como um reprodutor de conhecimento, identidade e cultura, ela é entendida como iniciando a vida a partir do nada, ou seja como uma tábula rasa por isso, durante a primeira infância, a criança precisa ser equipada com os conhecimentos, com as habilidades e com os valores culturais dominantes que já estão determinados, socialmente sancionados e prontos para serem administrados. Isto vai de encontro ao que Erikson considerava de influência da mãe para a criança iniciar a definição do mundo como bom ou mau. Em África, existem regras estáveis em cada grupo cultural sobre como o indivíduo deve se portar e guiar a sua aprendizagem.
Para Mwamwenda (2007), a análise do desenvolvimento emocional da criança envolve a compreensão da criança, da sua cultura e o controlo das suas emoções. Tanto a família da criança como os professores pré-escolares sete aos dez/doze anos de idade (designada por Erikson Diligência versus Inferioridade). Nesta fase, o indivíduo passa para a etapa de socialização escolar, onde um dos objectivos é alargar o processo de socialização iniciado na família.
Tradicionalmente, quando atingem os cinco e seis anos, tanto os rapazes como as raparigas, começam a envolver-se em actividades que se relacionam exclusivamente com o seu próprio sexo. Para crianças que não tem acesso a escola estas actividades podem constituir uma importante ferramenta de aprendizagem de habilidades e conhecimentos.

e)      A Criança e o Desenvolvimento psicossocial
Segundo Save The Children (s/d), as políticas e práticas que ignoram as necessidades, os direitos e os interesses da criança provocam um impacto negativo na sociedade uma vez que: (i) solapam as possibilidades para o futuro; (ii) ignoram um sector significativo da população actual; e (iii) desenvolvem intervenções condenadas a fracassar ou a resultados indesejados.
Segundo Goetghebuer e Bosteels (2008) toda a criança tem necessidades emocionais básicas como: amor, afecto, aceitação, respeito próprio, desempenho, urgência/priorização, independência, reconhecimento e apreciação, autoridade e disciplina. Assim, é necessario criar um ambiente protector livre de pobreza, conflitos armados e o HIV/SIDA.

f)       Papel do Psicólogo no Desenvolvimento da Criança em África
§    Intervir de forma interdisciplinar tendo em conta a lógica do contexto da criança;
§    Estimular o desencadeamento natural dos estágios de Erikson a luz dos valores africanos;
§    Orientar a participação da família, escola e comunidade no desenvolvimento da confiança, esperança, autonomia, vontade, habilidade, competência e identidade da criança respeitando os valores da comunidade;
§    Promover o respeito pelos direitos da criança, demonstrando a vantagem de ser ter acesso aos serviços primordiais para o desenvolvimento saudável;
§    Promover o diálogo comunitário com vista a identificar estratégias para o desenvolvimento normal dentro de contexto economicamente desfavoráveis.
§    Fazer um acompanhamento do desenvolvimento da criança com vista a evitar a incidência dos pólos negativos;
§    Identificar crianças com necessidades educativas especiais e dar a orientação adequada ensinando a comunidade a lidar com ela adequadamente.


III.             CONCLUSÃO
Após a elaboração do presente trabalho, o grupo retirou as ilações que abaixo irá apresentar.
O conceito criança suscita diversas percepções consoante o espaço, o tempo e a área de estudo. Moçambique particularmente define este conceito de formas diferente tratando-se de Código Penal, Criminal, Civil ou Lei de Protecção das Crianças. Contudo, em Psicologia este termo pode ser entendido como subjectiva e variavelmente, a incapacidade biológica, social e psicológica de realizar determinado tipo de actividades classificadas psicológica, sociológica e/ou legalmente como sendo de adultos.
Nas tradições africanas, o ser criança é avaliado consoante a idade social e o porte físico (puberdade, menstruação e outros sinais) que ditam a participação ou não nos ritos tradicionais e nas actividades definidas para adultos.
Assim, ao analisar o constructo criança deve-se evitar privilegiar certos grupos como sendo mais saudáveis ou propensos ao desenvolvimento como apontam vários autores. As diferenças no desenvolvimento devem ser tidas como fruto de contexto culturais e históricos diferentes e que devem ser potencializados com vista a uma educação saudável dentro das limitações económicas de África.
Os mitos, ritos, crenças africanas podem servir de base para elaboração de teorias para facilitar o desenvolvimento pleno da criança africana dentro de um contexto de pobreza e com poucos recursos para produção científica. Modelos ocidentais não podem ser usados sem contextualização para resolver problemas no desenvolvimento africano. A divisão de tarefas em África pode ser aproveitada para produzir mais alimentos com vista a melhorar aspectos como nutrição e saúde e criar modelos de educação formal próprios da comunidade.
No entanto, Erikson deu um importante contributo ao desenhar um modelo geral sob o qual o desenvolvimento infantil pode se dar. Com base neste modelo, os educadores devem promover a confiança, autonomia, a iniciativa e a diligência, alicerçada aos direitos da criança estabelecidos pela Convenção das Nações Unidas e as leis internas, âncorados nas formas africanas de produzir conhecimentos.

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